Tem escrito muito sobre a escravatura e sobre as polémicas à volta da história da escravatura. Porque é que a abolição da escravatura pelo Marquês de Pombal em Portugal continental e nos Açores e na Madeira, logo no século XVIII - portanto, antes do abolicionismo estar em força -, é tão pouco valorizada?
Abole, mas ainda de uma forma gradual. Eram as chamadas leis do ventre livre. Os que eram escravos não se tornavam livres, mas os filhos dos escravos seriam livres ao fim de um determinado período, quando chegassem à maioridade. Foi um sistema depois usado massivamente nos Estados Unidos. Isso é tão pouco referido porque não teve uma frequência imediata, ao contrário do que aconteceu com o abolicionismo inglês que persistiu na sua tentativa de abolir. Os ingleses aboliram o tráfico em 1807 e a escravidão em 1833. As medidas do Marquês de Pombal foram muito circunscritas, resumiam-se ao território de Portugal e tiveram um hiato imenso, não houve mais tentativas a não ser em 1836 quando há uma proposta de Morais Sarmento nas cortes, mas não foi adiante. Depois, houve a proposta do Marquês de Sá da Bandeira em meados do século XIX, mas Portugal acaba por abolir a escravatura só 100 anos depois da medida do Marquês de Pombal.