A nova visão assenta em nova tecnologia, num meio de transporte sustentável e num mapeamento integrado com outros meios de transporte.
A nova visão assenta em nova tecnologia, num meio de transporte sustentável e num mapeamento integrado com outros meios de transporte.

Novo SATUO promete redefinir mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa

Com entrada em operação prevista para 2029, corredor dedicado irá servir maiores polos empresariais da região, reduzir o tráfego rodoviário nos acessos à capital e criar uma alternativa ao automóvel.
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Durante anos, o viaduto cinzento que se ergue entre a estação de Paço de Arcos e o Oeiras Parque foi memória suspensa de uma ambição interrompida. O SATUO - Sistema Automático de Transporte Urbano de Oeiras - funcionou entre 2004 e 2015 como um “monocarril” autónomo sobre carris, sem tripulação, com três estações e pouco mais de um quilómetro útil. Encerrado por inviabilidade económica e por nunca ter passado da sua fase piloto, tornou-se um caso de estudo sobre como projetos de mobilidade falham quando a rede não atinge massa crítica. Agora, a Câmara Municipal de Oeiras prepara o seu regresso, mas em chave rodoviária: o SATUO renasce como BRT (Bus Rapid Transit), com autocarros elétricos em via dedicada, pensado para finalmente ligar os eixos ferroviários de Cascais e de Sintra através dos grandes polos empresariais do concelho. Uma solução que, explica Susana Castelo, CEO da TIS - Transportes, Inovação e Sistemas - “é mais fácil de implementar no curto e médio prazo, também é adequada à procura que temos ali presente nos próximos anos e que permite, quando estiver concretizado, fazer a ligação da linha de Cascais à linha de Sintra, entre Paço d’Arcos e Massamá”.

A nova visão assenta em nova tecnologia, num meio de transporte sustentável e num mapeamento integrado com outros meios de transporte. Porque, como refere Joana Baptista, vereadora do Ambiente e Mobilidade na Câmara Municipal de Oeiras, a maioria dos (futuros) clientes do SATUO vêm de fora de Oeiras, mais precisamente da zona de Sintra - dois terços dos passageiros. No entanto a vereadora considera que “é importante materializarmos este sistema de transporte”, por forma a “podermos oferecer um território que é altamente competitivo para receber desenvolvimento urbano e económico”, porque “só com este desenvolvimento urbano e económico é que geramos riqueza na área metropolitana”.

Há ainda uma outra vantagem adicional: a diminuição das viaturas a circular nas estradas. Como aponta Rui Rei, presidente da Parques Tejo, “queremos fazer projetos para que as pessoas os usem, para que, depois, a utilização do automóvel desça, para que a utilização do transporte público suba e para que as pessoas andem mais a pé e de bicicleta”. Isso implica a criação de um mapeamento que disponibilize diferentes tipos de transportes, devidamente interligados, proporcionado uma maior cobertura territorial.

Para tal foi criada uma estratégia de mobilidade que Rui Rei designa de Cardinal (referindo-se ao símbolo #). “Torna-se evidente que, ao olharmos para o mapa, há dois eixos que atravessam o concelho de ocidente para oriente - a linha de comboio Cascais-Lisboa e a A5 - e dois eixos que se desenvolvem de norte para sul - o SATUO e o LIOS”. O presidente da Parques Tejo explica que o objetivo é tornar estes eixos altamente eficazes do ponto de vista da mobilidade, através da construção de sistemas em via dedicada ou exclusiva, com a capacidade de distribuir rapidamente o fluxo de pessoas que todos os dias entram e saem do concelho para trabalhar. Na prática, nos pontos de convergência destes eixos vão surgir interfaces funcionais, que ligam vários meios de transporte - os autocarros em BRT, os comboios, os autocarros com rotas de proximidade, os meios de mobilidade suave e o transporte privado (que estará devidamente estacionado em lugar próprio). Mas, para que tudo funcione será necessário manter e aumentar as rotas das carreiras municipais e reforçar a mobilidade partilhada. “A meta é retirar carros das ruas, porque o transporte vai passar a ser mais rápido para as deslocações dentro do município”.

Neste cenário o SATUO e o LIOS são pilares essenciais da visão que Oeiras tem para a mobilidade na Área Metropolitana, dado que possibilitam um conjunto de ligações em transporte em sítio próprio, essenciais para unir o concelho.

Os dois projetos complementam-se, desenvolvendo dois corredores de transporte que lhes são perpendiculares: a ocidente o SATUO, entre Paço d’Arcos e Massamá/Barcarena; e a oriente o LIOS - Transporte Rápido Lisboa/Oeiras, que cria novas ligações entre Algés, Alcântara e o Colégio Militar. “A Parques Tejo trabalhou em ambos os projetos ao longos dos três últimos anos, os quais estão hoje em perfeitas condições de avançar para a fase de obra”, afirma Rui Rei, que acrescenta que ambos os projetos são transformadores da forma como as deslocações se desenvolvem no território, uma vez que inauguram uma nova era, na qual a rede de transportes públicos se estrutura em torno de eixos de transporte coletivo em sítio próprio, que são aqueles que garantem utilizadores conforto nas deslocações, previsibilidade no cumprimento dos horários e uma velocidade comercial que os torna competitivos com o automóvel particular. “Se não assegurarmos estes três aspetos, as pessoas não irão optar pelos transportes públicos, com todos os impactos sociais e ambientais que a utilização do automóvel como principal meio de transporte representa”, conclui.

Traçado e fases: de Paço d’Arcos ao Lagoas Park, Taguspark e à Linha de Sintra

O plano faseado privilegia ganhos rápidos de utilidade. Na Fase 1, o SATUO (BRT) liga a estação ferroviária de Paço d’Arcos ao Lagoas Park, servindo a Quinta da Fonte. Na Fase 2, estende-se ao Taguspark. Na Fase 3, fecha o anel estratégico ao chegar à Linha de Sintra (Massamá-Barcarena). É esta costura transversal - Oeiras ↔ polos empresariais ↔ Sintra - que faltou ao projeto original e que responde hoje a necessidades reais de procura. Principalmente à população trabalhadora. “A título concreto, o percurso do SATUO abrange os três maiores parques empresariais do concelho - a Quinta da Fonte, o Lagoas Park e o Taguspark - o que se traduz numa procura estimada de 30 mil passageiros por dia”, aponta o presidente da Parques Tejo, que acrescenta que são muitas as pessoas que passam a dispor de uma solução de mobilidade mais eficiente, e isso é sobretudo relevante quando os estudos nos indicam que dois terços dessa procura virão do concelho de Sintra, onde a população, em média, tem menores rendimentos, o que faz do SATUO um importante motor de coesão social.

Susana Castelo destaca a ligação ao Taguspark, que ainda se encontra em pleno desenvolvimento e que (praticamente) não tem uma oferta de transporte público. Ao introduzir um corredor de transporte público em BRT abrem-se, na opinião da CEO da TIS, um conjunto de outras possibilidades. A grande vantagem é que o projeto do SATUO está a ser pensado e desenvolvido numa lógica integrada com outros meios de transporte. Adicionalmente, explica Susana Castelo, os estudos de viabilidade incluíram, entre outras, a viabilidade de inserção física, de convício com outros modos de transporte e a viabilidade financeira e económica.

“O projeto foi também desenvolvido para ser evolutivo, ou seja, inicialmente está a responder à procura que temos no corredor”, afirma Susana Castelo, que lembra que os projetos urbanísticos previstos “vão aumentar muito a procura potencial. Algo que foi igualmente considerado na avaliação do projeto. Foi feito de forma que, dada a procura, se o aumento de frequência não for suficiente ou se for necessário aumentar a dimensão dos veículos, isso também já está previsto”.

A definição das paragens é um bom exemplo da antevisão do futuro do SATUO. Para já estão preparadas para veículos de 18 metros “que é o que em princípio vai avançar”, mas, mais tarde, quando forem necessários veículos com 24 metros, elas já o permitem fazer.

Na fase inicial do SATUO, em 2029, está prevista uma procura diária a rondar os 24 a 25 mil passageiros. Número que, anteveem os intervenientes, irá aumentar ao longo do tempo. A meta é chegar a 2055 com uma procura diária de cerca de 46 mil passageiros.

O “novo” SATUO troca o futurismo de um monocarril curto por uma solução BRT elétrica, extensível e integrada. Se cumprir a promessa de via dedicada contínua, interfaces de qualidade e integração plena com a rede metropolitana, poderá transformar a mobilidade de Oeiras, costurando Sintra e Cascais ao longo da “espinha dorsal” dos parques de emprego e aliviar, por arrasto, a pressão automóvel na Grande Lisboa. O sucesso dependerá menos da estética da infraestrutura e mais da intransigência com a segregação, da escala da rede desde o primeiro dia e da coordenação metropolitana que evite que, desta vez, a ambição fique outra vez a meio do caminho.

Independentemente disso, “os próximos anos serão de forte transformação, desde logo porque o surgimento do SATUO e do LIOS, até ao final da década, irá alterar radicalmente as deslocações no concelho”, antevê o presidente da Parques Tejo.

O “novo” SATUO 

  • Nova fase em sistema BRT (Bus Rapid Transit) 

  • Veículos articulados com emissões zero 

  • Apoio da operação por um Sistema integrado de sinalização semafórica inteligente (prioritária) em 18 interseções 

  • 9,5 kms de traçado 

  • 15 estações 

  • 25 minutos de duração do trajeto 

  • 2029 – entrada em operação 

Tecnologia e operação: o que esperar no terreno 

  • Corredores dedicados e prioridade: o novo SATUO assentará em “sítio próprio” ao longo da maior parte do traçado, com segregação física do trânsito geral, minimizando interferências e garantindo regularidade. A prioridade semafórica nas interseções críticas assegura tempos de viagem competitivos face ao automóvel. 

  • Material circulante elétrico: autocarros elétricos de piso rebaixado, com portas em ambos os lados quando necessário, preparados para operação bidirecional em zonas de constrição (como a estação dos Navegantes/Paço de Arcos), reduzindo tempos de inversão e simplificando manobras. A adoção de frota elétrica corta emissões locais e ruído, com ganhos ambientais e de conforto. 

  • Estações e acessibilidade: a conversão do viaduto do antigo SATUO a plataforma rodoviária deverá incluir requalificação de estações (Navegantes, Tapada e Fórum/Oeiras Parque), integração tarifária com o passe Navegante (ausente no passado) e interfaces confortáveis com a CP nas linhas de Cascais e, mais adiante, de Sintra. 

  • Gestão e integração metropolitana: o desenho do novo SATUO é pensado para se articular com outros dois projetos estruturantes em Oeiras: o corredor BRT na A5 e o LIOS (Linha Intermodal Ocidental Sustentável), também em solução BRT. Juntos, criam uma “espinha” de transporte público rápido que cruza o concelho no sentido norte–sul e nascente–poente, ligando Oeiras a Lisboa e à Amadora e reduzindo a pressão automóvel nos acessos. 

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