Jerónimo de Sousa conseguiu inflamar os ânimos dos milhares de presentes que torravam ontem, sob um calor sufocante no fecho da Festa do Avante!: "O PCP mantém total liberdade e independência políticas.".Num discurso de cerca de 50 minutos, no Seixal, o secretário-geral comunista declarou que a solução política saída das eleições de outubro passado - conhecida como geringonça - "traduziu-se não na formação de um governo de esquerda" nem na criação de uma maioria de esquerda no Parlamento nem numa "situação em que o PCP seja força de suporte ao governo" socialista de António Costa..Pelo contrário, enfatizou Jerónimo de Sousa, nasceu "uma relação de forças em que PSD e CDS-PP estão em minoria" e tanto o PCP como os Verdes - nem uma palavra para o Bloco de Esquerda - "condicionam decisões e são determinantes e indispensáveis à reposição e conquista de direitos e rendimentos" para os trabalhadores e o povo..Discursando no Palco 25 de Abril, acompanhado - pela primeira vez num comício do PCP - por intérpretes de língua gestual, Jerónimo de Sousa acusou também o PSD e o CDS de estarem "apostados na desestabilização do país a todo o custo", afirmando a seguir que as opções políticas do PS "são um grave bloqueio à resposta" para resolver os problemas do país - o que poderá deixar num dilema a "total liberdade e independência políticas" do PCP, se voltarem a surgir condições equivalentes às que levaram à queda do governo Sócrates e à vitória eleitoral da direita em 2011, pela qual muitos responsabilizaram o PCP e deixou, nas palavras do próprio secretário-geral, um "rasto de declínio económico com a destruição de força e capacidade produtivas do país"..Note-se que, apesar de afirmar que "a solução política alcançada não substitui a necessária e cabal resposta aos muitos e graves problemas que anos e anos de política de direita" implementada por "PSD, PS e CDS", Jerónimo de Sousa reconheceu que a geringonça "permitiu travar e inverter no imediato o curso de uma ofensiva brutal e responder [...] a problemas prementes dos trabalhadores e do povo" - para o que elencou muitas das medidas aprovadas com o contributo ou sob proposta do PCP..Já com o início dos trabalhos parlamentares à porta e a serem dominados pela apresentação e discussão do Orçamento do Estado para 2017, Jerónimo de Sousa exclamou: "A nossa decisão será determinada sempre pelo seu conteúdo. O nosso compromisso é examinar a proposta, [...] propor e encontrar soluções para que prossiga uma linha de devolução e reposição de direitos, de respeito pelos salários, de aumento das pensões, mas também de dar resposta aos problemas do crescimento, do emprego e do desenvolvimento.".De frente para grandes painéis em torno do largo fronteiro e onde se liam frases como "Política patriótica e de esquerda, mais força ao PCP", "A banca ou é pública ou não é nacional", "Basta de submissão à UE e ao euro" ou "Renegociar a dívida, defender a soberania nacional", Jerónimo de Sousa mostrou-se enfático: "O futuro de Portugal exige a rutura com as imposições e chantagens que visam perpetuar a submissão, a exploração, o endividamento e o empobrecimento" de Portugal e dos portugueses..Ainda sobre a atual solução política de um governo PS com o apoio parlamentar dos três partidos de esquerda, que "não substitui a necessária e cabal resposta aos muitos e graves problemas" existentes, Jerónimo denunciou o que qualifica como "a sistemática hostilidade e a forte resistência das forças do grande capital nacional e transnacional e dos seus aliados políticos internos e externos".."Duas ameaças e uma ilusão"."PSD e CDS intrigam e deturpam para confundir os portugueses. Mentem sobre a solução política e o atual quadro político", promovendo "toda uma campanha" que associa "tragédias e iminentes catástrofes" à política e propostas de "devolução de direitos e rendimentos", acusou o secretário-geral comunista, adiantando: "É vê-los a ampliar mentiras e manobras contra o interesse nacional, da inevitabilidade dos "planos B" de regresso ao saqueio do povo" à "germânica operação de um novo resgate"..É por tudo isso, argumentou Jerónimo de Sousa, que a solução dos problemas do país no quadro de "evolução da nova fase da vida política nacional [...] está confrontada com duas ameaças, que intimamente se articulam com a necessidade da superação de uma perigosa ilusão que permanece"..As ameaças que identificou foram a "insidiosa ação dos partidos do revanchismo, PSD e CDS, apostados que estão na desestabilização do país a todo o custo" e a que se "desenvolve a partir da UE com o mesmo objetivo de fazer implodir qualquer solução que ponha em causa a orientação da política dominante", acusou o líder do PCP..Sobre "a ilusão", prosseguiu, resulta de se considerar que "é possível" resolver os problemas nacionais "com simples ajustamentos ao modelo imposto pelo processo de integração capitalista da UE e sem o libertar das amarras da política que o conduziu à crise e à ruína"..Nesse sentido é que Jerónimo de Sousa apontou também as baterias contra o PS, declarando que as suas opções políticas constituem "um grave bloqueio à resposta aos problemas do país" por "não romper com os constrangimentos externos" da UE nem com "os interesses do capital monopolista"..Acresce que essas opções do PS, insistiu o dirigente comunista a três meses da realização XX Congresso do partido, são "também uma forma de favorecer as forças que querem impor o regresso ao passado e continuar a levar o país pelo caminho da crise e ao declínio".