Depois de abordadas no Parlamento as leis da Nacionalidade e da Imigração e o Orçamento do Estado na generalidade, sabia-se que a profunda alteração da lei laboral que o Governo pretende implementar teria ecos. Luís Montenegro acusou esta terça-feira a CGTP de ser o “braço armado do PCP”, palavras que se seguem às de dia 9, na Colômbia, quando, confrontado com o anúncio de uma greve geral a 11 de dezembro, disse que não conseguia “vislumbrar outra razão para esta posição das centrais sindicais que não seja olhar para interesses dos partidos que estão, sobretudo, ligados à gestão das duas centrais sindicais.” A afirmação coloca em causa a independência de CGTP e UGT, mas também sugere algum tipo de conluio destas com PCP e PS, respetivamente. Hugo Soares, secretário-geral do PSD, considerou que era “estranho que as greves gerais decorram quando a esquerda não está no poder.” Tais menções levaram a uma dura reação de PS e PCP.“Aquilo que o Governo disse foi uma atoarda contra valores consagrados há 50 anos. Desde 1976, todos sabem que esteve no PS uma das principais iniciativas políticas para garantir a independência, a pluralidade e a diversidade da representação sindical”, asseverou José Luís Carneiro, à margem de uma iniciativa em Almada, referindo que a UGT “é uma instituição que merece respeito” e que a central “tem trabalhadores sociais-democratas que já se pronunciaram publicamente contra as intenções do Governo”, mas também “socialistas, independentes”, tendo “essa expressão plural sido ofendida pelo primeiro-ministro.” .Carneiro rebate o argumento de Hugo Soares. Se é verdade que a UGT e CGTP não marcavam uma greve geral desde 2013 - seguindo os pedidos de revolta de Carvalho da Silva e Torres Couto, históricos dirigentes das centrais -, o secretário-geral socialista aponta que “há muito pouco tempo, quando houve um acordo de rendimentos entre a AD e os trabalhadores em sede de concertação social, a UGT apoiou esse acordo.” “A UGT não pode ser útil quando apoia as intenções do Governo e ser ofendida quando diverge dos interesses do Governo”, contesta Carneiro.Recorde-se que o PS quis que a lei laboral ficasse fora do Orçamento, para viabilizar com abstenção o documento. Nesta matéria, está irredutível porque não compreende alterações que pressupõem que os contratos a termo certo passem a ter uma duração inicial mínima de um ano, com renovação por três vezes; que os contratos a termo certo passem para três renovações e que haja uma facilitação nos processos de despedimento por justa causa; ou sequer o fim da imposição de reintegração em caso de despedimento fraudulento e ainda o estabelecimento de duração para a amamentação.Ao DN, Bernardino Soares, do Comité Central do PCP, realça a independência da CGTP. “As centrais sindicais representam os sindicatos associados e são eleitos pelos trabalhadores. É totalmente descabido dizer uma coisa destas, até porque em todas existem militantes de vários partidos”, critica, defendendo que a greve é convocada antes de possíveis mudanças na concertação social “e que mal seria se não fossem organizadas jornadas de luta” porque o Governo “já se concertou com quem queria, no caso com as confederações patronais.” Defendendo que a “lei laboral que já é má” e que trará “mudanças muito, muito graves”, Bernardino Soares entende que a lei “não tem de ser neutra” e, sim, “proteger os mais fracos”, considerando que o “primeiro-ministro convive mal com a liberdade sindical e que procura mesquinhar as centrais sindicais.” Alerta para as “manobras de diversão”. “Não nos surpreendem os ataques. É forma de não se conhecerem ao detalhe as mais de 100 alíneas que são prejudiciais aos trabalhadores”, vinca.Não se esperam acordos na concertação social. Como tal, PS e PCP estão convictos de que será no Parlamento, com a viabilização do Chega, que a lei passará. “O Governo já combinou ou vai combinar com o Chega deixar cair uma ou duas medidas e aprovar a legislação. Assim, o Chega fica bem na figura também. É uma questão tática e prova que o Chega não defende a maioria da população, mas um poder económico mais retrógrado”, diz o ex-autarca de Loures..Trabalhadores marcham este sábado em Lisboa contra alterações à lei laboral.Carneiro sai de reunião com PM e reafirma não querer lei de bases da Saúde e flexibilização laboral no OE