A primeira ambulância de suporte imediato de vida a chegar junto do utente que morreu por atraso no socorro em 4 de novembro do ano passado demorou uma hora e 26 minutos, fora da janela de oportunidade para fazer uma angioplastia coronária, revela o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), citado pela Lusa.Segundo o documento, a morte do utente, por enfarte agudo do miocárdio quando decorreu uma greve no INEM, poderia ter sido evitada caso tivesse havido um socorro, num tempo mínimo e razoável, que tornasse possível o transporte da vítima através de uma Via Verde Coronária para um dos hospitais mais próximos, onde poderia ser submetido a angioplastia coronária.Especialistas ouvidos pela IGAS explicaram que esse procedimento deve ser realizado num período máximo de 120 minutos desde o primeiro sintoma, o que significa que o tempo de chegada do primeiro meio diferenciado esgotou essa janela de oportunidade..IGAS confirma uma morte por falha no socorro durante a greve no INEM. Vínculo laboral de médico em causa. Se esse primeiro meio especializado chegou uma hora e 26 minutos depois da primeira chamada para o 112, que demorou 10 minutos a ser atendida, o segundo meio diferenciado enviado (Viatura Médica de Emergência e Reanimação de Leiria) chegou ao local uma hora e 50 minutos depois.A IGAS conclui que o comportamento da técnica de emergência pré-hospitalar do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) de Coimbra é censurável porque "não usou da diligência e zelo que o caso exigia", tendo em conta que se tratava de um caso de extrema gravidade e que as boas práticas da emergência médica tornavam obrigatória a máxima urgência na triagem e despacho dos meios, o que a inspeção-geral entende que não aconteceu..IL vai propor comissão de inquérito à gestão do INEM. A IGAS apontou ainda o dedo ao médico regulador do CODU Coimbra, por não ter diligenciado "pelo acionamento de um meio de emergência mais diferenciado, ou seja, da VMER, atenta a gravidade da situação clínica", um "comportamento omissivo" que a inspeção considera "censurável do ponto de vista jurídico-disciplinar"."O que sobressai com nitidez deste comportamento profissional é, mais do que tudo, um certo desconhecimento do que é a dinâmica da Emergência Médica", indica a IGAS."O que é mais claro neste quadro comportamental é o total desprendimento, quiçá alheamento, dos deveres funcionais de um médico regulador. E isso é reprovável a todos os títulos", acrescenta a inspeção-geral..IGAS confirma morte por falhas no cuidado prestado a utente durante greve do INEM. A IGAS vinca que, tendo em conta que o médico está credenciado e autorizado pela Ordem dos Médicos para exercer a atividade clínica nos cuidados primários de saúde, em meio hospitalar e no INEM, deveria ter conhecimento suficiente e adequado de que a vítima, caso fosse socorrida em tempo apropriado, poderia ser referenciada para a Via Verde Coronária de um dos hospitais da região.A inspeção-geral considera "revelador de ineficiências" e "juridicamente censurável" a demora no atendimento entre a chamada para a Linha 112 e o acionamento da Ambulância SIV de Pombal e da VMER de Leiria, adiantando que é possível imputar a prática de um "comportamento desviante, passível de responsabilização disciplinar" tanto à técnica de emergência pré-hospitalar do CODU de Coimbra como ao médico regulador. "Ambos agiram com falta de zelo, de cuidado e de diligência, não atuando segundo as boas práticas da emergência médica, que decorrem da própria Lei Orgânica do INEM", acusa..IGAS arquiva inquérito sobre morte de homem durante greve do INEM. "Desfecho fatal inevitável". Depois de conhecidas as conclusões da IGAS, o INEM anunciou que vai abrir um processo disciplinar à técnica de emergência pré-hospitalar para "aclarar a situação e tomar as medidas proporcionais".Este caso a um dia em que decorreram, em simultâneo, duas greves: uma dos técnicos de emergência pré-hospitalar às horas extraordinárias e outra da administração pública.A IGAS abriu vários inquéritos para apurar a eventual relação entre 12 mortes e os supostos atrasos no atendimento do CODU do INEM. Em dois casos o processo foi arquivado, mas neste caso foi provada a relação entre a morte do utente e o atraso no socorro..Inquérito a mortes suspeitas por atraso no socorro do INEM ainda sem conclusão da Inspeção-Geral da Saúde