Bojador. Megalancha da GNR já foi desencalhada em Carcavelos

A nova lancha da GNR que encalhou na praia de Carcavelos esta tarde já está a caminho do porto de Lisboa. A Bojador terá sofrido danos, mas o balanço ainda será feito nos próximos dias. Causa do incidente será apurada num inquérito.

A nova lancha da GNR, Bojador, que encalhou esta tarde na praia de Carcavelos, já foi desencalhada, cerca das 22.20, com a ajuda de um rebocador e aproveitando a preia mar, apurou o DN junto de fonte oficial do comando-geral da GNR.

A embarcação desencalhada já se encontra a caminho do porto de Lisboa. Segundo o porta voz do comando, não foi necessário aguardar pela altura máxima da preia mar, prevista para a meia noite.

Ao que o DN apurou, a lancha terá sofrido danos, mas o porta voz diz ser ainda "prematuro" avançar com esse balanço, que será efetuado nos próximos dias.

Na manhã desta quinta-feira, a GNR veio, entretanto garantir que "não foram identificados danos estruturais na embarcação, pelo que, após subida da maré, e ainda antes de se atingir a preia-mar, foi conseguida a estabilização da embarcação, tendo sido possível retirá-la em segurança".

A GNR agradece ainda o apoio da Direção Geral da Autoridade Marítima, Capitanias do Porto de Lisboa e Cascais, Bombeiros Voluntários da Parede, Instituto de Socorros a Náufragos e uma Empresa de Reboque Marítimo.

Ainda assim, acrescenta este comunicado, "haverá agora lugar a uma avaliação do estado da embarcação bem como, conforme já divulgado no dia de ontem, será instaurado o necessário inquérito para apuramento das causas e circunstâncias da situação em apreço".

A lancha Bojador encalhou por volta das 14.30, na praia de Carcavelos..

"A lancha de Patrulhamento Costeiro - Bojador, na sequência de uma ação de patrulha, pelas 14H30, encalhou na zona da praia de Carcavelos sendo nesta fase prematuro avançar com as causas da ocorrência. Para esse efeito será instaurado o necessário inquérito para apuramento das causas e circunstâncias da situação em apreço. Nesta fase a Guarda, em estreita articulação com as entidades competentes, nomeadamente com o Capitão do Porto de Lisboa, está a diligenciar para a realização de manobras para garantir a retirada em segurança da embarcação daquele local, aguardando-se a hora da preia-mar", informou o comando-geral da GNR, na quarta-feira.

A "Bojador", a maior lancha alguma vez comprada pela GNR (35 metro de comprimento), fez a sua viagem inaugural em maio passado, numa cerimónia oficial. Na altura o ministro da Administração Interna disse que o novo navio significa "um reforço decisivo do papel da GNR como guarda costeira, permitindo uma capacidade de vigilância costeira com grande autonomia, até 1500 milhas".

A megalancha com capacidade de navegar em alto mar como as da Marinha, tem estado neste período em testes e formação à tripulação.

Segundo adiantou na altura o comando-geral da GNR a integração desta megalancha "na atividade operacional vem materializar uma necessidade da Guarda em adquirir uma lancha de maiores dimensões, com acrescida capacidade de navegação, constituindo-se como um complemento importante do Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Controlo (SIVICC), e bem assim para os Centros de Coordenação Internacional do Sistema Europeu de Vigilância das Fronteiras (EUROSUR), sendo ainda objetivo a sua participação em missões da Guarda Europeia de Fronteiras e Costeira (FRONTEX)".

A "Bojador" custou 8 485 770 euros e é a primeira de um lote de quatro (as outras três de menor dimensão) que terão um custo de mais 2,2 milhões de euros, financiadas a 75% por fundos europeus.

A aquisição desta embarcação aprovada em Conselho de Ministros em 2018, maior que qualquer lancha rápida da Marinha não foi, porém, bem aceite no setor da Defesa e deixou a Marinha em estado de sítio. Conforme o DN noticiou, vários antigos chefes do Ramo protestaram, manifestando a sua indignação por aquilo a que chamam "duplicação de meios" e pelos "custos acrescidos", contrariados por outras figuras que defendem o reforço da GNR.

O ex-Chefe de Estado-Maior da Armada, Melo Gomes, salientou que se estava "a criar uma duplicação de capacidades que vai custar muito mais ao erário público", lamentando "a experiência dos 700 anos da Marinha" estivesse a ser "desprezada".

Contactado pela DN para comentar o sucedido, Melo Gomes responde assim: "Em primeiro lugar lamento o sucedido. Mas lamento sobretudo por a tutela política não ter prestado atenção aos sucessivos avisos feitos pelas mais diversas personalidades e sobretudo as que escreveram uma carta a alertar para este desperdício de recursos, não reconhecendo a justeza das palavras dos que avisaram que navegar implica conhecimento, treino e tradição - que a Marinha tem há mais de 700 anos a prestar serviço aos portugueses no mar."

Quando a polémica estava ao rubro, foi o próprio ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, a sair em defesa da Marinha. Num artigo de opinião publicado no DN, Cravinho subscreveu o principal argumento que tinha sido usado por diversos oficiais generais do Ramo para contestar a aquisição da Guarda - o chamado conceito de "duplo uso".

Também sete ex-Chefes de Estado-Maior da Armada (CEMA) , Almirantes Melo Gomes, Macieira Fragoso, Saldanha Lopes, Cruz Vilaça, Ribeiro Pacheco, Mendes Cabeçadas e Fuzeta da Ponte - os dois últimos igualmente antigos Chefes de Estado-Maior-General das Forças Armadas - subscreveram uma carta aberta que tinha à cabeça a assinatura do político e académico Adriano Moreira, a alertar contra a "deriva" marítima da GNR, da responsabilidade do ministério da Administração Interna (MAI).

O texto, que contava também com a assinatura do histórico da Banca Artur Santos Silva e do professor universitário Viriato Soromenho Marques, membro da Academia da Marinha, salienta que apesar de a legislação assegurar o duplo-uso da ação no mar deste Ramo das Forças Armadas, quer na defesa da área marítima, quer no apoio às forças e serviços de segurança, com destaque para a Polícia Judiciária, "este modelo de atuação, que tem séculos de inestimáveis serviços prestados a Portugal, tem vindo a ser posto em causa" pelo MAI.

A "deriva", era assinalado, "foi patente" primeiro com a criação da Unidade de Controlo Costeiro da GNR, "importando diretamente modelos de Espanha (Guardia Civil) e de Itália (Guardia Costiera e Guardia e Finanza) (...) "desajustados à nossa realidade"; agravando-se com a "edificação" do Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Controlo (SIVICC), do qual, afirmavam os signatários, a Marinha foi totalmente afastada, sem que exista sequer troca de informação entre o Ramo e a GNR.

Mas a gota de água para esta carta pública avançar foi mesmo aquisição pela GNR da megalancha Bojador.

"Foi sem surpresa, mas com indignação, que numa situação de gravíssima crise social, económica e financeira em que a Marinha tem vindo a sofrer, em paralelo com a sociedade, reduções nunca vistas nos recursos financeiros, humanos e materiais disponibilizados, a UCC alarga o seu modelo de atuação ao alto mar, contratando em menos de um ano, no estrangeiro, a construção de um navio por mais de oito milhões de euros sem sequer procurar compatibilizar requisitos operacionais com a Marinha", sublinhavam os Almirantes, Adriano Moreira, Artur Santos Silva e Viriato Soromenho Marques.

"É o navio adequado à missão da UCC? Quanto custa a operação e a manutenção ao longo da vida e onde será feita? (...) Não há melhor rentabilidade e eficiência em despender recursos na tão necessária modernização dos meios da Marinha e da Autoridade Marítima Nacional? A própria GNR não terá outras prioridades mais atinentes à sua vocação e imprescindível serviço, em vez de alargar a sua ambição ao domínio do Mar, onde não tem experiência, nem o conhecimento que 700 anos e serviço conferiram à Marinha? Alguém estudou o assunto?", era questionado.

atualizado às 11h45 com a informação da GNR de que a Bojador não terá sofrido danos estruturais

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