Juiz argentino vai à prisão de Monsanto interrogar dupla mais procurada do país

Um procurador e um juiz daquele país sul-americano vêm a Lisboa falar com Rodolfo "El Ruso" Lohrman e Horacio Maidana, procurados há 14 anos pelo sequestro de um jovem. Foram detidos por roubos a bancos
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Um juiz federal e um procurador argentinos chegam neste fim de semana a Lisboa para se encontrarem com Rodolfo "El Ruso" Lohrman e Horacio Maidana, dois compatriotas que estão detidos na prisão de alta segurança de Monsanto (Lisboa) a aguardar julgamento onde são acusados de assaltar bancos - na zona de Lisboa e Odivelas - e de planear o mesmo as carrinhas de transporte de valores, em Aveiro.

Crimes que não interessam aos magistrados que vão encontrar-se com a dupla mais procurada na Argentina e para a qual o país já pediu a extradição. Este deve ser o motivo da visita a Portugal, apesar de nada ter sido comunicado ao advogado de "El Ruso", Lopes Guerreiro, que apenas recebeu uma notificação para estar na prisão pelas 14.00 de segunda-feira porque o Ministério Público quer falar com o seu cliente.

Desde 2003 que as autoridades daquele país procuravam "El Ruso" e Maidana por, nomeadamente, terem sequestrado Christian Schaerer (na altura com 21 anos) e recebido um resgate de 277 mil dólares (225 mil euros). O filho de Pedro Schaerer, que foi o responsável pela área da saúde na província de Corrientes (no Noroeste da Argentina), está desaparecido desde o rapto, apesar de a família ter pago o resgate.

Os dois sul-americanos foram detidos com mais três indivíduos em Aveiro, em novembro de 2016, quando estariam a preparar assaltos a carrinhas de transporte de valores. O grupo já estava a ser investigado, num processo liderado pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Loures, por suspeita de serem os autores de vários assaltos a bancos na zona de Lisboa.

O que a Polícia Judiciária não sabia era que estava a deter duas das pessoas mais procuradas na Argentina e que estavam fugidas do país há anos. O que descobriu mais tarde, pois as identificações que "El Ruso" (festejou o 53.º aniversário a 5 deste mês, em Monsanto), e Maidana (57 anos e cuja extradição foi autorizada) apresentaram eram, respetivamente, José Martinez e Jairo Casanova. Aliás, Maidana foi notícia esta semana por tentar fugir da prisão. Aproveitando a hora ao ar livre a que tem direito, tentou, com a ajuda de outros reclusos e de uma corda feita com lençóis, transpor um muro, o que não conseguiu.

80 mil euros por informações

Desde 2003 que as autoridades argentinas tentam encontrar os dois homens. Pediram ajuda ao Brasil, ao Paraguai - pelo menos "El Ruso" terá vivido neste país depois do sequestro de Christian Schaerer - e à Interpol. A dupla é suspeita no seu país de vários crimes, entre eles sequestros pelos quais pediam resgates e também assaltos a bancos.

Dos dois, Rodolfo "El Ruso" Lohrman é a principal figura. De acordo com notícias que foram sendo publicadas na imprensa argentina citando fontes policiais, teve várias identidades falsas, três companheiras, viveu no Paraguai, no Brasil - seria o líder de uma rede de tráfico de droga - e até terá feito passar a mensagem de que teria morrido. Certo é que até foram oferecidos cem mil dólares (cerca de 80 mil euros) como recompensa para quem o entregasse às autoridades, o que nunca aconteceu, até porque veio para a Europa, onde foi detido na Bulgária por roubo e posse de explosivos.

Estava a cumprir pena quando fugiu. E é por isso que também aquele país entregou um pedido de extradição, que já foi aceite por Rodolfo Lohrman, disse ao DN o advogado Lopes Guerreiro, que, pelo contrário, se opôs à entrega do seu cliente às autoridades argentinas, estando a aguardar o resultado da contestação que apresentou junto do Tribunal da Relação de Lisboa. De qualquer forma terá, como Maidana, de cumprir em Portugal uma eventual pena a que venha a ser condenado. Depois "El Ruso" será extraditado para a Bulgária e só a seguir é que poderá ser entregue às autoridades do seu país.

Toda esta vida ligada à criminalidade, segundo as acusações das polícias, terminou em 16 de novembro de 2016 quando foi detido em Aveiro, onde estaria, com outros elementos do grupo, a vigiar as rotinas das carrinhas de transporte de valores na cidade. No mesmo dia, na Ericeira, foi detido um outro membro do grupo.

O gangue tinha cinco elementos, todos estão em prisão preventiva - três em Monsanto (onde não se podem cruzar e por isso a hora diária no pátio a que têm direito é diferente), um no Estabelecimento Prisional de Lisboa e outro em Vale de Judeus e estão acusados de roubo, detenção de arma ilegal, furto qualificado, falsas declarações, condução sem habilitação legal (não tinham carta de condução portuguesa), roubo qualificado, associação criminosa, branqueamento de capitais e furto simples. O início do julgamento está marcado para 12 de março, em Loures.

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