NATO quer peritos portugueses na inspeção às secretas

A decisão foi recebida como uma prova de confiança nas autoridades nacionais, apesar das secretas não terem detetado logo as fugas de informação secreta da NATO protagonizadas pelo espião do SIS, Frederico Carvalhão Gil

O departamento de segurança do quartel-general da Aliança Atlântica (NATO Office of Security - NOS) decidiu delegar em peritos portugueses, do Gabinete Nacional de Segurança (GNS), a inspeção às secretas portuguesas. Esta medida pretende apurar as falhas de procedimentos de segurança que permitiram ao espião do Serviço de Informações de Segurança (SIS), Frederico Carvalhão Gil, ter acesso, quando estava proibido, a documentos secretos da organização que estavam numa base de dados própria, supostamente protegida por fortes medidas de segurança.

De acordo com a normas de segurança da NATO, explica o GNS "qualquer quebra de segurança ou comprometimento de informação classificada será sempre alvo de uma investigação levada a cabo por peritos com experiência em segurança de matérias classificadas, investigação e, quando necessário, também com experiência em contrainformação e que não tenham qualquer ligação com as pessoas diretamente envolvidas na situação". Neste caso, confirmou ao DN fonte oficial do GNS, "por o incidente ter sido comunicado à NATO e porque o GNS é o órgão de segurança independente e adequado, em coordenação com o NOS ficou acordado que a inspeção seria levada a cabo pelo GNS".

Carvalhão Gil foi detido há duas semanas em Itália, na operação "Top Secret" que juntou a Unidade Nacional de Contraterrorismo da e as forças especiais italianas, com um alegado espião do SVR russo (ex-KGB), o qual seria o recetor dos relatórios e outras informações classificados. Foi esta terça-feira interrogado pelo juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal, Ivo Rosa. Os procuradores do Ministério Público titulares do inquérito, João Melo e Vítor Magalhães, apresentaram as provas que sustentam a suspeita da prática dos crimes pelos quais Carvalhão Gil está indiciado: espionagem, corrupção, violação de segredo de Estado e branqueamento de capitais.

O Gabinete Nacional de Segurança é dirigido por um oficial de topo da Armada, o almirante Torres Sobral, e representa a unidade de segurança da NATO, tendo responsabilidade pela matéria classificada que a organização envia para o nosso país. A equipa de inspetores já está constituída e inclui dois coronéis. "Inspetores devidamente qualificados para a execução desta missão", garante o GNS.

Fonte oficial do Gabinete disse que "a inspeção irá realizar-se no mais curto espaço de tempo possível, estando dependente da informação recolhida fruto da análise e exploração de todo o material apreendido". O DN sabe que esta investigação do GNS pode durar vários meses e que, embora dirigida exclusivamente às fugas da base de dados da NATO, pode estender-se também à verificação das falhas de segurança em relação aos documentos confidenciais e secretos nacionais que Carvalhão Gil também conseguiu copiar e levar do serviço, quebrando elementares regras de segurança sem ser detetado.

Segundo o Expresso, entre esses documentos estão listas com a identidade e contactos dos espiões portugueses, relatórios de operações internas e contactos internacionais, que podem estar neste momento nas mãos das secretas de Vladimir Putin. Os serviços de informações precisam dar provas de confiança e credibilidade a nível internacional e entendem ser determinante para esse efeito que seja uma entidade independente e qualificada como o GNS a executar essa investigação.

A decisão do NOS foi recebida como uma prova de confiança nas autoridades nacionais da parte da NATO, apesar da dimensão internacional que ganhou o caso e de ainda estar por avaliar a dimensão dos estragos causados à Aliança e à defesa dos estados-membros. "A confiança e credibilidade das entidades nacionais cuja missão é garantir a proteção e salvaguarda da informação classificada NATO" é a justificação do GNS, quando questionado sobre o motivo que levou o NOS a escolher os peritos nacionais."

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