Moura Caetano triunfa entre Figuras
Quando os cartéis são "mais do mesmo" e as corridas não têm, por isso, razão de ser, limitam-se a ser só mais umas. O público não vai. Ontem não foi uma noite dessas em Lisboa. Foi uma enchente na Catedral do Toureio a Cavalo, noite que se vislumbrava grande desde o início da tarde, com muitas caras conhecidas da televisão, futebol, teatro, política, música e um público sedento de ver os seus ídolos.
Os toiros de David Ribeiro Telles, depois de, nas últimas temporadas, terem triunfado fortemente na arena do Campo Pequeno, ontem foram brandos. Muitas vezes "bons" e lidáveis, mas transmitindo pouco, ninguém imaginava que iam ser assim os de ontem... Piores que o habitual, mansos. Muito distantes da linha habitual da ganadaria. Coisas que acontecem... mas que não deviam acontecer!
Quanto à apresentação, na maioria foram bastos e feios de tipo. Os pesos oscilaram entre os 528 kg e os 651 kg! O de melhor comportamento foi o primeiro da noite. Já o pior, foi o enervante inofensivo quinto...
António Ribeiro Telles, nos último anos, tem triunfado fortemente no Campo Pequeno. Apresenta-se sempre ao mais alto nível e para triunfar, mas ontem não foi a sua noite. Por maior que ele seja - e é -, quando não há matéria-prima, não há hipóteses de fazer valer o seu verdadeiro valor. Por maior que tenha sido o empenho, a entrega, a arte e a maestria - maestria, mesmo! - de António Ribeiro Telles, ontem esteve a anos luz do que nos tem habituado. Nada a gosto no seu primeiro e no seu segundo lá deu um ar da sua graça nos últimos ferros. Este Toureiro precisa de toiros, assim como as omeletas, lá está, precisam de ovos. E sem toiros, meus amigos...
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O Toureio a Cavalo, hoje em dia, no Campo Pequeno, por mais indigestões que isso dê a muito boa gente e a mim por vezes dá, é dos espanhóis. E é, sobretudo, de Pablo Hermoso de Mendoza, um consentido do público lisboeta que o acarinha como poucos e lhe perdoa quase tudo... O Campo Pequeno "explodiu" com o espetáculo - porque de um espetáculo se trata - de Pablo Hermoso de Mendoza. A loucura não foi total, como de outras vezes, mas esteve quase perto disso no primeiro do seu lote. O público em jubilo a cada ferro, a cada recorte, a cada "bonito" que fez. Quase sete mil almas a vibrar, em euforia, em apoteose, a bater palmas "desalmadamente". No seu segundo toiro, sem o mínimo de emoção e raça, desenvolveu uma lide muito templada, havendo que ressalvar a brega e o esforço na colocação do toiro, só assim conseguindo, praticamente sem a intervenção da quadrilha, cravar os ferros da ordem.
João Moura Caetano podia ontem ter acusado a pressão de estar a tourear ao lado de duas figuras do Toureio. Mas o João não se inibiu. No seu primeiro toiro deu o mote para o que haveria de ser uma noite diferente. Diferente mesmo e em todos os aspetos. Moura Caetano veio para triunfar e triunfou! Teve rasgos de bom toureio e aprumos de bom gosto. Brega excelente, lide primorosa, ferros de grande emoção.
No sexto toiro pôs a carne toda no assador. Brilhou, sobretudo, a lidar e a bregar, voltou a chamar as atenções. A sua presença, "entalado" entre dois figurões, aproveitou-a ele da melhor forma para reafirmar o bom momento que atravessa e a brilhante temporada que tem estado a cumprir, deixando grandes ferros, com destaque para o que fechou a corrida.
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Para os forcados amadores de Lisboa e de Coruche, a noite foi "calma" até ao sexto da noite. Um toiro bruto e violento, que causou muitas dificuldades aos Amadores de Coruche.
Martin Lopes esteve bem a recuar, mandando na investida, e fechou-se com decisão à primeira. Consumou com valentia a primeira dura pega da noite pelos Amadores de Lisboa, ao primeiro da noite.
Duarte Mira, dos Amadores de Lisboa, numa boa pega ao primeiro intento, esteve bem em todos os tempos da pega, com o grupo a ajudar com decisão.
João Varanda, também dos Amadores de Lisboa, à segunda tentativa, pega brindada ao antigo forcado montemorense, Simão Comenda.
Miguel Ribeiro Lopes, dos Amadores de Coruche, à primeira tentativa, numa pega vistosa e muito aplaudida pelo público.
O valente João Ferreira esteve novamente enorme a pegar o quarto da noite à primeira tentativa, com o grupo a ajudar com decisão e a entrar no momento certo.
Para a cara do sexto da noite saltou Miguel Raposo, que se lesionou na primeira tentativa. Foi dobrado por António Tomás, que andou com valentia mas pouca calma, foi à cara do toiro cinco vezes e com ajudas carregadas consumou a pega.
Dirigiu a corrida Tiago Tavares, que sem se perceber bem o porquê não autorizou volta ao cavaleiro Moura Caetano no terceiro da corrida. Critérios... Foi assessorado pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva.
Durante a volta à arena, depois da lide do terceiro toiro, entrou na arena um energúmeno que se dizia antitaurino em tom de protesto (detido e encaminhado para os calabouços da PSP). Ele existe gente para tudo... e como de energúmeno não passará, não me vou estender em mais comentários!
Síntese da corrida:
Toiros de David Ribeiro Telles, feios de tipo, nobres, sonsos e a menos.
Cavaleiros: António Ribeiro Telles (Silêncio e Volta); Pablo Hermoso de Mendonza (Volta e Volta); Moura Caetano (Ovação e Volta)
Forcados: Amadores de Lisboa - Martim Lopes (Volta); Duarte Mira (Volta); João Varandas (Volta). Amadores de Coruche - Miguel Ribeiro Lopes (Volta); João Ferreira (Volta); António Tomás (Silêncio)
*As voltas à arena, no final das lides, são concedidas pelo diretor de corrida como prémio à qualidade artística da atuação dos intervenientes ou pela bravura dos toiros