As detenções de 11 bombeiros do Fundão, feitas esta terça-feira (25 de novembro), deixaram "tristes" todos os operacionais do país. Quem o diz é António Nunes, presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP), que ao DN condena de "forma veemente" o caso. "Qualquer ato indigno para a pessoa humana, seja eu quem for, merece a nossa condenação e a condenação de todos os cidadãos", diz.Ainda assim, o responsável ressalva que até ao momento "não se sabe exatamente o que aconteceu, não há um esclarecimento cabal" e que, por isso, "o princípio da presunção de inocência deve ser respeitado".António Nunes esclarece que o caso, que motivou a detenção de 11 operacionais da corporação de Bombeiros Voluntários do Fundão após uma denúncia da vítima que, alegamente sofreu abusos sexuais, é "isolado e circunscrito" e não há memória "de que possam ter acontecido coisas deste género noutros locais".O cenário torna-se "ainda mais complexo" se se tiver em conta que "muitos daqueles homens que são presumíveis infratores, estiveram há bem pouco tempo na luta contra os incêndios a defender a vida humana". Isto representa "um certo paradoxo".De acordo com a Polícia Judiciária (PJ), os 11 suspeitos são acusados de dois crimes de violação e um de coação sexual. Os ilícitos terão sido praticados "em duas ocasiões distintas, dentro do quartel do Fundão e de Soalheira", uma vila do concelho beirão. Estes dois casos terão acontecido, segundo a PJ, durante uma "duvidosa praxe" ao jovem de 19 anos, nos seus "dois primeiros serviços"..11 bombeiros voluntários do Fundão detidos por suspeita de abusos sexuais em "duvidosa praxe".António Nunes recusa o rótulo, dizendo que "nunca" ouviu chamar praxes a este tipo de atos. "As únicas praxes que conheço nos bombeiros, são, por exemplo, quando um bombeiro sai de uma recruta e passa a bombeiro de terceira classe. No átrio, na parada do quartel, é molhado com a mangueira de uma das viaturas num simbolismo de integrar o seu corpo de bombeiros. Conheço a prática corrente de que, quando se impõe umas divisas ou uns galões numa promoção, se bater com mais força nos ombros. Tirando isto, nunca ouvi falar nesse tipo de praxe, nem se pode considerar praxe. Há atos simbólicos, mas não pode haver atitudes indignas ou que condicionem a dignidade humana."Destacando mais uma vez que "há que respeitar a presunção de inocência", o presidente da LBP refere que a instituição que lidera "diz de frontalmente que não está de acordo com o que se passou". Entretanto, os 11 bombeiros foram ouvidos em tribunal, tendo-lhes sido imposto termo de identidade e residência, apresentação periódica semanal às autoridades e ainda ficaram proibidos de contactar entre si. De entre os detidos, cinco ficaram proibidos de aceder ao quartel."A imagem negativa está dada"Questionado ainda sobre o eventual impacto que o caso pode ter na imagem dos bombeiros a nível nacional e se vai ou não afetar o recrutamento de novos operacionais, António Nunes é claro: "A imagem negativa está dada. Mas o mote tem de ser que, enquanto isto aconteceu, houve milhares de bombeiros a salvar vidas em Portugal."O presidente da Liga de Bombeiros Portugueses reitera que esta "circunstância excecional, circunscrita a uma determinada atitude errada, seja muito ou pouco violenta". Por isso há que "apurar as responsabilidades" e cabe ao comandante do corpo de bombeiros "averiguar se foram ultrapassados os limites, como parece que aconteceu, pelo que tem sido transmitido, e atuar para que, de forma exemplar, se perceba que estar nos bombeiros é estar a favor das comunidades e da defesa das vidas pessoas e dos bens". Tudo porque "casos esporádicos de mau comportamento há nos bombeiros como há nas outras forças de segurança e nas forças militares", diz António Nunes.Citado pela Lusa, José Sousa, comandante dos Bombeiros Voluntários do Fundão, afirmou que os bombeiros em causa vão ser alvo de um processo de inquérito interno. “Internamente, aquilo que se está a fazer, neste momento, é um processo de inquérito. Vamos averiguar se há motivo para uma ação disciplinar. Externamente, as autoridades competentes estão a ouvir os intervenientes", afirmou o responsável.