O voto favorável dos eleitos pela coligação PS-PAN permitiu que uma moção do Chega e um voto de saudação da AD, ambos dedicados a defender a importância do 25 de Novembro de 1975 para a consolidação da democracia, tenham sido aprovados pela Assembleia Municipal do Seixal. Apenas os deputados municipais da CDU, que a 12 de outubro manteve a presidência da autarquia da Margem Sul do Tejo, gerida há meio século por coligações lideradas pelo PCP, juntamente com o único eleito do Bloco de Esquerda (BE), votaram contra os dois documentos.A moção do Chega, apresentada pelo deputado municipal Pedro Guerreiro Cavaco, prevê que a Câmara do Seixal integre a celebração do 25 de Novembro no calendário oficial, “promovendo eventos que reflitam sobre a importância da data na preservação da democracia”. E que a autarquia deva “comprometer-se com a transparência e o pluralismo democrático, garantindo que o Boletim Municipal, reflete, efetivamente, a diversidade de opiniões políticas”, tal como “fomentar práticas de boa governação, respondendo prontamente às questões da oposição e incentivando o escrutínio público como pilares essenciais de uma democracia plena”.Numa sessão extraordinária da Assembleia Municipal do Seixal, no dia 27 de novembro, o eleito do Chega, que foi a segunda força mais votada nas autárquicas, após ficar à frente no concelho aquando das legislativas, defendeu que 25 de Novembro de 1975 foi “o verdadeiro dia em que Portugal e os portugueses finalmente conquistaram a democracia”. E que, tal como agora sucede com o Governo e a Assembleia da República, o município deve celebrar aqueles que, “num tempo incerto, defenderam que a abertura de Abril não devia transformar-se numa deriva caótica ou autoritária, mas antes num regime democrático plural”. No texto aprovado com votos contra da CDU e do BE, e abstenção da deputada municipal da Iniciativa Liberal, recordam-se “os heróis de Novembro”, incluindo os Comandos, “sob a liderança determinada do tenente-coronel Jaime Neves, que impediram que as forças da extrema-esquerda antidemocráticas impusessem, pela força, um regime totalitário de inspiração marxista-leninista”, e ainda o comandante da Região Militar do Norte, Pires Veloso, ou os “milhares de civis e militares” concentrados na Base da Força Aérea na Cortegaça, que seriam ”garante de uma alternativa, caso ‘a coisa desse para o torto’”.Também fez uma referência implícita às tentativas de ilegalização do partido de André Ventura junto do Tribunal Constitucional. Dizendo que celebrar o 25 de Novembro “é recordar que a democracia tem inimigos, antigos e novos, e que a defesa da liberdade exige vigilância permanente”, Pedro Guerreiro Cavaco foi mais direto, criticando quem “ataca o pluralismo democrático e usa o expediente judicial para vencer quem não consegue, pelo voto popular”. Algo que, a ocorrer, seria “uma afronta ao espírito do 25 de Abril e do 25 de Novembro”.Por seu lado, o coordenador da bancada da AD, Rui Belchior Pereira, apresentou um voto de saudação aos militares e civis que a 25 de Novembro “garantiram a defesa da democracia, impediram a rutura violenta e devolveram ao país a estabilidade institucional que o PREC ameaçava destruir” e à ”afirmação plena de um regime plural, moderado e livre, que continua a assegurar aos portugueses aquilo que nenhuma deriva revolucionária garantiria: estabilidade, liberdade e soberania popular”. E disse aos comunistas que “a democracia salvou-os até de si próprios”.Aprovadas as duas iniciativas - também com voto favorável da IL para o texto da AD -, o que até ao presente mandato seria impensável num concelho de hegemonia comunista, no qual se realiza todos os anos a Festa do Avante!, o coordenador do PS, Tomás dos Santos apelou a que “a data que uniu o país na democracia” não sirva para dividir. E fontes socialistas realçam que o partido sempre apoiou moções referentes ao 25 de Novembro de 1975.Já o líder da bancada da CDU, Armando Farias, de cravo vermelho na lapela, reduziu o 25 de Novembro a uma “operação montada por quem nunca se conformou com as conquistas de Abril”. .‘Cheque em branco’ a executivo da CDU.A AD - Coligação PSD-CDS criticou os vereadores do PS por terem viabilizado, através da abstenção, uma proposta de delegação de competências no presidente da Câmara do Seixal, Paulo Silva, que “configura um verdadeiro ‘cheque em branco’”, visto que permite ao autarca comunista aprovar contratos até 748 mil euros “sem qualquer escrutínio da oposição”. Para o vereador social-democrata Bruno Vasconcelos, o resultado da abstenção dos três eleitos do PS, que têm pelouros no novo Executivo Municipal, representa “um desrespeito pela vontade popular” expressa em eleições que não deram maioria absoluta a nenhuma força política.