Uma chávena com pires destinada à Infanta Dona Isabel Maria, filha do rei D. João VI, e que foi das primeiras peças conhecidas produzidas pela fábrica da Vista Alegre, entre 1827 e 1828, é um dos grandes destaques do leilão que a marca está a realizar online e que vai culminar este sábado à tarde no Teatro da Vista Alegre, onde estão patentes todas as peças. Ao todo são 136, raras e representativas de várias tendências e épocas da marca, que está a celebrar 200 anos..Passados 13 anos desde que a marca realizou o último leilão, surge então esta nova oportunidade para adquirir relíquias produzidas pela Real Fábrica, fundada por José Ferreira Pinto Basto. Peças que se destacaram pela sua antiguidade, raridade e relevância das cerca de mil candidaturas que chegaram à Vista Alegre. “Nós, provavelmente, também vamos comprar uma ou outra”, admite ao DN Nuno Barra, administrador da Vista Alegre, sem esconder que estão “de olho em algumas”..Mas, já diz o ditado, o segredo é a alma do negócio, pelo que o responsável não abre o jogo. Só admite que contam vender cerca de 90% das peças apresentadas a leilão e realça o valor de alguns exemplares..A tal chávena com pires da “primeira fornada em grande” da fábrica é um desses casos. Porcelana moldada, decorada a ouro sobre fundo rosa, apresenta três medalhões policromados contendo figuras alegóricas, tendo o central a legenda: “D. Izabel Maria”. Estima-se que possa chegar 18.750 euros. “Só existem duas. Esta e outra, que está no Museu Nacional de Arte Antiga”, realça Nuno Barra, explicando que a que está a leilão estava nas mãos de um colecionador desde 2016..Só há duas chávenas com pires destas: uma está no Museu de Arte Antiga; a outra é esta, que poderá valer mais de 18 mil euros no leilão. FOTO DR.Peça emblemática da Vista Alegre, a escultura de flamingos de Carlos Calisto, que fez parte de uma série limitada e numerada de 100 exemplares, lançada em 1974, custava então 20 mil escudos, qualquer coisa como 100 euros. Deverá ser agora licitada por um valor entre os 5000 e os 7500 euros..Esta escultura data de 1974, quando podia ser comprada por um valor que equivaleria agora a 100 euros. FOTO DR.Já o casal de perdizes também executado por Carlos Calisto faz parte de uma série numerada de 150 unidades lançada em 1968. Na época, esta escultura custava 10 mil escudos, o que equivaleria agora a 50 euros, e neste leilão poderá ser licitada por um valor entre os 12 mil e os 18 mil euros..O casal de perdizes lançado em 1968 poderá ser licitada por um valor entre os 12 mil e os 18 mil euros. FOTO DR.Pratos, terrinas, bules, cafeteiras, vasos, centros de mesa, paliteiros e muitas esculturas, uma delas a representar o fundador da Vista Alegre, integram este leilão realizado em parceria com a Cabral Moncada Leilões. As 136 peças podem ser vistas no site oficial da iniciativa, mas também no Teatro da Vista Alegre, em Ílhavo, onde decorrerá o leilão. Na mesma cidade é possível ver outras exposições organizadas no âmbito do bicentenário: Vozes da Fábrica – Vista Alegre e as suas gentes, no Museu Vista Alegre, e Alegorias do Mar na Cerâmica da Vista Alegre, que reúne no Museu Marítimo um conjunto de peças inspiradas no mar e produzidas entre 1869 e 1950. Para o final do próximo mês está prevista uma mostra maior, no Palácio da Ajuda, em Lisboa..Fundada em 1824, Ílhavo, a Vista Alegre manteve-se nestes 200 anos associada à história e à vida cultural portuguesa, tendo adquirido notoriedade internacional. Os serviços da fábrica de porcelana são usados oficialmente pela Presidência da República, pela Casa Branca, por várias Casas Reais e embaixadas. A marca tem criações assinadas por nomes conhecidos do design contemporâneo, da pintura, escultura, arquitetura, literatura e outras formas de arte, entre os quais Siza Vieira, Joana Vasconcelos, Patrick Norguet, Ross Lovegrove, Marcel Wanders, Jaime Hayon, Malangatana, Sam Baron, Claudia Schiffer, a marca francesa Christian Lacroix e a insígnia Oscar de la Renta. As iniciativas de celebração dos 200 anos deverão prologar-se até julho de 2025.