Brigitte Bardot dedicou as últimas décadas de vida à defesa da causa animal, através da sua fundação.
Brigitte Bardot dedicou as últimas décadas de vida à defesa da causa animal, através da sua fundação.FOTO: D.R.

Voto de pesar do PAN esquece condenações de Brigitte Bardot por incitação ao ódio racial e religioso

Texto apresentado por Inês de Sousa Real centra-se no papel da atriz francesa na defesa dos direitos dos animais e no contributo dos seus filmes para a "emancipação feminina na Europa do pós-guerra".
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Um voto de pesar pela morte de Brigitte Bardot, elaborado pela deputada única e porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, através do qual pretende que a Assembleia da República reconheça "a importância duradoura do seu contributo artístico, cultural e em defesa dos direitos dos animais", omite as condenações por incitamento ao ódio racial e religioso da atriz francesa, falecida neste domingo, aos 91 anos.

Inquirida pelo DN sobre a falta de referência a essa faceta da atriz francesa, que ao longo dos anos foi condenada em diversas ocasiões por declarações polémicas, fonte oficial do PAN admitiu "o lado B de Bardot e a sua posição anti-imigração, num percurso marcado, como muitas outras grandes figuras, por contradições e polémicas, quer na vida pessoal, quer na vida pública, com as quais não coincidimos". Mas disse que o partido pretendeu destacar "o inegável legado que Brigitte deixou na causa animal", em benefício de "milhares de animais e inúmeras associações (inclusive portuguesas) apoiadas pela sua fundação".

Brigitte Bardot teve que indemnizar o ex-marido e o filho de ambos pelo que escreveu sobre eles, na sua autobiografia, mas a maioria das multas que se viu forçada a pagar após ser condenada em tribunal tiveram a ver com retórica anti-imigração, com referências à "invasão de França por uma sobrepopulação de estrangeiros, especialmente muçulmanos", por si acusados de "destruir o nosso país e impor os seus costumes".

Também houve momentos em que os problemas de Bardot com minorias étnicas e religiosas coincidiram com as suas causas. Assim foi quando se insurgiu contra o abate ritual de ovelhas em festivais muçulmanos, mas também combateu o ritual hebraico shechita de tal forma que o Congresso Judaico Europeu reagiu à "clara falta de sensibilidade por grupos minoritários" supostamente demonstrada pela atriz, admiradora de Marine Le Pen, líder do partido de direita radical Reunião Nacional, tal como fora antes do seu pai, Jean-Marie Le Pen.

No projeto de voto entregue pelo PAN, Inês de Sousa Real destaca a criação da Fundação Brigitte Bardot, que desde 1986 se dedica à proteção animal, ao combate aos maus-tratos, ao abandono e à exploração de animais, bem como à promoção de políticas públicas mais exigentes em matéria de bem-estar animal. A deputada única e porta-voz do partido realça que, além promover a criação de centros de proteção animal e campanhas de esterilização, Bardot "utilizou a sua visibilidade para apoiar campanhas contra a caça de focas, o uso de peles, a experimentação animal, o consumo de carne de cavalo e práticas cruéis como a matança de golfinhos ou as touradas", tendo o seu trabalho premiado pela ONU, pela UNESCO e pela PETA.

De igual modo, o voto de pesar apresentado pelo PAN destaca os filmes protagonizados pela atriz francesa ao longo das décadas de 1950 e de 1960, como "E Deus Criou a Mulher" ou "O Desprezo", que lhe permitiram colaborar com "realizadores de reconhecido mérito" e contribuir "para a renovação estética e temática da sétima arte". Segundo Inês de Sousa Real, as "personagens femininas complexas, independentes e modernas" de Bardot ajudaram a romper com "os modelos conservadores então dominantes" e contribuíram para "uma nova representação da mulher, associada à liberdade de escolha". Algo que permitiu à francesa desempenhar "um papel relevante no contexto mais amplo da emancipação feminina na Europa do pós-guerra".

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