Hércules C-130 transportou 270 inspetores da PJ à Madeira. Na sequência da megaoperação judicial, o presidente do Governo Regional, constituído arguido, acabou por renunciar ao cargo. HOMEM  DE GOUVEIA/LUSA
Hércules C-130 transportou 270 inspetores da PJ à Madeira. Na sequência da megaoperação judicial, o presidente do Governo Regional, constituído arguido, acabou por renunciar ao cargo. HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

AD promete que se farta. Madeira é tiro no porta aviões

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Um capa para a história do Diário de Notícias

Sábado, 20 de janeiro

A edição de sábado do Diário de Notícias apresentou-se nas bancas com uma capa que ficará, certamente, bem marcada na longa história do jornal, a caminho dos 160 anos. Um enorme ponto de interrogação simbolizou o momento de incerteza que se vive num dos principais grupos de comunicação do país, o Global Media, onde só esta quinta-feira foi pago à maioria dos trabalhadores o salário de dezembro, continuando por regularizar o subsídio de Natal. Os trabalhadores do Diário de Notícias, que continuaram a trabalhar diariamente neste período, sem receber, para garantir a publicação deste título referência no jornalismo português, vincaram a sua oposição à degradação das condições laborais e reforçaram um compromisso com os leitores: “Enquanto pudermos, manteremos vivo este jornal”. A atual crise dos media, que está longe de ser um exclusivo do grupo a que pertencem o DN, o JN, a TSF, O JOGO e o Dinheiro Vivo, entre outros títulos, deve também servir para a sociedade refletir sobre a importância de comprar jornais e sobre questões fundamentais num estado democrático, que vão além da justa luta pela reposição dos salários, tais como a importância do jornalismo livre; a importância da informação de qualidade e verificada; a importância da liberdade de imprensa; a importância do escrutínio dos poderes públicos e privados; a importância de combater o crescente fluxo de desinformação. É isto que se ameaça sempre que se enfraquece uma redação.

Diário de Notícias, 20 de janeiro de 2024. Uma capa que fica na história do jornal, já a caminho dos 160 anos.

Convenção da AD: das promessas aos recuos

Domingo, 21 de janeiro

A Aliança Democrática reuniu domingo, no Estoril, para uma Convenção e houve um pouco de tudo. Alguns apareceram de surpresa (Santana Lopes), outros sem ser convidados (Leonor Beleza) e outros deram que falar por não se lhes pôr a vista em cima (Passos Coelho e Gonçalo da Câmara Pereira, líder do PPM, um dos três partidos que compõem a AD e que nem sequer esteve no encontro...). Em contagem decrescente para as legislativas houve também promessas. Muitas. Luís Montenegro, presidente do PSD, acenou com mais dinheiro, seja na forma de incentivos, suplementos ou recuperações de tempo de serviço, a profissionais de saúde, polícias, professores, pensionistas, empresários e outros, garantindo ainda que a redução de impostos será uma das "grandes prioridades estratégicas” da AD. Enquanto não for preciso fazer as contas ao que custa, fica tudo mais simples. Já Nuno Melo, presidente do CDS, destacou-se por dar o dito por não dito sobre a viabilização de um governo liderado pelo PS se Pedro Nuno Santos ganhar as eleições. Se antes defendeu que “quem ganha as eleições deve governar”, agora recusa esse cenário alegando que “a normalidade desapareceu” do sistema político em 2015, quando António Costa perdeu as legislativas para Passos Coelho mas acabou por tomar o poder com o apoio de PCP e BE. Por mais que queiram disfarçar, reforçando o discurso de campanha que só admite uma possibilidade, o triunfo da AD, a posição de Nuno Melo entra em choque com o que Montenegro tem dito até aqui: que só será primeiro-ministro se vencer as eleições. Confuso? Então prepare-se para 11 de março, o dia seguinte às legislativas. Isto é só uma amostra.

Montenegro garantiu que reduzir impostos será uma das “grandes prioridades estratégicas” da AD. António Pedro Santos/Lusa

Aumenta a debandada de enfermeiros

Segunda-feira, 22 de janeiro

A debandada de profissionais qualificados do país é uma sangria sem fim à vista, que condiciona há anos o próprio desenvolvimento de Portugal, com efeitos negativos que passam, entre outros aspetos, pelo desempenho económico, pelo desafio demográfico e pela resposta que que os serviços públicos podem oferecer aos contribuintes. Na segunda-feira, a Ordem dos Enfermeiros fez saber que em 2023 recebeu 1689 pedidos de declaração para efeitos de emigração (mais 527 que em 2022), sendo que o número representa cerca de 60% dos 2916 enfermeiros que se inscreveram neste ano. A Suíça continua a ser o principal destino destes profissionais, mas nota-se também a emergência de países fora da Europa, casos da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, como uma opção cada vez mais atrativa do ponto de vista financeiro. Em entrevista ao DN, o novo Bastonário dos Enfermeiros, Luís Filipe Barreira, revelou que, em Portugal, continuam a ser oferecidos a alguns enfermeiros contratos de apenas seis meses, com toda a precariedade que isso significa. “Não é desta forma que vamos conseguir parar o êxodo para outros países”, frisou. Como travar a fuga dos jovens formados nas faculdades portuguesas para outros países, sejam eles enfermeiros, médicos ou engenheiros, é um desafio urgente e que deveria ter respostas nos diferentes programas políticos que vão a votos a 10 de março.

Portugal conta com cerca de 85 mil enfermeiros inscritos na Ordem. Número dos que pediram declaração para poderem emigrar voltou a aumentar em 2023. Artur Machado / Global Imagens

Trump dominante. Haley joga tudo em casa

Terça-feira, 23 de janeiro

Após ganhar no Iowa, Donald Trump somou, em New Hampshire, a 2.ª vitória nas primárias que vão definir o candidato do partido Republicano à Casa Branca. Desta vez, já só teve um opositor, Nikki Haley, pois Ron DeSantis, o governador da Florida, que tantas vezes foi insultado pelo ex-Presidente dos EUA em comícios e outras ações de campanha no passado recente (assim que mostrou a intenção de poder desafiar o milionário novaiorquino), resolveu sair da corrida e endossar o seu apoio... a Trump. O caminho para Haley conseguir a nomeação já é muito estreito, se não mesmo impossível, e tem de passar por uma vitória no seu Estado natal, a Carolina do Sul, a 24 de fevereiro. O objetivo não é fácil: mesmo tendo sido governadora naquela Estado, Haley não conta com o apoio do partido a nível local e a média das sondagens coloca Trump acima dos 62% das intenções de voto. As primárias de New Hampshire deram, contudo, uma boa notícia a Joe Biden, o candidato democrata à reeleição, já que Haley conseguiu vencer junto dos eleitores independentes e moderados, que rejeitam Trump e poderão ser decisivos, em novembro, numa disputa taco a taco da presidência norte-americana.


Trump conta com vitórias folgadas no Iowa e em New Hampshire e é, cada vez mais, o favorito para voltar a ser o candidato republicano à Casa Branca. EPA

Megaoperação na Madeira atinge PSD com estrondo

Quarta-feira, 24 de janeiro

As detenções de Pedro Calado, autarca do Funchal, e de dois gestores do grupo AFA (que opera na construção, imobiliário e hotelaria, tendo também investido no setor dos media) e a constituição como arguido do presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque (suspeito de corrupção passiva e atentado contra o Estado de Direito), foram os primeiros resultados da megaoperação preparada pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção com apoio da Força Aérea, que levou ao arquipélago 270 inspetores da PJ, transportados em aeronaves militares. Foram executados 130 mandatos de buscas (um dos locais visados foi a casa de Albuquerque) na ilha e em outras cidades do país. As ligações perigosas entre políticos e empresários na Madeira, que é governada pela mesma força política desde 1976, o PSD, estiveram em destaque no DN através de uma série de reportagens assinadas pelo jornalista Artur Cassiano, que motivaram, inclusive, a abertura de uma comissão de inquérito na Assembleia Legislativa, em março de 2023. No relatório final da comissão, o Governo Regional seria ilibado de favorecer grupos económicos, mas o deputado Rui Caetano (PS) anunciou que seria feita queixa no Ministério Público por entender que estava em causa a prática de crimes-económico-financeiros. A investigação criminal não parou e resultou num duro golpe no PSD Madeira. Albuquerque começou por não se demitir, mas as movimentações da oposição não lhe deixaram outra escolha.

A Madeira foi palco da maior operação logística da PJ, que contou até com meios da Força Aérea. Inspetores e peritos foram transportados num Hércules C-130. HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

Operação Marquês. Justiça lenta e aos solavancos

Quinta-feira, 25 de janeiro

José Sócrates foi detido a 21 de novembro de 2014. Foram precisos quase três anos para conhecer a acusação do Ministério Público (MP), em outubro de 2017 – 31 crimes. Depois, em abril de 2021, na decisão instrutória o juiz Ivo Rosa contraria a acusação do MP e deixa cair 25 crimes imputados ao antigo primeiro-ministro socialista, incluindo os de corrupção. Além disso, mandou arquivar 172 dos 189 crimes de que estavam acusados diferentes arguidos da Operação Marquês. O MP recorreu e o caso avançou para o Tribunal da Relação de Lisboa que, esta quinta-feira, quase três anos depois da decisão de Ivo Rosa, recuperou praticamente na totalidade a acusação de 2017, enviando para julgamento Sócrates (agora acusado de três crimes de corrupção; 13 de branqueamento de capitais e seis de fraude fiscal qualificada), juntamente com mais 21 arguidos (entre eles Ricardo Salgado, Zeinal Bava e o empresário Carlos Santos Silva). Sócrates diz que não se conforma com a decisão e prometeu: “Vou recorrer para um tribunal superior, acho que tenho esse direito”. Quanto tempo vai demorar até começar o julgamento? Seja muito ou pouco, a verdade é que cada minuto que passa só ajuda a consolidar a imagem de uma Justiça lenta e aos solavancos.

Sócrates está de novo acusado de corrupção. Mas já prometeu recorrer. Mário Vasa/Global Imagens

LeBron James: uma máquina de recordes aos 39 anos

Sexta-feira, 26 de janeiro

LeBron James fez de novo história na NBA. O basquetebolista dos Los Angeles Lakers foi escolhido pela 20.ª vez, pelos pares, público e jornalistas que seguem a liga norte-americana de basquetebol, para participar no All Star Game, o jogo que junta os melhores do campeonato num fim de semana que festeja a excelência da NBA. James bateu a marca que pertencia a outro nome mítico do basquetebol, Kareem Abdul-Jabbar, que foi selecionado por 19 vezes. Os sucessivos recordes do extremo (entre eles o de melhor marcador de sempre da NBA, estando a pouco mais de 300 pontos de alcançar os 40 mil) e as dezenas conquistas coletivas e individuais (entre elas quatro campeonatos da Liga, duas medalhas de ouro olímpicas e quatro troféus de melhor jogador do ano na NBA), têm alimentado a discussão sobre quem foi, afinal, o G.O.A.T. (Greatest Of All Time - Melhor de todos os Tempos) da NBA, num despique direto com Michael Jordan. A história tratará desse assunto. Para já, o melhor é desfrutar da presença de King James nas quadras: aos 39 anos (!) continua a ser uma máquina.

James está perto dos 40 mil pontos na NBA. EPA/CAROLINE BREHMAN

pedro.sequeira@dn.pt

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