Dedicar o segundo dia de campanha oficial a Lisboa foi uma escolha que se impôs ao presidente da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha. Na noite anterior estivera no debate televisivo entre os partidos e coligações com representação parlamentar, a meio do qual recebeu a melhor notícia para quem não pôde ver o golo tardio de Eduardo Quaresma que permitiu ao seu clube entrar no Estádio da Luz, neste sábado, à frente do Benfica - “Podes dar cabo deles, o Sporting ganhou”, escreveram-lhe -, e na manhã seguinte repetiu o encontro com Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos, André Ventura, Mariana Mortágua, Paulo Raimundo, Rui Tavares e Inês de Sousa Real, dessa vez no debate das rádios.Foi com atraso que chegou ao Campo Pequeno, ponto de partida para o primeiro de dois eventos públicos, separados por uma tarde dedicada a gravar vídeos para as redes sociais e ir à Antena 3, para responder às perguntas de Fernando Alvim e Raquel Morão Lopes no programa Prova Oral. À saída do miniautocarro Mercedes, de vidros fumados, Rocha não tinha uma multidão à espera, mas nem por isso esmoreceu.13h30Um dos quatro turistas francófonos, até há segundos tranquilamente sentados no restaurante O Moisés, despacha-se a preparar a máquina fotográfica, procurando registar o que se passa no estabelecimento, já bem cheio antes de Rui Rocha avançar pelo corredor apertado entre o balcão e as mesas em que se saboreia comida portuguesa, com repórteres fotográficos, jornalistas televisivos e operadores de câmara no seu encalço. “É o presidente do partido liberal”, dizem aos turistas, aos quais o líder da IL ainda perguntará, sem dar conta do défice de lusofonia dos interlocutores, se gostaram do almoço.Quanto a Rocha, não existe a menor dúvida de que é apreciador de O Moisés, onde vai comer desde que se mudou para Lisboa. Por isso, não hesitou em voltar a fazer uma paragem para cumprimentar o dono, repetindo a passagem para o lado empresarial do balcão, na arruada da IL, tal como fez na campanha das legislativas de 2024, as suas primeiras enquanto presidente do partido. . Pouco mais de 14 meses decorridos, novamente com o objetivo de eleger mais deputados e pôr em prática as suas políticas, volta a percorrer as Avenidas Novas, provavelmente uma das zonas de Portugal com maior número de potenciais eleitores liberais por metro quadrado, mas com a diferença de o contingente que o acompanha ser mais reduzido, sem ultrapassar quatro dezenas. Mas enérgicos a agitar bandeiras, enquanto os tocadores de bombo marcam o ritmo das palavras de ordem gritadas em uníssono, com gritos de “acelera!” a servirem de sufixo para crescimento económico, reforma do Estado e “pôr a Saúde a funcionar”.Outra diferença significativa em relação a 2024 é que, desta vez, Rocha não conta com a presença tutelar de João Cotrim de Figueiredo, agora no Parlamento Europeu. Mas nem assim deixa de haver pedidos de selfies. Após dois ou três quarteirões percorridos em passo apressado, com as sapatilhas que nove em cada dez dirigentes liberais usam, e o líder a travar apenas para trocar cumprimentos à porta do edifício dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, na Avenida da República, uma jovem de cabelos louros faz a pergunta que qualquer político em campanha adora ouvir: “Posso tirar uma foto consigo?”Centenas de metros à frente, depois de perguntar diversas vezes “projetos para o futuro” e admitir que “é complicado olhar para o futuro”, Rui Rocha acaba por abraçar a própria filha na Praça do Saldanha. Ouvindo de outros, da mesma geração, que o caminho passará pelo estrangeiro, repete que “se tivesse maioria absoluta...”, apesar de tal perspetiva ser distante dos 6% a 8% de intenções de voto que as sondagens mais recentes atribuem à IL.. No final da arruada, já acompanhado pela líder parlamentar e cabeça de lista por Lisboa, Mariana Leitão, é nesse tom que fala com os jornalistas, no Jardim do Arco do Cego. Pouco depois de um transeunte aproveitar as câmaras para proclamar que “a Habitação está f...”, por entre um sortido de insultos, Rocha realça que resolver esse problema é “condição para os jovens terem um projeto de vida no país”. E volta a culpar as “políticas pouco ambiciosas” dos outros partidos.21h10Ao subir as escadarias da Casa do Alentejo, ao som de We Will Rock You, Rocha tem à espera centena e meia de apoiantes e dirigentes, prontos para um jantar de campanha em que é possível escolher entre a tradicional Carne de Porco à Alentejana e a cosmopolita Quinoa com Legumes Salteados. Comida a sopa, vêm os discursos. Mariana Leitão sobe primeiro ao palanque, entusiasmando a plateia, reunida à volta de dúzia e meia de mesas, com o apelo a votar na “única solução para que Portugal avance”, antes de o presidente da IL elogiar “a mulher de uma coragem a toda a prova, que nos põe a todos na linha no Parlamento”. Com um blazer em vez do casaco desportivo da arruada, mas sem abdicar de sapatilhas, procurar marcar o dia de campanha com uma revisão constitucional que permita “acabar com o socialismo” no preâmbulo do texto fundamental. “O caminho não é o do socialismo. O caminho é de mais liberdade”, proclama, antes de repetir a mensagem: “Queremos trabalhar para os jovens que querem ficar em Portugal.”