O Governo vai aguardar por outros dois inquéritos e analisar o relatório da Comissão Técnica Independente com ponderação, para retirar depois todas as conclusões - eventuais indemnizações incluídas, explicou-se ontem o primeiro-ministro, António Costa..Já a oposição parlamentar retirou duas ideias: PSD e CDS insistiram que o primeiro-ministro e a ministra da Administração Interna têm responsabilidades nas falhas apontadas pelo relatório. Constança Urbano de Sousa "já está demitida", apontou mesmo o CDS..Segundo o deputado laranja Carlos Abreu Amorim, "o PSD não pede a demissão da ministra da Administração Interna porque o PSD não pede a demissão de nenhum membro do Governo, mas chama a atenção de que, a partir do momento em que temos este relatório nas nossas mãos, é absolutamente impossível que o poder político fique alheado destas conclusões"..Com os ministros da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e da Agricultura, Capoulas Santos, ontem, ao seu lado, o primeiro-ministro reconheceu que "as responsabilidades que estiverem apuradas terão de ter as devidas consequências, sejam elas quais forem". E, de caminho, António Costa explicou que, na próxima quarta-feira, vai receber a Associação dos Familiares das Vítimas..O chefe de Governo recusou-se a antecipar conclusões, mesmo quando questionado sobre a exigência de indemnizações do Estado feito pelos familiares das vítimas do incêndio de Pedrógão Grande. "Na nota [da Comissão Técnica Independente] enviada à comunicação social são apontadas falhas concretas ao comando da Proteção Civil na fase inicial da operação e são descritas outras falhas. São registados também alguns fenómenos, designadamente aqueles que estiveram imediatamente associados ao momento da generalidade das vítimas mortais, mas não podemos tirar conclusões definitivas. Devemos ler o relatório e eu próprio quero ouvir o que as famílias das vítimas têm a dizer sobre a matéria", justificou, citado pela Lusa..António Costa notou ainda que na próxima semana será apresentado um outro relatório, a autoria do professor universitário Francisco Xavier Viegas, sobre a dinâmica do fogo, e que há um inquérito crime a decorrer. "Esse inquérito crime, naturalmente, não está limitado pelas conclusões desta" comissão, completou o primeiro-ministro..O social-democrata defendeu ainda que, perante as conclusões do relatório hoje divulgado, "está tecnicamente provado" que "o Estado falhou" e, portanto, deve assumir as suas responsabilidades..O PSD duvida que as indemnizações venham a ser pagas em tempos aceitáveis. Para Abreu Amorim, o grupo parlamentar do PS está a praticar "boicote parlamentar", "a que os partidos de extrema-esquerda aderiram", e que as famílias das vítimas em vez de seis meses vão ter de esperar "anos e anos"..O PCP recusou a acusação. "Foi possível [na quarta-feira] concluir o processo de discussão na especialidade. É lamentável que o PSD desvalorize esta questão com base numa mentira, fazendo passar a ideia de que há pessoas que ficarão sem ajudas", apontou o deputado comunista João Ramos. Que rejeitou pedir a demissão da ministra. "O PCP não se pronuncia relativamente pessoas, mas sim a políticas. O PCP não costuma pedir cabeças deste ou daquele. O que vimos defendendo ao longo dos anos são medidas para resolver os problemas apontados", justificou..O BE, pelo deputado Pedro Soares, defendeu que "é evidente que o Estado tem responsabilidades nesta matéria", remetendo "essa apreciação" para o debate de atualidade pedido pelo PSD para hoje de manhã. E disse que "sempre que forem apuradas responsabilidades do Estado totais ou parciais do Estado relativamente aos danos causados, o Estado deve indemnizar as vítimas"..Para o líder parlamentar centrista, Nuno Magalhães, "perante este relatório e perante até as respostas do senhor primeiro-ministro a senhora ministra da Administração Interna já está demitida, só não sabe é quando". O centrista reconheceu que só teve tempo para uma "leitura preliminar" ao relatório de 296 páginas. Para o CDS, ficou "claro que houve falha de planeamento, houve falha de comando, houve falha de ação, houve falha de meios no local certo e no momento certo". "Em suma, falhou a competência."