“O que me trouxe aqui foi o desejo de voar. Quero muito ser piloto”. Quem o diz é Mário Gama, 20 anos, um jovem candidato a piloto-aviador, à chegada ao Centro de Recrutamento da Força Aérea (CRFA), em Lisboa. “Tenho dois familiares que foram militares, nos comandos, mas no meu caso prefiro a Força Aérea pela componente aeronáutica. Gostava muito de voar, quer em helicópteros, quer em aviões”..Mário, à semelhança dos restantes candidatos, tinha acabado de chegar da Academia da Força Aérea, em Sintra, onde esteve a fazer as provas físicas e de língua inglesa. “Acho que as provas são bastante acessíveis”, garante, sorridente..No caso das provas físicas, há que correr 2400 metros, fazer abdominais e flexões. Para os candidatos à Academia da Força Aérea - como é o caso - acrescem outras provas, como pórtico, muro e vala..Seguem-se mais provas até Mário saber se é, ou não, admitido na Força Aérea. “Amanhã (quinta-feira, 18 de julho) tenho o primeiro dia de testes psicológicos e psicotécnicos. Depois tenho o segundo dia no qual vou a uma entrevista e há a decisão. Se ficar apto, para poder seguir para piloto-aviador, são cerca de cinco dias de provas médicas. Tenho que ficar apto nas provas médicas e psicológicas. Naturalmente, ainda é necessário realizar um estágio de seleção de voo. A seguir a este estágio é preciso ir a uma prova de aptidão militar, de cerca de 10 dias, e fazer o estágio de integração à academia”, especifica, com entusiasmo, o candidato, que veio de Vila Nova de Gaia..Nem a distância da família dissuadiu o jovem de seguir o sonho de entrar para a Força Aérea - recorde-se que em 2023 concorreram à Academia 490 jovens e foram admitidos 54. “Hoje em dia existe uma outra mobilidade e faz-se uma viagem rápida, e barata, a partir de cinco euros. A distância acaba por já não ser um desafio”..Para Mário, o objetivo é mesmo “ficar na Força Aérea”, por isso não equaciona, caso fique apurado e siga uma carreira neste ramo das forças armadas, sair, por exemplo, para uma companhia de aviação civil..O mesmo acontece com Angélica Canelhas, 20 anos, outra das candidatas a piloto-aviador. “Mesmo a longo prazo, quero ficar na Força Aérea”, garante a jovem, oriunda de Sintra. .Angélica não tem militares na família mas, desde cedo, habituou-se a ver voar os aviões. “Desde pequena que o meu pai sempre me acompanhou neste interesse, porque moramos perto da Base Aérea n.º 1, em Sintra. Também fui muitas vezes ao Museu do Ar e não estou a concorrer só a piloto, também estou a concorrer a Medicina. Isso é juntar o que eu mais adoro: por um lado a Medicina e o corpo humano e, ao mesmo tempo, poder estar rodeada de aviões. Ser admitida seria o ideal”..Angélica já tem amigos a frequentar a Academia da Força Aérea, o que também acabou por impulsioná-la a concorrer. “Todos me dizem que gostam muito de lá estar, que o ambiente é de muita camaradagem, e isso é algo que sempre gostei muito. Apesar de nas faculdades também fazermos amigos, claro que na Força Aérea é um ambiente diferente, há mais proximidade, e isso também me atraiu muito”, conclui a jovem candidata. .Mas nem só de pilotos-aviadores é feita a Força Aérea. “A Força Aérea é um mundo de oportunidades. Temos aqui a maioria do mercado civil”, começa por explicar o coronel Aires Marques, chefe do CRFA de Lisboa. “Vamos desde o piloto, que é a ponta da lança, até ao cozinheiro, empregado de mesa, passando pelo bombeiro, pelo técnico de manutenção, técnico de armamento, controlador aéreo, o que for. Portanto, há aqui uma quantidade de oportunidades e todas são importantes”, refere este responsável. E sublinha: “Todas as especialidades são importantes, nas várias categorias, e é isso que os jovens devem perceber”..Para concorrer à Força Aérea é preciso ter nacionalidade portuguesa, não ter qualquer averbamento no registo criminal e ter as habilitações adequadas a cada concurso. “Em termos de candidatura, qualquer pessoa está no direito de se candidatar, desde que reuna estes requisitos. Depois, ao fazer as provas, é preciso cumprir os requisitos físicos, médicos e psicológicos”, acrescenta Aires Marques. .Os concursos para a Força Aérea, quem em Regime de Contrato (RC) quer para os Quadros Permanentes (QP) são publicados em Diário da República. Porém, os jovens podem candidatar-se de forma espontânea. “Aceitamos pré-candidaturas. Depois, explicamos aos jovens - e cada caso é um caso - a cada um deles, aquilo que é melhor no seu caso. Temos aquilo a que chamamos de tutoria e que significa que cada jovem é acompanhado desde o momento em que se quer candidatar”..Isso mesmo observou o DN. Um rapaz, de 17 anos, dirigiu-se ao CRFA de Lisboa e pedia informações, no balcão de atendimento. Aqui está a aspirante Alexandra Almada, pronta para esclarecer todas as dúvidas dos jovens candidatos. “Principalmente, ficam um bocadinho baralhados em perceber a diferença entre os nossos dois concursos: o da academia e o do regime de contrato, porque ambos pedem o 12º ano”, revela..O CRFA é a porta de entrada para este ramo das forças armadas mas é, igualmente, a porta de saída, até à morte dos militares ou antigos militares. Por isso, o lema do CRFA é Servir: quem servirá e quem serviu. E por aqui não falta um Departamento de Apoio aos Militares Fora da Efetividade de Serviço. (DAMFES). “Todos os militares entram no centro de recrutamento e todos os militares, quando saem, pertencem ao centro de recrutamento”, afirma o coronel Aires Marques. “Apoiamos os militares na reserva, na reforma, até ao processo de falecimento. Temos muito cuidado e assistentes sociais para dar o amparo que as famílias necessitem”. .No DAMFES tratam-se todas as questões burocráticas relativas a apoios sociais. Por aqui passam casos impactantes. “O apoio é não só para as famílias como para a própria pessoa, em caso de abandono, digamos assim. Desde que seja do nosso conhecimento, tudo faremos para encaminhar as pessoas para que tenham uma vida com dignidade e com as condições básicas de vida que qualquer ser humano merece”. .Assim foi com um antigo militar, que se encontrava sozinho, a morar numa pensão. “Foi agilizada a situação para que fosse para um lar. Infelizmente, não chegou a acontecer, porque o senhor faleceu”, conta Carla Norte, assistente social. “Exigimos excelência todos os dias”, resume Aires Marques.