Um juiz federal e um procurador argentinos chegam neste fim de semana a Lisboa para se encontrarem com Rodolfo "El Ruso" Lohrman e Horacio Maidana, dois compatriotas que estão detidos na prisão de alta segurança de Monsanto (Lisboa) a aguardar julgamento onde são acusados de assaltar bancos - na zona de Lisboa e Odivelas - e de planear o mesmo as carrinhas de transporte de valores, em Aveiro..Crimes que não interessam aos magistrados que vão encontrar-se com a dupla mais procurada na Argentina e para a qual o país já pediu a extradição. Este deve ser o motivo da visita a Portugal, apesar de nada ter sido comunicado ao advogado de "El Ruso", Lopes Guerreiro, que apenas recebeu uma notificação para estar na prisão pelas 14.00 de segunda-feira porque o Ministério Público quer falar com o seu cliente..Desde 2003 que as autoridades daquele país procuravam "El Ruso" e Maidana por, nomeadamente, terem sequestrado Christian Schaerer (na altura com 21 anos) e recebido um resgate de 277 mil dólares (225 mil euros). O filho de Pedro Schaerer, que foi o responsável pela área da saúde na província de Corrientes (no Noroeste da Argentina), está desaparecido desde o rapto, apesar de a família ter pago o resgate..Os dois sul-americanos foram detidos com mais três indivíduos em Aveiro, em novembro de 2016, quando estariam a preparar assaltos a carrinhas de transporte de valores. O grupo já estava a ser investigado, num processo liderado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Loures, por suspeita de serem os autores de vários assaltos a bancos na zona de Lisboa..O que a Polícia Judiciária não sabia era que estava a deter duas das pessoas mais procuradas na Argentina e que estavam fugidas do país há anos. O que descobriu mais tarde, pois as identificações que "El Ruso" (festejou o 53.º aniversário a 5 deste mês, em Monsanto), e Maidana (57 anos e cuja extradição foi autorizada) apresentaram eram, respetivamente, José Martinez e Jairo Casanova. Aliás, Maidana foi notícia esta semana por tentar fugir da prisão. Aproveitando a hora ao ar livre a que tem direito, tentou, com a ajuda de outros reclusos e de uma corda feita com lençóis, transpor um muro, o que não conseguiu..80 mil euros por informações.Desde 2003 que as autoridades argentinas tentam encontrar os dois homens. Pediram ajuda ao Brasil, ao Paraguai - pelo menos "El Ruso" terá vivido neste país depois do sequestro de Christian Schaerer - e à Interpol. A dupla é suspeita no seu país de vários crimes, entre eles sequestros pelos quais pediam resgates e também assaltos a bancos..Dos dois, Rodolfo "El Ruso" Lohrman é a principal figura. De acordo com notícias que foram sendo publicadas na imprensa argentina citando fontes policiais, teve várias identidades falsas, três companheiras, viveu no Paraguai, no Brasil - seria o líder de uma rede de tráfico de droga - e até terá feito passar a mensagem de que teria morrido. Certo é que até foram oferecidos cem mil dólares (cerca de 80 mil euros) como recompensa para quem o entregasse às autoridades, o que nunca aconteceu, até porque veio para a Europa, onde foi detido na Bulgária por roubo e posse de explosivos..Estava a cumprir pena quando fugiu. E é por isso que também aquele país entregou um pedido de extradição, que já foi aceite por Rodolfo Lohrman, disse ao DN o advogado Lopes Guerreiro, que, pelo contrário, se opôs à entrega do seu cliente às autoridades argentinas, estando a aguardar o resultado da contestação que apresentou junto do Tribunal da Relação de Lisboa. De qualquer forma terá, como Maidana, de cumprir em Portugal uma eventual pena a que venha a ser condenado. Depois "El Ruso" será extraditado para a Bulgária e só a seguir é que poderá ser entregue às autoridades do seu país..Toda esta vida ligada à criminalidade, segundo as acusações das polícias, terminou em 16 de novembro de 2016 quando foi detido em Aveiro, onde estaria, com outros elementos do grupo, a vigiar as rotinas das carrinhas de transporte de valores na cidade. No mesmo dia, na Ericeira, foi detido um outro membro do grupo..O gangue tinha cinco elementos, todos estão em prisão preventiva - três em Monsanto (onde não se podem cruzar e por isso a hora diária no pátio a que têm direito é diferente), um no Estabelecimento Prisional de Lisboa e outro em Vale de Judeus e estão acusados de roubo, detenção de arma ilegal, furto qualificado, falsas declarações, condução sem habilitação legal (não tinham carta de condução portuguesa), roubo qualificado, associação criminosa, branqueamento de capitais e furto simples. O início do julgamento está marcado para 12 de março, em Loures.