Passos pressionado para se demarcar de candidato que criticou etnia cigana
A entrevista do candidato PSD/CDS ao concelho de Loures hoje publicada no jornal I já levou várias personalidades ligadas ao PS a exigirem a Pedro Passos Coelho que se demarque e a um dirigente do CDS a sugerir uma rutura na coligação.
Ventura - advogado militante do PSD que ganhou notoriedade fazendo comentários desportivos pró-Benfica na CMTV - disse, nomeadamente, que a "etnia cigana tem de interiorizar o Estado de direito porque, para eles, as regras não são para lhes serem aplicadas".
Isto é, usam por exemplo casas camarárias sem pagar e sem que a autarquia os despeje, vivendo portanto num "sentimento de enorme impunidade, sentem que nada lhes vai acontecer" e criando no concelho zonas de "autopoder", como a Quinta da Fonte, "onde são eles que mandam, a polícia não entra".
No Facebook, o deputado socialista Filipe Neto Brandão, leu nesta "deplorável" entrevista manifestações de "racismo" e "o repúdio da tradição humanista penal de Figueiredo Dias e Costa Andrade". Concluiu com um desafio ao líder do PSD: "Passos Coelho ainda vai a tempo de impedir que este possa ser discurso do PSD numa autarquia, seja ela qual for. Não o fazendo, Passos Coelho será conivente com o candidato e o PSD descerá um enorme degrau na sua degradação moral (não, o racismo não tem desculpa nem justificação)."
Idália Serrão, sua camarada de bancada, alinhou pelo mesmo diapasão: "O racismo, o incitamento ao ódio e a generalização como via para o populismo. A criatura que se assina não é um anónimo. Fala em representação do PSD, pelo qual é candidato a uma das maiores autarquias da área metropolitana de Lisboa. Aguarda-se a tomada de posição e a ação efetiva dos dirigentes deste partido."
E ainda o diplomata (na reforma) e ex-governante do PS Francisco Seixas da Costa, também escrevendo no Facebook: "O PSD tem muito pouco tempo para 'pôr os pontos nos is' neste assunto. É que a 'cereja em cima do bolo' seria, naturalmente, um eventual elogio do PNR a tais declarações."
No seu entender, há um "consenso maioritário prevalecente no seio dos partidos representados na AR sobre questões ligadas à luta contra discriminação de minorias étnicas - facto de que Portugal sempre se orgulha no plano externo e que lhe tem valido alguns encómios em fóruns multilaterais", pelo que "um silêncio da direção do PSD sobre estas declarações funcionaria como uma objetiva rutura desse consenso, deslocando o nome do partido para um terreno eticamente muito pouco cómodo".
Através do respetivo assessor de imprensa, o DN pediu uma reação a Pedro Passos Coelho. Por ora, sem resposta.
No CDS, partido que alinha com o PSD na coligação pela qual Ventura é cabeça de lista, também já se fez ouvir pelo menos uma opinião critica das afirmações do candidato. O advogado Francisco Mendes da Silva, membro da comissão política nacional do partido, escreveu que "não há praticamente nada" que o candidato diga que ele "não considere profundamente errado, ligeiro, fruto da ignorância e de um populismo que tanto pode ser gratuito, telegénico ou eleitoralista".
Sugerindo uma rutura na coligação, acrescentou: "Já o vi falar de tudo e mais alguma coisa, em muitos casos de assuntos que conheço técnica e/ou factualmente. Nunca desilude na impreparação e no gosto em ser o porta-estandarte das mais variadas e assustadoras turbas. Se perder, tudo bem: que nem mais um dia o meu partido fique associado a tão lamentável personagem."