Armindo é julgado por homicídio com casal que confessou o crime
Armindo Jorge Castro está no centro de um processo por homicídio que desafia o sistema penal e a imaginação de qualquer escritor de policiais. Depois de ter estado preso dois anos e sete meses pela morte da tia e de ter sido libertado quando outro homem confessou o crime, este estudante de criminologia no Porto, de 30 anos, continua ainda assim arguido no inquérito. Mais: irá de novo ser julgado pelo mesmo homicídio, sentando-se desta vez no banco dos réus com as pessoas que confessaram o crime à GNR, Artur Gomes, 47 anos, e a sua mulher, Júlia Lobo, 41. O casal tem uma leitura de sentença marcada a 26 de fevereiro num outro processo em que é acusado de roubar e degolar uma vizinha, em abril de 2014, na Lixa.
"Nunca pensei que isto pudesse acontecer. É demasiado penoso. Não basta a sombra das recordações do que passei na prisão de Paços de Ferreira como agora vivo com a sombra da incerteza". Em entrevista ao DN, Armindo Castro falou da sua vida e como esta mudou com o processo, numa teia kafkiana em que ele próprio se enredou inicialmente, quando confessou ter morto a tia, Odete Castro, de 73 anos. Já em julgamento, o jovem remeteu-se ao silêncio, garantindo apenas que era inocente. Quando outro homem apareceu a confessar o crime, dois anos depois dos factos, o estudante declarou então que confessou o homicídio para ilibar a sua mãe, que era a principal suspeita.
"Não me atrevo a fazer planos"
Armindo só ambiciona ser "completamente ilibado das acusações" e terminar o curso superior de Ciências Laboratoriais Forenses, que frequenta na CESPU (Cooperativa de Ensino Superior e Politécnico, no Porto). "Não me atrevo a fazer planos a longo prazo. Já fui libertado há mais de um ano e o novo julgamento ainda não foi marcado".
Mas o que já viveu na prisão - experiências que nesta fase recusa recordar - dá-lhe uma certeza: "Não há reeducação nenhuma dos presos nem tentativa de inserção. Largam-se na prisão e ali ficam".
A sua história remonta a 29 de março de 2012 em Joane, Famalicão, quando a sua tia, Odete Castro foi assassinada. Dois meses depois, Armindo confessou o crime e fez, com a PJ, a reconstituição. Foi condenado a 20 anos de prisão pelo Tribunal de Famalicão, por homicídio qualificado, mas a Relação baixou a pena para 12 anos, imputando-lhe o crime de ofensas à integridade física qualificadas agravadas pelo resultado (a morte). Quase dois anos depois, a 28 de outubro de 2014, Artur Gomes, de 46 anos, entregou-se na GNR de Guimarães e confessou a autoria desse homicídio, em coautoria com a sua mulher, Júlia.
Como o processo de Armindo ainda não tinha transitado em julgado (não estava terminado), o seu advogado Paulo Gomes, pediu a alteração da medida de coação, que era a prisão preventiva. O estudante foi libertado, dois anos e sete meses depois de ter estado preso em Paços de Ferreira, mas continuou arguido, primeiro sujeito a apresentações periódicas, agora apenas com termo de identidade e residência. O Ministério Público insiste que ainda há "dois fortes juízos de indiciação" contra si.