Boca coberta de sangue e dente partido. Irma denuncia violência da PSP contra irmão nos festejos do Sporting
A cantora Irma denunciou, através das redes sociais, a agressão de que o irmão terá sido alvo por parte da Polícia de Segurança Pública durante os festejos do título do Sporting, na madrugada de sábado para domingo.
A artista publicou uma imagem na qual é possível ver o jovem com a boca coberta de sangue e um dente partido.
Irma reproduziu, na publicação, as mensagens trocadas com o irmão, de 25 anos, nas quais este relata a atuação policial. "À medida que o autocarro se aproximava de nós, o corpo de intervenção também avançava, mantendo sempre uma distância, mas evitando que os adeptos chegassem perto do autocarro. E eu como estava na fila da frente, do nada levei um kick [pontapé] na barriga e assim que caio ao chão levo com uma bastonada na boca, e aí começaram a cair em cima de mim com imensos pontapés no tronco. Acabo por me levantar e levo logo um tiro com uma bala de borracha no peito, e foi nessa altura que senti a minha boca muito molhada, com as mãos e a camisola cheia de sangue", pode ler-se.
“O meu irmão foi festejar a vitória do Sporting e foi espancado pelo corpo de intervenção sem qualquer razão”, escreveu Irma.
“O Marcelo, rapaz negro, de 25 anos, levou com o bastão de um polícia na boca, rebentaram-lhe o lábio, arrancaram-lhe um dente (por acaso acertaram na boca porque se tivessem acertado no olho estaria cego como o rapaz que estava ao lado dele ficou) e ainda lhe deram um tiro de borracha no peito”, prosseguiu, sublinhando que é “muito difícil de compreender” que a “segurança pública” seja alicerçada com “violência”, chegando até a sugerir uma associação entre a violência policial e a ascensão da extrema-direita.
"Estamos a tentar encontrar luz onde não existe porque o mundo está mesmo virado do avesso mas temos que chamar as coisas pelos nomes. Existem pessoas boas e existem pessoas más; existem pessoas a tentar salvar o mundo e existem fachos. Estou com muito medo e acho que estamos a caminhar para que não precisemos de um final de campeonato para isto acontecer todos os dias", afirmou.
A PSP anunciou esta terça-feira a instauração de um inquérito aos polícias envolvidos na operação na Praça do Saldanha, em Lisboa, para “repor a ordem pública" após arremessos de artigos de pirotecnia nos festejos do Sporting que causaram alguns feridos.
Numa resposta à agência Lusa, a Direção Nacional da PSP referiu que o objetivo do inquérito é "apurar as circunstâncias em que tal intervenção ocorreu".
“Lamentavelmente, a PSP teve conhecimento de ferimentos em cidadãos, aos quais foi prestado todo o auxílio, contactando de imediato o INEM para prestação de socorro especializado e apoio médico”, lamentou.
Segundo o jornal Record, um adepto do Sporting foi atingido por uma bala de borracha e ficou sem um olho, uma situação que não foi confirmada pela polícia.
Conforme já comunicado à imprensa no final da operação relacionada com os festejos do final do campeonato de futebol em todo o país, com especial incidência em Lisboa e Braga, a PSP diz que a ação “decorreu de forma globalmente tranquila, positiva e serena”, adiantando, contudo, que se registaram "algumas ocorrências pontuais”, que lamentou.
Numa dessas situações, sublinhou, “impôs-se a intervenção da Unidade Especial de Polícia da PSP, devido ao arremesso de artigos de pirotecnia (baterias de fogo de artifício) na direção dos polícias, tendo havido necessidade de utilização de meios coercivos por parte da PSP, incluindo o emprego de arma antimotim com recurso a bagos de borracha”.
Relativamente à resolução destas ocorrências, a PSP referiu que, além do apoio e auxílio prestados, foram também identificados os feridos e os factos foram comunicados ao Ministério Público.
“Quanto aos polícias intervenientes na reposição da ordem pública na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, foi determinada a instauração de processo de inquérito, na PSP, para apurar as circunstâncias em que tal intervenção ocorreu”, salientou.