O baterista Aliu Baio foi um dos consultores a ajudar na construção da aplicação Guia-NOS.
O baterista Aliu Baio foi um dos consultores a ajudar na construção da aplicação Guia-NOS.Gerardo Santos

Aliu Baio, o baterista cego que ajuda o NOS Alive a dar um 'show' de inclusão

Esta edição do festival estreia uma aplicação móvel que alia a tecnologia 5G à IA para que pessoas cegas possam assistir aos concertos. Músico guineense participou com 'feedback' à equipa de criação.
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Aos 30 anos de idade, Aliu Baio vai participar no seu... "já nem me lembro bem quando foi o meu primeiro festival, não sei a quantos fui", conta ao DN durante uma conversa descontraída no recinto do NOS Alive.

Não recorda ao certo de qual terá sido o primeiro, mas sabe que deve fazer "uns seis ou sete anos". Assume que gosta de festivais por serem "um ambiente de convivência, em que vão muitas bandas, há uma diversidade musical".

Desde então, Aliu tem sido espetador assíduo de festivais, concertos e qualquer outra iniciativa que envolva a música e as artes, o que faz todo o sentido. Este jovem guineense é músico ele próprio, baterista, mais especificamente, e também se dedica ao teatro.

Cresceu a ouvir Green Day, Led Zeppelin, mas as suas referências atuais vêm muito do jazz, embora afirme que, hoje, não possui um estilo definido. "Antes de começar a estudar jazz tinha um estilo muito rock. Mas depois disso, comecei a ver a música de outra forma. Se eu gostar, gostei", explica.

De facto, Aliu vê a música, e tudo o mais, de outras formas. Nasceu cego de um olho e um acidente na infância afetou o resto da visão que lhe restava. Para conseguir ver, mune-se dos outros sentidos e de recursos que a tecnologia fornece.

O contacto com a tecnologia fez-se de modo ainda mais intenso ao longo dos últimos meses, quando Aliu passou a ser uma espécie de consultor à equipa de inovação da NOS no desenvolvimento de uma aplicação móvel para melhorar a experiência de pessoas cegas durante festivais.

Aliu Baio vai testar a aplicação Guia-NOS durante o concerto dos Muse.
Aliu Baio vai testar a aplicação Guia-NOS durante o concerto dos Muse.Gerardo Santos

A app Guia-NOS combina a tecnologia 5G com recursos de Inteligência Artificial para oferecer audiodescrição em tempo real dos concertos do palco principal do NOS Alive, incluindo ainda uma funcionalidade que converte em áudio aquilo que é captado em vídeo pela câmara do telemóvel, também respondendo a perguntas feitas pelo utilizador.

Ao apontar a câmara para o ambiente envolvente, a aplicação descreve, em tempo real, o que a inteligência artificial reconhece, que podem ser, por exemplo, pessoas, espaços, cores e objetos.

"Utilizamos uma das tecnologias mais conhecidas atualmente, as LLM, que é o que está por trás do ChatGPT, com uma feature por cima que é visual. É um modelo desse tipo, de visão com linguagem natural, em tempo real, que corremos numa cloud", explica a chefe de inovação da NOS, Joana Sousa. "Conforme mostramos a câmara ele [o modelo] recebe essas imagens, faz a interpretação e devolve em voz sintética a descrição toda do cenário", completa a responsável.

Durante o processo de desenvolvimento, uma parceria da NOS com a empresa Acess Lab, os contributos de Aliu foram como um guia para a equipa saber se estava no caminho certo. Quais elementos deveriam melhorar, como a app deveria funcionar, que tipo de recursos eram necessários para a sua utilização. "Se não fosse o Aliu, era impossível termos feito isto. Esta app não é só um desafio para nós, é algo importante para a experiência deles e foi muito bom para aprendermos com uma comunidade nova", explicou o Salvador, membro da equipa, durante apresentação à imprensa.

Em termos de tecnologias inclusivas, o festival conta ainda com o regresso dos "coletes das emoções", que captam o som do espetáculo e emitem vibrações ao ritmo da música, para que pessoas surdas possam ter uma experiência sensorial. Há também uma ferramenta para áudio descrição mais convencional que vai estar disponível na própria aplicação do NOS Alive. Já o teste oficial da Guia-NOS será feito este sábado, 12 de julho, durante o concerto dos Muse.

"Estou muito curioso. Obviamente que a aplicação é um piloto, mas temos grandíssimas indicações daquilo que pode vir a acontecer no festival, então estou muito expectante", afirma Aliu.

"Acho que a tecnologia, cada vez mais, não tem que ser só aquilo que estraga as pessoas, afasta, mas também pode aproximar. No mundo em que vivemos, cheio de informações, o mundo muitas vezes é muito visual. O nosso dia a dia é muito visual. Tecnologias que possam vir a auxiliar pessoas cegas são muito bem-vindas e penso que esta aplicação será uma delas", destaca o músico.

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