O rumo da Madeira para as terceiras eleições regionais em apenas três anos ficou traçado neste sábado, num dia em que os dois maiores partidos reuniram as respetivas comissões políticas. Entre o PSD, que governa a região autónoma desde que há democracia, e o PS, que busca tal oportunidade há décadas, trocaram-se muitas acusações, mas o facto realmente importante é que os socialistas confirmaram que votarão favoravelmente a moção de censura apresentada pelo Chega, pelo que bastará que os eleitos do Juntos pelo Povo se lhes juntem na Assembleia Legislativa Regional para que o Governo Regional caia, sendo o regresso às urnas dos madeirenses o cenário mais provável..No final da tarde, terminada a reunião da comissão política regional do PS, Paulo Cafôfo apressou-se a sublinhar a aprovação por unanimidade da proposta do secretariado regional para que os 11 deputados socialistas eleitos em maio votem a favor da moção de censura do Chega. Um texto em que esse grupo parlamentar defende que o Governo Regional da Madeira perdeu as condições para se manter, visto que tanto o seu presidente como quatro secretários regionais são arguidos em processos judiciais por suspeitas de diversas crimes, incluindo corrupção..Dirigindo-se ao rival, que o derrotou nas eleições regionais de 2019 e de 2024, sempre sem obter as maiorias absolutas que deixaram de ser garantidas para o PSD, Paulo Cafôfo disse que “não poderíamos, nem vamos, segurar este Governo de Miguel Albuquerque. E referiu-se-lhe como “um presidente que é arguido por casos de corrupção ativa e passiva, e que não quer responder à justiça”, a partir do momento em que “não pede a retirada da imunidade enquanto membro do Conselho de Estado”..Ainda mais incisiva foi a referência do líder dos socialistas madeirenses à atuação do governante social-democrata no verão passado. “Numa altura tão difícil como a dos incêndios deste mês de agosto, foi um presidente que fugiu às suas responsabilidades e, em vez de estar ao lado do seu povo, fugiu para o Porto Santo, para se estender a apanhar sol numa espreguiçadeira no areal da praia dourada”, sentenciou Paulo Cafôfo..Horas antes, no final da reunião da comissão política regional do PSD-Madeira, Miguel Albuquerque garantiu que não se afastará da presidência do Governo Regional da Madeira e da liderança do seu partido, num aviso à navegação de que a moção de censura “inoportuna e irresponsável”, a ser aprovada, não terá como consequências apenas uma profunda remodelação e a entrada em cena de um novo presidente. “Se pensam que vou sair, para porem um líder provisório, e depois deitarem-no abaixo e conquistarem o poder, estão enganados”, disse o social-democrata, respondendo a perguntas de jornalistas. “Isso seria uma fraude. E é uma tentativa de dividir e enfraquecer o partido por dentro”, insistiu, argumentando que tal hipótese implicaria “considerar que quando o povo madeirense vota num partido, numa eleição regional, não vota no candidato a presidente do Governo”..A insistência de Albuquerque neste ponto serve de resposta a alguns setores da oposição. Enquanto o PS-Madeira quer tirar partido dos “casos atrás de casos” - recuperando a célebre expressão de António Costa, de quem foi secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo defendeu que indícios graves de corrupção “não são casinhos” - para ter uma segunda oportunidade de obter uma primeira vitória eleitoral na região autónoma, entre o Chega há quem diga que isso se resolve com o afastamento dos governantes sobre os quais recaem suspeitas no âmbito de investigações judiciais como a Ab Initio e a Zarco. Isso foi ontem admitido, à Rádio Observador, por Francisco Gomes, vice-presidente da comissão política regional e deputado na Assembleia da República..Farpas ao Chega .Dirigindo-se ao Chega-Madeira, Albuquerque partilhou a dedução de que a moção de censura “foi imposta pela liderança nacional, no sentido de criar instabilidade política na região”. E recordou que o Programa de Governo e o Orçamento Regional foram aprovados há poucos meses, graças ao grupo parlamentar que agora procura derrubá-lo. .Também não foram esquecidas pelo presidente do Governo Regional as referências muito depreciativas ao resto da oposição madeirense na moção de censura. “Esta moção não deixa de ser um pouco estranha, uma vez que faz um ataque implacável ao PS”, disse Miguel Albuquerque, dizendo ser “grotesco” que os deputados socialistas aprovem um documento “onde o PS-Madeira e o seu líder são apelidados de incompetentes”..A moção de censura do Chega aponta ao PS uma “incapacidade evidente e crónica em apresentar uma alternativa credível ao partido do poder”, o que “quase o eleva ao estatuto de cúmplice ético e moral das evidentes más práticas instaladas na governação madeirense”. No entanto, Paulo Cafôfo recusou que isso constitua um entrave. “Não nos interessa um parágrafo ou o texto. Interessa-nos a censura a Miguel Albuquerque e ao seu governo”, reforçou, dizendo que “os madeirenses não compreenderiam se o PS votasse contra”..Será provavelmente a 18 de novembro que se saberá se a iniciativa do Chega será aprovada. Talvez para iniciar um novo ciclo político na região autónoma, mas decerto abrindo mais uma oportunidade de testar a resiliência do PSD-Madeira no poder ou a capacidade de Paulo Cafôfo conseguir à terceira aquilo que logrou na Câmara do Funchal à primeira, quebrando a hegemonia social-democrata em 2013, quando nem militava no PS. Algo que, nas palavras de Miguel Albuquerque, faria desta moção de censura “um expediente para os incendiários tomarem da floresta”.