O objetivo de conquistar, pela primeira vez, uma presidência de câmara municipal na Península de Setúbal, assumido por altos dirigentes do PSD, como o secretário-geral, Hugo Soares, complicou-se na semana passada, com o veto da Comissão Política Nacional de Luís Montenegro à recandidatura de João Afonso, que ficou a 351 votos de ser eleito presidente da Câmara do Montijo em 2021. Em causa estiveram as críticas do atual vereador à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, de quem exigiu a demissão por admitir o fecho da maternidade do Barreiro (cidade que divide o Centro Hospitalar com o Montijo), concentrando partos no Hospital Garcia de Orta (Almada).Depois de João Afonso ter recebido a notícia de que não seria o candidato do PSD, o que lhe foi comunicado pelo líder da Distrital de Setúbal, Paulo Ribeiro, que também é secretário de Estado da Proteção Civil, a concelhia social-democrata do Montijo demitiu-se em bloco no sábado. E dirigentes do partido ouvidos pelo DN admitem que ficou mais distante a vitória da Aliança Democrática numas Eleições Autárquicas que pareciam facilitadas pelas duas candidaturas na área do PS, que viu Nuno Canta renunciar ao terceiro mandato em 2024, cedendo a presidência a Maria Clara Silva: a oficial, de Ricardo Bernardes, e uma dissidente, de Fernando Caria, presidente da Junta de Freguesia do Montijo e Afonsoeiro, que se desfiliou em conflito com a líder concelhia e ex-deputada socialista Catarina Marcelino.No final do ano passado, João Afonso dizia que a possibilidade de ganhar a câmara era “enormíssima”, mas agora afasta a hipótese de protagonizar uma candidatura independente, ou avançar nas listas de outro partido, nomeadamente o Chega, que foi a segunda força mais votada no concelho nas últimas Legislativas, à frente da AD. “Não seria edificante para mim”, disse ao DN, embora mantenha a convicção de que seria eleito, face à vantagem que as sondagens internas lhe conferiam caso tivesse sido confirmada a decisão dos órgãos concelhios e distritais. O próprio Luís Montenegro chegou a referir-se-lhe como o futuro presidente da autarquia.Tudo isso mudou desde que João Afonso começou a fazer críticas à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, também militante social-democrata, tendo-lhe sido comunicado por Paulo Ribeiro que esses “ataques excessivamente duros eram incomportáveis com a candidatura”.Sem recuar no pedido de demissão da governante, teve o nome vetado pela Comissão Política Nacional do PSD, e agora mantém as suas “posições livres”, descrevendo Ana Paula Martins como “um cadáver político adiado”. “Para fazer igual ao PS não valia a pena mudar de Governo”, defende o ainda vereador, para quem não se pode “condicionar a qualidade do Serviço Nacional de Saúde”.Cabe agora a Paulo Ribeiro encontrar uma solução para o concelho, mas o secretário de Estado e líder distrital, que em 2021 foi candidato à Câmara de Palmela, ainda não tem um timing definido.