Marcelo mostrou em relação ao governo "subtil distanciamento"
Marques Mendes disse na SIC que o Presidente mostrou-se confiante e distante do governo na entrevista ao DN.
Marcelo "não passou a adversário do Governo mas deixou de ser o que alguns apelidavam de "porta-voz" do Governo"". Foi com esta frase que Luís Marques Mendes comentou este domingo na SIC as posições assumidas pelo Presidente da República na entrevista dada ao DN na edição de domingo.
Para Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se "um Presidente confiante", marcando um distanciamento subtil em relação ao Governo. "É subtil mas é distanciamento. Vê-se nas linhas e nas entrelinhas", sublinhou Mendes, apontando Pedrógão e Tancos como exemplos de que o Presidente e o Governo "têm visões diferentes".
Com Marcelo a declarar que os partidos da geringonça "têm de decidir se querem durar até ao fim da legislatura", os partidos que apoiam o Governo PS - cujo partido também não fez comentários até ao fecho desta edição - reagiram de forma diferente. Ao contrário do BE, a resposta do PCP ao DN foi quase lacónica: "O sentido central da intervenção no PCP [...] é e continuará a ser determinado pelo objetivo de assegurar a concretização de medidas que garantam o prosseguimento da defesa, reposição e conquista de direitos dos trabalhadores e do povo português. É essa verificação que a cada momento determina as posições e decisões do PCP."
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Catarina Martins, líder do BE citada pela Lusa à margem do acampamento de verão bloquista em São Gião (Oliveira do Hospital), referiu que a estabilidade política em Portugal mede-se pelo cumprimento dos compromissos e pela ideia de que a política traz soluções às pessoas em vez de lhes criar problemas.
"Enquanto no quadro parlamentar cumprirmos todos a nossa parte, e o BE cumpre, para que todos os dias tenhamos soluções para as pessoas e não criar novos problemas, digamos que a estabilidade parlamentar está também assegurada", realçou Catarina Martins, adiantando: "Há estabilidade quando a política resolve problemas das pessoas em vez de criar problemas novos e, durante quatro anos de maioria absoluta PSD/CDS-PP com a "troika", vivemos com enorme instabilidade política porque as pessoas todos os dias tinham problemas novos." O No bloco político, nem PSD nem CDS quiseram comentar a entrevista do Presidente.
O caso de Tancos
A posição do Presidente sobre o caso de Tancos levou este domingo o general Loureiro dos Santos a dizer que o Comandante Supremo das Forças Armadas "tem a capacidade de agir sem ferir os comandados". "O atual Presidente da República tem essa capacidade" como Comandante Supremo, "dá as suas orientações mas sempre de forma suficientemente cautelosa e hábil para que os seus subordinados militares pensem que está a fazer uma crítica", considerou Loureiro dos Santos, que foi ministro da Defesa e chefe do Estado-Maior do Exército.
Na entrevista ao DN, quando questionado sobre o furto nos paióis de Tancos, Marcelo Rebelo de Sousa escusou-se a falar do estado (mais ou menos obsoleto) em que estava o material desaparecido ou sobre o seu valor - como fez o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), general Pina Monteiro -, argumentando ser necessário esperar pelo resultado das investigações em curso: "Há de haver o elenco de matérias furtadas e naturalmente a sua relevância, a sua importância. É isso que nós vamos saber e todos queremos saber na altura devida, não é só o Comandante Supremo das Forças Armadas, é o cidadão comum que quer saber." "Não espera que eu comente aguardando as conclusões da investigação", insistiu o Presidente, perante a observação do DN de que o CEMGFA falara do estado de algum material e do seu valor.
Loureiro dos Santos afirmou, contudo, não ver críticas do Presidente ao general Pina Monteiro, pois este chefe militar "foi muito cauteloso" quando abordou o tema (no final da reunião com o primeiro-ministro e depois no Parlamento) porque "remeteu tudo para o futuro" - leia-se após concluídas as investigações. "Do que li e ouvi" da entrevista presidencial, prosseguiu o general, "as suas palavras parecem-me adequadas e ajustadas, não são dissonantes com a realidade nem com os seus poderes de Comandante Supremo".
Recorde-se que o Chefe do Estado enfatizou não ter desdramatizado o caso e que "se há responsabilidades, tem de haver responsáveis" pelo que ocorreu e que "no futuro não pode voltar a acontecer".