O Tribunal Judicial de Braga adiou hoje "sine die" a leitura do acórdão dos 47 arguidos num processo de corrupção com cartas de condução, devido a um incidente de recusa de juiz suscitado por sete advogados de defesa..No requerimento, os advogados aludem a "falta de imparcialidade" do tribunal por, a 23 de fevereiro, terem distribuído um documento com alterações não substanciais em que constava a expressão "factos provados", alegadamente mesmo antes de ter sido dado conhecimento dessas alterações aos arguidos..A juíza presidente do coletivo admitiu hoje que se tratou de "lapso de escrita" mas sublinhou que a expressão "factos provados" não consta da ata e que, como tal, "não foram dados como provados quaisquer factos não comunicados aos arguidos"..O incidente de recusa de juiz vai seguir para o Tribunal da Relação de Guimarães, a quem caberá decidir se o aceita ou não..Segundo o Código de Processo Penal, a intervenção de um juiz no processo "pode ser recusada quando correr o risco de ser considerada suspeita, por existir motivo, sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade"..Este é já o segundo adiamento da leitura do acórdão do processo, que conta como arguidos examinadores, industriais de condução, instrutores e alunos..Nas alegações finais, o Ministério Público (MP) pediu a condenação de 45 arguidos e a absolvição de uma instrutora e de uma aluna..Já a defesa pugnou, de uma forma geral, pela absolvição, por alegada falta de provas..O processo tem como epicentro o Centro de Exames de Vila Verde da ANIECA, sendo o examinador Joaquim Oliveira o principal arguido..Para o MP, Oliveira foi o "interlocutor privilegiado" nos episódios de corrupção do processo, "por ser o mais velho" e o que ali exercia funções há mais tempo..O MP considera que este arguido deve ser condenado pelos 35 crimes de corrupção passiva para ato ilícito de que está acusado..No banco dos réus estão mais oito examinadores daquele centro, a quem a acusação imputa o mesmo crime, embora em números muito mais reduzidos..O MP considera provado que os alunos eram auxiliados pelos examinadores, a troco de quantias monetárias que, em média, variavam de 1.000 a 1.500 euros, no caso dos exames teóricos, e de 100 a 150 euros nos práticos..Mas havia quem pagasse mais, como foi o caso do futebolista Fábio Coentrão, que desembolsou 4.000 euros, tal como o próprio confessou em tribunal, na qualidade de testemunha no processo..A acusação diz que, com este esquema, cinco examinadores conseguiram arrecadar 1,1 milhões de euros, dinheiro que o MP quer que seja declarado perdido a favor do Estado..O processo, relacionado com o Centro de Exames de Vila Verde, envolve escolas daquele concelho e ainda de Barcelos, Ponte de Lima, Vizela, Guimarães, sendo que os factos terão decorrido entre 2008 e 2013.