Primeiros títulos de residência atribuídos após anos de espera, troca do cartão em papel da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), renovação de autorizações de residência caducadas há mais de um ano e, mais recentemente, reagrupamentos familiares. Foi a Estrutura de Missão, criada pelo Governo no ano passado, que tratou destes processos, somando mais de 550 mil atendimentos únicos a imigrantes. Frequentemente, só o centro em Lisboa tinha mais pessoas agendadas do que em todas as lojas da Agência para Integração e Asilo (AIMA) existentes no resto do país.A partir de 2026, todo o trabalho ficará sob a tutela da agência, que completou dois anos em outubro. É um facto que o volume de processos será menor, mas está a AIMA totalmente preparada? “Não. Tem um desafio enorme pela frente. Agora, nós mais do que recuperar logo a AIMA desde o início, tínhamos que tratar das pessoas o que fizemos em larga escala. Está tudo resolvido? Não está, temos que ter um bom processo de aceleração, também de continuar a dar mais capacidade à agência, que está longe de ser aquilo que nós queremos que seja”, explicou ao DN Rui Armindo Freitas, secretário de Estado da Imigração.Luís Goes Pinheiro, coordenador da Estrutura de Missão, preparou equipas de transição para os primeiros meses. Como ainda vão ficar processos em andamento, alguns profissionais da task force continuarão a trabalhar. Dos 327.597 processos deferidos, ainda falta emitir mais de 16 mil cartões dos imigrantes.“Aquilo que se está a fazer neste momento é trabalhar em conjunto para dotar os centros de atendimento da AIMA de maior capacidade de atendimento e maior robustez”, explica Goes Pinheiro. A comunicação com os utentes será por e-mail e, se for necessário um agendamento presencial, serão marcados nas lojas da AIMA. Os processos que ainda não terminaram vão continuar no mesmo sistema e trabalhados por advogados e solicitadores.Mais do que aspetos logísticos, o coordenador, que foi o primeiro presidente da agência, afirma que é importante a nova cultura de trabalho estabelecida. “É uma nova cultura de trabalho, que seguramente ajudará a garantir esse acompanhamento e pessoas vão sentir que têm centros onde serão atendidas com celeridade”, frisa.InvestimentoAssumindo que a AIMA precisa de mais investimento, o Governo não pode dizer que há falta de dinheiro. De acordo com os dados apresentados pelo Executivo no balanço da operação, o excedente orçamental da Estrutura de Missão, para já, é de 62 milhões de euros, valor que ainda não inclui os milhares de processos de reagrupamento familiar. Este recurso será utilizado para novas ações do Governo, que tem como uma das apostas, em 2026, a integração, sabe o DN. Outro foco está no reforços dos serviços da agência, principalmente nas competências digitais. Este serviço tem vindo a ser feito nos últimos meses, com o novo portal de renovações e funcionalidades adicionais no formulário de contacto online, como marcações para vistos específicos e atualização de documentos.Rui Armindo Freitas garante está a ocorrer um “processo muito intenso” de renovação dos sistemas de gestão e dos sistemas informáticos da AIMA. No entanto, lamenta a velocidade dos processos. “Não temos, infelizmente, a capacidade de responder na administração pública a tudo aquilo que desejamos, são processos mais lentos. Para quem vem do privado como eu venho, os processos são muito mais lentos de contratação, de revisão dos sistemas informáticos, mas está em curso. Se eu gostava que fosse mais rápido? Gostava. Mas há uma coisa que as pessoas podem ter a certeza absoluta, ninguém descansa um dia que seja para não termos a agência em pé”, disse.Sem dar uma previsão de como serão os prazos de atendimento no próximo ano, o secretário de Estado diz que o objetivo é que “as pessoas sejam atendidas dentro do prazo do visto”. Atualmente, alguns vistos que estão a ser emitidos recentemente nos consulados portugueses no Brasil estão com agendamento já marcado para outubro e novembro de 2026, ou seja, daqui a um ano.amanda.lima@dn.pt.Radiografia de 500 dias na mudança da política migratória em Portugal .Estrutura de Missão da AIMA faz balanço: mais de 760 mil atendimentos e 62 milhões de euros em saldo positivo