Há quatro anos, Évora foi palco de uma das batalhas mais renhidas das autárquicas, com apenas 273 votos a separarem o vencedor (CDU) do segundo classificado (PS). Na verdade, desde 1976 até 2021, por apenas três vezes (em 2001, 2005 e 2009 foi liderada pelo PS) a cidade de Évora não foi governada por executivos da CDU, que tem, na pessoa de Carlos Pinto de Sá, a presidência da autarquia. No entanto, após fazer três mandatos seguidos, o presidente eborense está impedido de se recandidatar e, quando esta situação acontece, cerca de 40% das autarquias acabam por mudar de cor.O equilíbrio na votação, há quatro anos, fez com que o executivo municipal liderado pela coligação composta por PCP e PEV ficasse praticamente todo equilibrado, sem qualquer maioria. Ou seja: CDU e PS ficaram, cada, com dois vereadores - os mesmos do terceiro (a coligação PSD/CDS/MPT e PPM). O outro vereador foi para o “Movimento Cuidar de Évora”, uma coligação composta pelo Nós, Cidadãos com o partido RIR (Reagir, Incluir, Reciclar).Isto torna, agora, o cenário eleitoral numa incógnita. Até porque há outra variável na equação: o equilíbrio verifica-se também na Assembleia Municipal… que é presidida pelo PS. Em 2021, os socialistas conseguiram ter mais 345 votos do que a CDU, mas com o mesmo número de deputados (seis).Traduzindo: depois de ter o mesmo número de vereadores (dois) do que a CDU na câmara municipal, o PS lidera a assembleia com os mesmos deputados que os comunistas. De entre os 15 parlamentares no órgão eborense, há ainda 4 do PSD, 3 do Nós, Cidadãos/RIR, um do Chega e outro do Bloco de Esquerda. Isto significa que o equilíbrio foi tal e que todas as forças políticas que foram a votos em 2021 conseguiram eleger pelo menos um deputado municipal.Com isto, quer a CDU - que não pode candidatar o incumbente - quer o PS, que há quatro anos quase venceu a autarquia, acabam por apostar forte nas suas candidaturas. À frente da autarquia desde 2013, Carlos Pinto de Sá (que já fora autarca em Montemor-o-Novo, onde agora volta a ser candidato) prepara-se para deixar a governação da cidade. Por isso, a escolha da coligação recaiu sobre João Oliveira, que há um ano foi eleito eurodeputado. Aos 46 anos, João Oliveira (que já foi líder parlamentar do PCP) candidata-se pela primeira vez numas eleições autárquicas, depois de ter acumulado experiência noutros cargos..Autárquicas. João Oliveira: “Não queremos uma maioria absoluta para enfeitar a lapela". No PS, que há quatro anos foi buscar José Calixto a Reguengos de Monsaraz, a aposta é agora num ex-eurodeputado: Carlos Zorrinho. Aos 66 anos, e já com uma carreira política vasta (tanto no Parlamento Europeu, como na Assembleia da República ou até enquanto secretário de Estado), o socialista vai tentar vencer mais uma autarquia para o seu partido..Carlos Zorrinho: "Évora está muito fragmentada e isso faz com que acredite pouco em si" . Se o fizer, tal significa que a CDU poderá vir a perder mais uma capital de distrito, das duas que ainda tem (além de Évora, os comunistas governam a cidade de Setúbal, cujo autarca, André Martins, não está em fim de ciclo).PSD, Chega e o impacto das legislativasCom a disputa em Évora a parecer focada sobretudo à esquerda, o histórico não abona a favor do PSD que, nos últimos anos, tem ficado sempre em terceiro lugar. Aliás, desde 1993 que os sociais-democratas (a solo ou em coligação com outros partidos) não conseguem ser uma das duas forças mais votadas. Ainda assim, tal como há quatro anos, a escolha dos sociais-democratas para tentar conquistar a autarquia é Henrique Sim-Sim. Apesar de terem ficado em terceiro lugar há quatro anos, os sociais-democratas tiveram o melhor resultado em Évora desde 2009. Nesse ano, o PSD teve no concelho 4.638 votos, e depois de dois anos com trajetória descendente (3.510 votos em 2013, 3.463 em 2017), acabaram por conseguir recuperar, tendo sido a preferência de 4.458 eleitores no concelho eborense.Por outro lado, há a incógnita sobre a prestação do Chega que, há quatro anos, concorreu pela primeira vez a umas eleições autárquicas. Em 2021, o partido de André Ventura ficou pouco acima dos mil votos. No entanto, o Chega cresceu desde então e, agora, a expectativa é que Ruben Miguéis seja, pelo menos, eleito vereador.Até porque, olhando para as legislativas, o partido de André Ventura acabou por ser o terceiro mais votado, ultrapassando os 7 mil votos, num concelho conquistado pelo PSD. A CDU, que o governa, ficou apenas em quarto lugar, com 2.238 votos. Fica por isso a incógnita: será que este resultados serão transpostos para as autárquicas?