O PS questionou a ministra do Trabalho sobre os fundamentos invocados para alargar para três anos a duração dos contratos a termo, temendo que possa basear-se em perceções, e advertiu que essa alteração “abre portas” a mais precariedade.Em declarações à agência Lusa, o deputado do PS Miguel Cabrita considerou esta segunda-feira, 25 de agosto, que duas das “alterações mais salientes e preocupantes” do anteprojeto de reforma laboral apresentado pelo Governo é o aumento da duração dos contratos a termo certo, dos atuais dois anos para três, e o facto de se voltar a permitir que as empresas contratem a termo trabalhadores apenas porque nunca tiveram um contrato indeterminado.“Estas alterações são significativas, são negativas, e vêm contrariar o acordo de concertação que foi estabelecido em 2018 (…) justamente para reduzir a duração dos contratos a termo e para eliminar da lei a possibilidade, que era amplamente, utilizada de empresas contratarem um jovem à procura do primeiro emprego a termo, simplesmente pelo facto de ser jovem”, referiu.Miguel Cabrita defendeu que é preciso perceber com que base e com que fundamento é que o Governo está a propor estas alterações, salientando que o mercado laboral “interiorizou o novo equilíbrio” construído em 2018, que permitiu atingir “máximos históricos” em termos de emprego e diminuir o número de contratos a termo e outros contratos precários.O deputado do PS manifestou preocupação com o facto de, numa entrevista ao Jornal de Notícias, a ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, ter invocado como fundamento para estas alterações um alegado “uso abusivo e excessivo” do chamado período experimental por parte das empresas.“De acordo com a senhora ministra na referida entrevista, no âmbito da atual legislação, os empregadores começaram a contratar jovens à procura do primeiro emprego e desempregados de longa duração ‘sem termo, mas com um período experimental de seis meses’, e ‘ao fim de cinco meses e vinte e nove dias acabou o contrato que, durante o período experimental, pode ser feito cessar sem motivo algum e sem compensação alguma no final, ao contrário do contrato a termo’”, cita o PS, na pergunta dirigida à ministra.Miguel Cabrita disse querer conhecer os fundamentos que estão por detrás desta “perceção”, salientando que o PS não tem nenhuma notícia de que a prática invocada pela ministra seja generalizada e afirmando temer que o caso seja parecido com o das declarações de Palma Ramalho sobre a amamentação, em que a ministra alegou que há abusos, apesar de o Governo não ter dados..Oposição unida acusa ministra de ataque aos direitos das mulheres . “O nosso receio é que, a coberto de uma perceção de que haverá empresas que estão a fazer um mau uso deste período experimental, não exista, tal como no caso da amamentação, uma base real para esta alegação e estejamos a voltar atrás vários anos no combate à precariedade apenas com base numa perceção”, advertiu..ACT identificou 23 casos de desrespeito da lei da amamentação desde 2021. Miguel Cabrita salientou que estas alterações propostas pelo Governo seriam prejudiciais para os trabalhadores, em particular os mais jovens, porque “não é indiferente ter um contrato a termo ou sem termo”, designadamente em termos de decisões “a médio e longo prazo sobre a vida individual e familiar”, como ter filhos ou conseguir aceder a créditos à habitação.O PS pergunta assim a Mário do Rosário Palma Ramalho com que base é que afirma que as empresas, “ao fim de cinco meses e vinte e nove dias”, tendem a cessar contratos, e quantas queixas registou a ACT relativas a esse tipo de situações, assim como quantas ações inspetivas fez.“Determinou o ministério a realização de algum estudo sobre esta matéria?”, perguntam ainda. .Da lei da greve à licença parental. As principais propostas da reforma laboral da ministra do Trabalho