Há uma nova bandeira no mapa dos países que querem contratar médicos portugueses: a do Azerbaijão. Depois do Reino Unido, França, Bélgica, Suíça ou até a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, destinos para onde os profissionais de saúde emigraram em grande número nos últimos anos, em especial empurrados pela crise financeira, agora é um hospital de Baku (a capital azeri) acabado de inaugurar que quer recrutar especialistas nacionais para quase uma dezena de áreas. E promete rivalizar com os valores praticados no Golfo Pérsico..O anúncio publicado esta semana no site da Ordem dos Médicos arranca com uma frase ambiciosa: "O hospital internacional Bona Dea, em Baku, tem a missão de ser líder na região do Cáspio". Inaugurado no final de março pelo presidente Ilham Aliyev, o Bona Dea (A Boa Deusa da fertilidade na mitologia romana) pede, além de cirurgiões, especialistas para áreas tão diferentes como pediatria, ginecologia, dermatologia, oftalmologia, pneumologia, gastrenterologia, endocrinologia e medicina interna..O hospital exige experiência mínima de dez anos e fluência na língua inglesa, em troca de "um salário muito competitivo", mais habitação e viagens. Ordenados que vão comparar "com os oferecidos na Arábia Saudita ou nos Emirados Árabes Unidos", adianta Herwig Fleerackers, membro do conselho diretivo do hospital azeri, que falou ao DN a partir de Baku..Tendo em conta anúncios recentes para recrutamento de médicos portugueses, os hospitais da zona do Golfo Pérsico oferecem salários na ordem dos 12 mil euros mensais..Mas porquê o interesse em profissionais portugueses? "Como trabalhei na área farmacêutica durante muitos anos, conheço bem o sistema português, portanto também sei da grande qualidade que os médicos, e também os enfermeiros, portugueses têm", explica este administrador hospitalar belga, que está no Azerbaijão já há sete anos. Na prática, esta antiga república soviética no Cáucaso, na fronteira entre a Europa e a Ásia, vê em países como Portugal, Espanha e Itália uma boa base de recrutamento, que o seu sistema de ensino ainda não fornece..Emigração para fugir à falta de vagas.Se a emigração foi uma válvula de escape também para muitos profissionais de saúde durante os anos da crise financeira, pode num futuro próximo continuar a ser solução neste setor, agora mais para quem procura um lugar no estrangeiro para tirar a especialidade, por falta de vagas em Portugal. Número que este ano, à semelhança de 2017, se situa nos 700 e que ameaça aumentar no futuro..E enquanto o Azerbaijão pede experiência de dez anos, a oferta para destinos "clássicos" parece não ter esmorecido e impõe menos regras. Ao pesquisar anúncios de empresas médicas num dos sites de emprego mais visitados do país, surgem desde logo doze que pedem clínicos gerais para a Irlanda. Isto só na última semana. Pedem licenciatura em Medicina, sem requisito de qualquer especialidade, e referem apenas que a experiência prévia "é uma mais-valia". Prometem remuneração média anual de 90 mil euros.."Já se começou a perceber que começaram a vir buscar médicos indiferenciados ao nosso país, mas neste momento o que se nota mais em termos de emigração no setor é que os médicos procuram um lugar para tirar a especialidade lá fora", explica Edson Oliveira, que liderou o Conselho Nacional do Médico Interno entre 2015 e 2017 e ainda integra a Ordem dos Médicos. "Depois do ano comum, o médico tem autonomia de prática clínica, portanto pode ir para qualquer país do espaço europeu e o que se percebe é que consegue de facto lugar nesses países, principalmente na Suíça, na Bélgica, França, Reino Unido e países nórdicos. E consegue porque a qualidade da nossa formação já é reconhecida. A procura de especialidade lá fora é de facto novidade", reconhece Edson Oliveira, que defende que ainda há um grande mercado na Europa para a emigração de especialistas..Também o presidente da Federação Nacional dos Médicos admite que o interesse de outros países em médicos sem formação específica pode aumentar na mesma proporção do crescimento do número de jovens sem acesso à especialidade. Mas João Proença prefere centrar a crítica noutro sentido." Há interesse em que haja muitos médicos sem formação específica, para servir os interesses das empresas de prestação de serviços, que depois completam os quadros dos hospitais a ganhar o dobro em relação aos profissionais do quadro". Os médicos indiferenciados podem prestar serviço, por exemplo, em urgências hospitalares e centros de saúde, mas com tarefas de menor responsabilidade e não podem ter lista de utentes.