Professores, diretores e pais querem fim do atual 2.º ciclo

Consolidar. Ideia de criar um 1.º ciclo mais longo, até ao 6.º ano, reúne consenso de vários setores e cores políticas. Mas exige tempo
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Introduzido em 1973,pelo ministro Veiga Simão - numa das reformas educativas mais importantes da história de Portugal - o 2.º ciclo de escolaridade (na altura chamava-se ciclo preparatório) pode ter deixado de fazer sentido. É esta a convicção de pais, professores, diretores escolares e de ex-ministros, como David Justino, que concordam ter chegado a altura de repensar a forma como se organizam os 12 anos que constituem a escolaridade obrigatória.

O chamado modelo de 6+6, criando um 1.º ciclo alargado até ao 6.º ano e um "novo" 2.º ciclo, do atual 7.º ao 12.º ano, estará em discussão este sábado na quarta Convenção Nacional da Federação Nacional de Educação (FNE), Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP) e Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). E o objetivo assumido por todos é fazer sair do encontro uma proposta que possa ser analisada, não só pela atual equipa do Ministério da Educação, como por toda a sociedade e partidos.

"Isto poderá trazer vantagens para o processo de ensino e aprendizagem, não é uma ideia peregrina nossa". Há países onde as coisas já são assim", diz ao DN Filinto Lima, da ANDAEP, admitindo que este é um tema que obriga a um "consenso alargado" para poder ser passado à prática. "É um assunto muito sério. Mexe com a estrutura, os alicerces da educação", admite.

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Uma das possíveis vantagens, admite, é a redução do impacto negativo que, dizem as estatísticas, muitos alunos sentem quando passam para o 5.º ano. "Não só em termos de insucesso. Mesmo em termos disciplinares, é no quinto 5.º ano que há maior incidência de problemas, ao contrário do que sucede nos anos seguintes", explica. "Hoje temos um 2.º ciclo, um 5.º e 6.º ano, perdido entre o 1.º ciclo e o 3.º ciclo. E os próprios professores reconhecem isso", diz.

"Neste momento faz todo o sentido repensar o 2.º ciclo", subscreve Jorge Ascensão, da CONFAP. "Na altura, foi criado para alargar a escolaridade obrigatória até ao 6.º ano mas hoje, para dar maior coerência entre percursos curriculares, faria sentido rever a organização dos ciclos".

Fazê-lo implica rever a Lei de bases do Sistema Educativo. E o representante das associações de pais acredita que esta é uma boa altura para se dar esse passo: "Pelo menos a junção com 2.º ciclo com o 1.º ciclo talvez fosse viável", defende. É preciso mais, avisa: "Rever todo o programa curricular, ainda que se dê um passo de cada vez".

João Dias da SIlva, da FNE, lembra que "há muito tempo" que as formações de professores "são articuladasde 1.º e 2.º ciclo", pelo que não seria necessária uma revolução nos cursos de educação para implementar o modelo: "Seriam necessárias adaptações, um período de transição, tendo em conta que houve professores que fizeram opção mais pelo 1.º ciclo e outros que optaram mais pelo 2.º ciclo".

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) não participa da convenção. Mas também não afasta a ideia alimentar esta discussão: "Pensamos que se calhar tem sentido, num quadro global de reflexão sobre o sistema, os currículos. Temos o sistema que já está organizado desta forma há quase meio século", lembra Mário Nogueira. "Não é por ser há muito tempo que está mal. Mas há realidades presentes noutros países que não são essas. O facto de o 1.º ciclo ser de apenas quatro anos, numa fase em que os alunos têm ritmos de aprendizagem ainda muito distintos, pode ser um obstáculo a que todos atinjam os objetivos", diz, avisando no entanto que os progressos passam sobretudo por aspetos como "ter mais apoios para alunos com dificuldades de aprendizagem".

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