Sócrates critica Marcelo: está só a "sublimar a frustração"

Porque esteve "afastado da política durante 20 anos", Marcelo Rebelo de Sousa está agora apenas a "sublimar [essa] frustração", afirma José Sócrates.
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Numa entrevista à edição brasileira online do El País, o ex-primeiro-ministro português e principal arguido da "Operação Marquês" afirma que nunca lhe "agradou" o "interesse" de Marcelo Rebelo de Sousa em querer "contentar a todos".

"O Presidente Marcelo sempre foi um personagem em busca de seu papel político. E o descobriu finalmente, o papel dos afetos, eixo de todo um novo programa político. Vejo o alvoroço diário da sua Presidência como uma necessidade de querer sublimar a frustração por ter sido afastado da política durante 20 anos", afirma.

José Sócrates aproveita ainda para acusar a direção do PS de se ter deixado "intimidar" pela "Operação Marquês", ao contrário do que aconteceu com os militantes: "Nunca me senti verdadeiramente só; conseguiram intimidar a direção do PS, mas não os seus militantes. De certa forma, estou contente de que a direção do PS ficasse afastada, porque há batalhas que é preciso ganhar sós, e esta é uma delas."

Reafirma, por outro lado, aqueles que foram os objetivos no processo em que é arguido: "Impedir minha candidatura à Presidência do país e que o PS não ganhasse as eleições. Conseguiram os dois."

Sócrates estabelece ainda um "curioso paralelismo" entre a sua situação e aquela que agora a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, enfrenta: "Como em meu caso, houve detenção abusiva e querem julgamentos populares sem possibilidade de defesa; o que ocorre no Brasil é uma tentativa de destituição sem delito, sem fundamento constitucional."

No seu entender, "o impeachment de Dilma Rousseff é uma vingança política da direita, que não aceita a derrota nas urnas. Não basta fazer acusações, é preciso fazer julgamento; condenar alguém sem direito a defesa acontece no Brasil e em Portugal, condenar sem julgar; destituição sem delito e sem fundamento. É um golpe político da direita, porque agora não mobilizam os militares; é impedir a candidatura de Lula à presidência de 2018. É utilizar a Justiça para condicionar eleições".

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