Duas horas para percorrer pouco mais de 100 metros. Não foi de carro, nem em filas de trânsito, mas com Teresa Leal Coelho a fazer campanha nas ruas de Alcântara. A candidata do PSD não se intimida com as sondagens que a têm colocado atrás de Assunção Cristas do CDS e ontem fez questão de não só entregar o seu programa a cada vivalma com quem se cruza (ou se não cruza, ir ao seu encontro), como explicá-lo e demonstrar que dar-se por vencida não faz parte da sua forma de estar na vida..No jardim de Santo Amaro sentou-se à mesa com reformados que jogavam às cartas e conversou, tranquilamente, ao fim da tarde. Sempre de sorriso aberto, perguntou pelo jogo, quem ganhava e meteu-se com um deles: "Aquele senhor está com ar de me querer ver pelas costas para poder jogar à vontade!". "Oh doutora aqui em Alcântara são sempre todos bem-vindos, fique à vontade", retorquiu o jogador. Nesse momento chega um homem, de boina na cabeça, que é recebido efusivamente. "Olha, olha, quem aqui está! Canta lá um fadinho à senhora", desafiam. João Cachinho não se faz rogado e, em jeito de serenata, canta para Teresa um fado "à capela", que notoriamente a encanta. No final, Teresa pergunta de quem é o fado. "Ora essa, é meu. Isto não é o Tony Carreira, é tudo original", responde a rir Cachinho, que se confessa "social-democrata e admirador de Sá Carneiro". "Não tenho é gostado agora de alguma malta que anda por lá! Ah, ah, ah..." Trocam-se promessas de votos e despedidas..Na rua mais à frente, Teresa Leal Coelho decidiu sentar-se na paragem do autocarro com uma senhora que se queixou das rendas de casa elevadas. Enquanto o 742 não passou toda a "caravana" ali ficou a assistir à troca de palavras, como se a campanha estivesse só dependente daquele voto.."Não entendo esta campanha como um concurso de notoriedade", respondeu ao DN quando questionada se sentia que era mais conhecida na rua agora. Sondagens? Foge à pergunta sobre a popularidade de Assunção Cristas. "O meu adversário é Fernando Medina e os meus destinatários são as pessoas da cidade de Lisboa. É por eles que luto e são eles a razão de estar aqui", assinala..A passo mais acelerado esteve, de manhã, Assunção Cristas, que percorreu o coração do bairro de Campo de Ourique, com um grupo de apoiantes, incluindo também jotinhas, bem maior e mais ruidoso que o de Teresa. A sua notoriedade é evidente e o seu estilo afetivo cria proximidade com as pessoas. Por exemplo: quando cumprimenta a mão desliza suavemente para a nuca da pessoa, quando conversa afaga os ombros do interlocutor e abraça apertadamente, quase a fazer lembrar o estilo de "afetos" de Marcelo Rebelo de Sousa. De todo o lado se ouvem palavras de apoio. "D. Crista, D. Crista, venha cá tirar uma fotografia", grita eufórica Natália, empregada da pastelaria "Trigo da Aldeia", onde a entrada da candidata centrista provocou alvoroço. São tantas as solicitações que, à saída, Assunção confessa: "Se fosse sempre assim tínhamos maioria absoluta, até à cozinha tive de ir das beijinhos". Entre os elementos do staff mais próximo a motivação é indisfarçável.