Apoiante de Marcelo diz que "já não há ninguém" no PSD contente com o PR

José Eduardo Martins diz que o Presidente da República se "descredibilizou" com a falta de imparcialidade que revelou ao proteger o ministro das Finanças. Marcelo foi longe de mais e, garante, perdeu a compreensão do PSD

O caso CGD/Domingues/Centeno atinge, por tabela, a relação do PSD com o seu ex-líder e atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Da lua-de-mel que existiu em tempos já não sobra nada ou quase nada.

Um dos seus mais empenhados apoiantes dentro do partido, José Eduardo Martins, não gostou nada de ver Marcelo sair em defesa do ministro das Finanças, acusado pelo PSD e pelo CDS de mentir ao Parlamento no caso das polémicas em torno da passagem de António Domingues pela presidência da Caixa Geral de Depósitos.

"Ou há um documento escrito pelo senhor ministro das Finanças em que ele defende uma posição diferente da posição do primeiro-ministro ou não há. Se não há é porque ele tinha a mesma posição do primeiro-ministro, para mim é evidente", disse o Presidente da República - declaração que enfureceu Martins.

Declarando-se "um bocadinho envergonhado", José Eduardo Martins afirma que, se até já ele se tornou crítico, então "já não pode haver ninguém no PSD que esteja contente" com Marcelo. "Até aqui as pessoas [dentro do PSD] encolhiam os ombros [sempre que ouviam uma declaração do PR em defesa do governo]. Mas agora a coisa piorou muito."

Para José Eduardo Martins, sabe- -se que, historicamente, é normal os presidentes da República fazerem um primeiro mandato "a agradarem a quem não votou neles". Mas Marcelo foi, no seu entender, longe de mais, o que é incompreensível porque "ninguém pode ser feliz pegando fogo ao sítio onde nasceu".

Demissão "fora de questão"

"Custa-me muito dizer isto mas tenho de o fazer. Se há apoiante de Marcelo no PSD sou eu. Mas ele está a descredibilizar-se - a ele e à função presidencial", afirma o dirigente laranja (que é tudo menos um apoiante de Passos Coelho, embora atualmente esteja a preparar o programa eleitoral para quem for o candidato do seu partido à Câmara Municipal de Lisboa).

Ontem, o primeiro-ministro voltou a reafirmar a confiança no seu ministro das Finanças, dizendo que uma demissão "está fora de questão". "Por isso, confiança no ministro das Finanças, admiração de todo o país pelo trabalho que tem vindo a ser feito, não vou perder tempo a dedicar-me àquilo que são tricas, e sobretudo vamos fazer aquilo que temos de fazer, que é termos uma CGD forte e bem administrada."

Afirmando que Centeno "conseguiu o menor défice de sempre da nossa democracia, honrou o nosso compromisso de virar a página da austeridade e está a criar condições para que as empresas possam investir", o primeiro-ministro sublinhou ainda o seu "excelente trabalho" relativamente "a um desafio que tinha sido adiado pelo anterior governo e que tem a ver com a estabilização do sistema financeiro". "Uma após outra, serenamente, cada uma das instituições financeiras tem vindo a encontrar a boa solução", disse, referindo os casos da OPA do BPI, da capitalização do Millennium e da autorização da UE à CGD para se capitalizar.

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