A quase totalidade dos antigos e atuais dirigentes, e deputados, remete-se ao silêncio. Quase ninguém aceita manifestar-se publicamente sobre a disponibilidade de António José Seguro para “ponderar” uma candidatura à Presidência da República. Nem mesmo muitos dos que, durante anos, eram conhecidos por serem “seguristas”. “É cedo para comentar”, “temos de aguardar” e “nem sei que dizer” são algumas das respostas..Para Carlos César, presidente dos socialistas, que em maio de 2014, no dia seguinte às Eleições Europeias, dizia que o PS de Seguro poderia “comprometer” o “sucesso” do partido nas próximas “Legislativas”, alegando que a “modesta” vitória [31,46% dos votos contra 27,71% do PSD e CDS] não era “politicamente negligenciável” - em linha com as críticas de António Costa, Ferro Rodrigues, João Galamba e até de Mário Soares, que recusou um almoço com a direção de Seguro, preferindo um encontro com o ex-líder José Sócrates -, o que “começou foi o tempo de manifestação dos candidatos. Ainda não começou o tempo de decisão dos partidos”..“A seu tempo”, assegura o histórico dirigente socialista, “o PS decidirá, sendo certo que a opção de cada militante será, tal como de cada cidadão, uma decisão individual”..Berta Nunes, apoiante de Costa contra Seguro em 2014, tal como a maioria dos presidentes de câmara dessa altura, e que mais tarde seria secretária de Estado, considera “positivo” a disponibilidade manifestada, porque o antigo líder “cabe no perfil definido de ser militante do PS, embora a sua distância da cena pública nos últimos anos não seja boa, tanto para a notoriedade, como para a confiança dos portugueses nas suas posições, que ele não tem tornado públicas porque saiu da cena pública”..No entanto, acrescenta, “ainda está a tempo de entrar e ter espaço e apoios”. E o que fará Berta Nunes? “Neste momento não tenho nenhum apoio definido e depende de quem se apresentar”, diz a ex-deputada socialista. E se for Mário Centeno? “Terei de avaliar. Também não está excluído.”.Ana Abrunhosa, ex-ministra da Coesão Territorial nos Governos de Costa, e que entre 2014 e 2019 dirigiu a CCDR do Centro e que entre 2008 e 2010 foi vice- presidente, considera que “a disponibilidade demonstrada por [António] José Seguro é consequência, em primeiro lugar, da sua vontade, mas também do apoio que terá sentido por parte de algumas pessoas do PS. Algumas das quais [referência a Francisco Assis] até já o apoiaram publicamente”. No entanto, sublinha, “é muito cedo para dizer se vai ser o candidato apoiado pelo PS”..“Analisando as manifestações de vontade, explícitas e implícitas, antevê-se uma campanha de Presidenciais [em 2026] muito interessante”, antecipa a atual deputada socialista que é apontada como possível candidata à Câmara de Coimbra ou para um regresso à CCDR Centro. .Francisco Assis, por seu lado, não tem dúvidas: “Eu apoiarei o candidato António José Seguro e portanto gostaria que o PS apoiasse o António José Seguro, se ele se apresentar como candidato.”.Para o eurodeputado socialista, Seguro é o melhor nome para a corrida presidencial e defende que o PS o apoie se o antigo líder do partido avançar, defendendo, assim, um candidato único nesta área política. .Assis recorda que o secretário-geral socialista, “numas declarações recentes, falou de vários nomes e falou do Seguro, de quem ninguém falava na ocasião”, o que significa que Pedro Nuno Santos “equaciona essa possibilidade”..O líder socialista, no entanto, ontem disse que “ainda não chegou esse momento” e que qualquer declaração sua sobre Presidenciais “poderia ser mal interpretada” e que, por isso, “como secretário-geral do PS” devia “moderar” a sua “palavra sobre as Presidenciais”. .E Seguro? “É um grande quadro do PS, o país conhece-o e os militantes do PS têm muito apreço por ele.”.Francisco Assis deixou, ontem, claro que não está à espera de mais nome nenhum, porque acha que “este é o melhor” dos vários de que se tem falado “do ponto de vista da candidatura presidencial”..Na quinta-feira, Seguro, na entrevista à CNN Portugal, que disse não querer “contribuir para perturbar a reflexão de candidatos a candidatos” - recusando, assim, falar de Mário Centeno -, manteve presente o que se passou em 2014 [Costa considerou “poucochinho” a vitória nas Europeias e levou o PS para eleições internas que venceu], afirmando que “a memória não se apaga” e sublinhando a “arte e engenho” do agora designado presidente do Conselho Europeu..“O que se passou em 2014, ficou em 2014”, disse Seguro. Só que não ficou. Ao DN, um dirigente socialista afirma não “conhecer ninguém de esquerda que tenha boas memórias dele”. E a “esquerda”, acentua, “tem memória”. .“O PS tem de ter um candidato com condições de vitória e não só, com condições de entusiasmar a direita, dentro e fora do partido. Quanto ao centro, o que vimos na quinta-feira não foi especialmente promissor”, afirma..O mesmo dirigente considera Mário Centeno “mais afável, mais carismático e mais realizado profissionalmente, politicamente”, do que Seguro. Mas terá, admite, “as mesmas dificuldades com a esquerda” que o antigo líder socialista, que “tem de aprender a ter carisma ou fracassará”..Fonte da direção socialista, ao DN - que diz “nunca votar nesse senhor” e que até pensa que “dois terços do PS não gostam dele” - sublinha uma ideia que contraria a certeza de Seguro de que tudo o que havia para resolver “ficou em 2014”..“Nem o atual consulado [de Pedro Nuno Santos, que em 2014 fazia parte do denominado grupo dos “jovens turcos”, com Duarte Cordeiro, João Galamba e Pedro Delgado Alves contra a direção de Seguro], nem o anterior [de Costa que teve esse apoio] gostavam dele”, resume. No PS, apurou o DN, o “maior incómodo” continua a ser a possibilidade “crescente” de Gouveia e Melo ser candidato à Presidência da República..“Nesse dia diremos o que pensamos dizer sobre esse nome”, garante ao DN fonte dirigente socialista..O anúncio de uma possível candidatura definida para “servir o país e unir os portugueses numa fase extremamente difícil da vida do país e do mundo”, e quando o Estado, que, como diz António José Seguro, está “a abrir fendas, a sociedade a deslaçar, a qualidade política e da democracia a diminuir e os serviços públicos a recuar”, pode ser, diz fonte dirigente do PSD, o “gatilho” que leve Pedro Passos Coelho a assumir que vai ser candidato a Presidente da República. .“Esgotado que está um regresso ao lugar de primeiro-ministro”, diz a mesma fonte, e tendo em consideração “que os indicadores que Pedro Passos Coelho tem recebido” lhe “são favoráveis”, esta “é altura certa para avançar”..“Esperar dez anos”, avisa, “é esperar pelo regresso de António Costa” à política nacional e às Eleições Presidenciais. .Paulo Cunha, eurodeputado que foi até há pouco tempo membro da direção nacional do PSD, não acredita que a disponibilidade de António José Seguro possa ser “a motivação”, como entendem outras fontes do PSD ouvidas pelo DN, para que Pedro Passos Coelho decida ser candidato..“Não creio, parece mais um arremesso na guerra interna entre António Costa e Pedro Nuno Santos, em que ao pré-anúncio de Mário Centeno, Pedro Nuno Santos responde com Seguro”, considera..Fonte governamental, ouvida pelo DN, tem leitura semelhante. “Parece ser uma disputa interna de poder no PS, que não deverá ter influência, creio, na decisão pessoal de Pedro Passos Coelho”, afirma..E o mesmo considera fonte parlamentar social-democrata: “Não. Não será a motivação” para que o antigo primeiro-ministro e líder do PSD decida ser candidato..A lista de “presidenciáveis” veio aumentado e já inclui, para além de António José Seguro, Pedro Passos Coelho, Gouveia e Melo e Mário Centeno, nomes como Manuel Carvalho da Silva [que agradaria a BE e PCP], Marques Mendes [que diz estar a “ponderar”], Pedro Santana Lopes [que considera ter “condições], António Guterres [desejado, mas que teria de abandonar a ONU], André Ventura [que ainda nada disse], Paulo Portas [que também nada disse], Leonor Beleza [que não manifesta grande recetividade] e Rui Rio e António Vitorino - que surgem sempre nestas alturas..Miguel Relvas, ex-dirigente social-democrata e antigo ministro de Pedro Passos Coelho, que considera ser tudo “muito cedo” e que acredita que “não haverá candidatos credíveis antes de junho-julho do próximo ano”, olhando para a lista de presidenciáveis já tirou uma conclusão: “O princípio de tudo ao molho e fé em Deus não dá bons resultados.”