Menos de metade dos estudantes de escalão A de ação social escolar (ASE-A) elegíveis para o novo contingente prioritário de acesso ao Ensino Superior ativou esta via em 2023/24. Esta é uma das conclusões do estudo da EDULOG (o think tank da Fundação Belmiro de Azevedo), que analisa o impacto do contingente prioritário.Para Alberto Amaral, membro do Conselho Consultivo do EDULOG, estes números foram uma surpresa, com “metade das vagas não preenchidas”. Questionado pelo DN sobre o que poderá ter levado à escassez de candidatos ao abrigo do contingente prioritário, o responsável aponta três possíveis explicações. “Uma poderá ser a falta de informação e pouca divulgação junto das escolas secundárias; outra terá a ver com dificuldades económicas dos alunos deslocados, aliadas às bolsas de estudo baixas que não cobrem as despesas dos estudantes carenciados; uma terceira explicação é algo que se tem verificado em muitos países: os alunos de classes mais desfavorecidas evitam ir para cursos de elite, de engenharia, de notas elevadas porque só conseguem manter a bolsa se tiverem aproveitamento escolar”, esclarece. Contudo, Alberto Amaral acredita que as vagas por preencher espelham sobretudo “o valor baixo das bolsas de estudo e despesas de deslocação e alojamento”. Ainda assim, o membro do Conselho Consultivo do EDULOG sublinha que o contingente prioritário permitiu o ingresso de cerca de 1400 alunos, sendo “positivo nesse sentido”. A medida aumentou em 10 pontos percentuais a probabilidade de admissão de alunos carenciados e em 2,8 pontos percentuais a probabilidade de acesso a programas seletivos. Sem este contingente, 41% dos estudantes com escalão A que ativaram o apoio não teriam ingressado no ensino superior, na opção em que foram colocados.Maioria são oriundos das regiões autónomasAs ilhas (regiões dos Açores e da Madeira) apresentam as maiores percentagens de estudantes elegíveis que ativaram o contingente prioritário (82% e 68%, respetivamente). No entanto, a percentagem dos que obtiveram sucesso através deste regime é a mais baixa do país (31% e 30%, respetivamente). Apesar disso, segundo o estudo, os candidatos ao abrigo do contingente oriundos das ilhas foram dos mais bem-sucedidos no objetivo de colocação numa instituição de ensino superior pública, porque uma parte dos que não conseguiram ser colocados através da quota ASE-A recorreu a regimes alternativos para assegurar a admissão (em particular, o contingente preferencial para residentes nas ilhas, com 59% e 56% dos candidatos ao abrigo do contingente ASE-A oriundos dos Açores e da Madeira, respetivamente, colocados através deste outro regime). “Este facto aponta para a familiaridade dos estudantes do ensino superior destas regiões com os procedimentos de candidatura através de contingentes dedicados e, possivelmente, para a existência de apoio ao nível da escola ou da região na preparação das candidaturas por estas vias”, explica Alberto Amaral.Outra das conclusões da investigação refere que a percentagem de estudantes que permanecem no seu distrito é, em geral, mais elevada, sendo nalguns distritos três a seis vezes superior à dos estudantes menos carenciados (Portalegre, Guarda ou Bragança, no interior, ou Viana do Castelo, Leiria e Santarém). Este padrão, adianta o estudo, “é expectável sempre que as restrições financeiras das famílias mais pobres coloquem limitações à mobilidade geográfica dos seus filhos para frequentar o ensino superior, ainda que o contingente prioritário aumente as hipóteses de colocação”.Cursos com mais e menos procuraAs “Tecnologias da Informação e da Comunicação” (TIC) e a “Agricultura, Silvicultura, Pescas e Veterinária” e cursos de Educação registam a percentagem mais baixa de estudantes admitidos no contingente prioritário ASE-A (2%). Já a percentagem mais elevada (23%) de estudantes admitidos pelo contingente é na área de “Gestão, Administração e Direito”.Dentro de cada área científica, comparando os regimes de admissão, o contingente prioritário foi particularmente útil para trazer estudantes de famílias com baixos rendimentos para a área da “Saúde e Bem-Estar” (19% entre os admitidos ao abrigo do contingente, contra 15% ao abrigo dos outros regimes ou dos alunos que não optaram pelo contingente). A percentagem de estudantes ASE-A admitidos ao abrigo do contingente é também relativamente elevada nas áreas das TIC, por comparação com outros regimes. “Esta evidência corrobora o padrão identificado nas regressões quanto à capacidade deste contingente específico para facilitar o acesso dos estudantes com baixos rendimentos a cursos seletivos no ensino superior”, pode ler-se no documento.