Rui Moreira: “O tempo de escolhermos caudilhos ou homens providenciais já lá vai e não deixa saudades”
Pedro Granadeiro/Global Imagens

Rui Moreira: “O tempo de escolhermos caudilhos ou homens providenciais já lá vai e não deixa saudades”

Num longo discurso de apresentação, o mandatário nacional de Marques Mendes apontou baterias a candidatos “messiânicos”, “apolíticos ou antipartidários” e aos que fazem da política palco para a sua "egomania" — referências claras a Gouveia e Melo e André Ventura.
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“O tempo de escolhermos caudilhos ou homens que se julgam providenciais já lá vai e, de tão infausto, não deixa saudades”, afirmou Rui Moreira na sessão de apresentação do mandatário nacional da candidatura de Marques Mendes. Protagonista do evento, Moreira apresentou um discurso fortemente político em que advertiu para os riscos do populismo e do personalismo no atual contexto português, com referências indiretas, mas inequívocas, a Henrique Gouveia e Melo e André Ventura. 

Por oposição, exaltou o projeto presidencial de Marques Mendes.  Definiu-o  “moderado, plural e agregador”, sublinhando que o antigo líder do PSD representa “uma candidatura que valoriza a democracia e o Estado de Direito”, não diabolizando a política nem os políticos: “antes reconhece a sua dedicação ao bem comum”. 

Uma candidatura que “não cavalga a onda antissistema. Não se alimenta do ressentimento social, antes propõe um futuro melhor para os portugueses”, acrescentou. 

Rui Moreira fez questão de traçar uma linha de separação entre o discurso de Marques Mendes e o dos candidatos que, segundo disse, “abominam a política ou dela têm uma visão de sacristia”. 

“Tenho sempre receio daqueles que, querendo estar na política, se reclamam apolíticos ou antipartidários". Ao invés, acrescentou, "Marques Mendes não renega a sua longa carreira como governante, dirigente partidário e comentador político. Sabemos quem é e como pensa”.

Lembrando que chegou a ponderar uma candidatura própria à Presidência da República, recuou “justamente por estar convicto de que o projeto presidencial de Marques Mendes abrange um vasto espectro político e ideológico”. 

“Em conversas que mantivemos nos últimos tempos, percebi que  protagoniza um projeto de banda larga. Uma candidatura que vai ao encontro das diferentes preocupações, interesses e expectativas dos portugueses. Uma candidatura que não subtrai nem exclui, considerando todos os cidadãos por igual”, disse.  

Ao longo do discurso, estabeleceu ainda paralelos históricos e alertou para os riscos de “aventuras políticas e experimentais”, evocando as eleições presidenciais de 1976, que opuseram "defensores da jovem Constituição democrática aos que pretendiam subvertê-la”. 

“Hoje, temos a vantagem de vivermos numa democracia adulta e civilista, atestada por meio século de pluralismo político. Mas assistimos ao recrudescimento de narrativas radicais e antissistémicas, que designamos por populistas, fruto da incapacidade de sucessivos governos para responder ao mal-estar social”, observou. 

Para o mandatário nacional de Marques Mendes, essas tendências “ameaçam destruir o equilíbrio de poderes e desvirtuar a natureza do regime”, podendo conduzir a uma “perversão do sistema semipresidencial” caso candidatos “sem noção ou respeito pela filigrana institucional do regime” alcancem Belém. 

“Precisamos de um Presidente moderado e unificador, culto e sensato, atento e sensível. Que não reaja por impulso nem se deixe aprisionar por obsessões alheias”, defendeu. 

Rui Moreira rejeitou que adesão à candidatura de Marques Mendes resulte de cálculo político ou ressentimento pessoal: 

“Não aceitei este desafio para ajustes de contas ou animado por qualquer revanchismo. Politicamente, tenho sérias divergências com outros candidatos e receio daquilo que podem, mesmo que não seja essa a sua intenção, significar para o regime democrático”, afirmou, acrescentando que está com o candidato por “dever de consciência”. 

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