Em menos de 10 horas, os partidos com assento parlamentar voltaram a enfrentar-se num segundo frente a frente, esta segunda-feira, desta vez nas rádios.
Em menos de 10 horas, os partidos com assento parlamentar voltaram a enfrentar-se num segundo frente a frente, esta segunda-feira, desta vez nas rádios.Foto: João Porfírio/OBSERVADOR

PS e AD apelam ao voto útil no debate das rádios. Trincheira entre esquerda e direita agrava-se

Ventura questionou Raimundo sobre o voto contra do PCP em medidas do Chega semelhantes às da bancada comunista. O líder do PCP, entre ânimos aquecidos, respondeu: "Não alimentamos a vossa demagogia."
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Num debate, desta vez nas rádios – Antena 1, TSF, Observador e Renascença –, marcado por perguntas sobre a empresa familiar de Luís Montenegro, sobre a ação do Governo durante o apagão de há uma semana e com a maior parte dos líderes dos partidos com assento parlamentar a não equacionar um cenário de derrota eleitoral ou perda de mandatos, os líderes do PS e da AD voltaram a apelar à concentração de votos nestas duas forças políticas, para garantir "boas políticas".

"Sempre que o Partido Socialista fica numa situação mais aflitiva, vem com estes medos", referiu o primeiro-ministro, rebatendo as acusações anteriores de Pedro Nuno Santos, que tinha afirmado que a AD não garante estabilidade política em Portugal.

"Eu quero dizer às portuguesas e aos portugueses o seguinte: Nós sabemos que não desejaram estas eleições. E nós sabemos que é preciso, pôr cobro a uma rotina que está criada, que é termos eleições quase todos os anos. E é preciso dar a estabilidade que as pessoas querem. E essa estabilidade implica que aqueles que querem votar na AD não devem dar o resultado por adquirido e devem ir votar no dia das eleições. Ninguém ganha antes do dia das eleições. E aqueles que porventura votaram noutras forças políticas, estão indecisos, devem também fazer a sua análise de maneira a concentrar o seu voto naquela força política que garante boas políticas, boa liderança governativa e também a estabilidade política", alertou o primeiro-ministro.

Momentos antes, salientando o "sentido de responsabilidade" da bancada socialista, por ter dado "condições de governabilidade" ao Executivo de Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos disse que o Governo "falhou na economia, falhou na saúde, falhou na habitação. Além de termos um ainda primeiro-ministro que não será fator de estabilidade política em Portugal."

Pedro Nuno Santos acusou ainda a AD de, "ao longo de muitos anos", ter tido "muita dificuldade em garantir estabilidade política em Portugal, ao contrário" do PS, completou, que, "mesmo quando não" tem maioria consegue "garantir estabilidade".

O líder do PS, momentos antes, tinha insistido, afastando alianças à esquerda, que a única forma de "derrotar a AD" é com "um Governo alternativo é com uma vitória do Partido Socialista".

André Ventura rejeitou a possibilidade de haver uma maioria de esquerda no Parlamento e, sobre outros cenários, preferiu usar a expressão "fantasia".

"O cenário que vamos voltar a ter, com toda a probabilidade, é um cenário de maioria entre o Chega e o PSD", afirmou, apontando, porém que, na última legislatura, Luís Montenegro "tinha uma maioria", mas "desperdiçou-a".

"Se já desperdiçou a maioria uma vez, quem é que nos garante que não a vai desperdiçar outra vez", perguntou o líder do Chega, antes de considerar que, se "querem ter direita, votem Chega. Quer dizer, não há grande alternativa", sustentou, rejeitando a ideia de voto útil defendida pelos dois principais partidos.

O porta-voz do Livre Rui Tavares também rejeitou a ideia de voto útil, recorrendo a argumentos que atribuiu a Marcelo Rebelo de Sousa, explicando que o Presidente da República, num artigo do Expresso, defendeu que "para dar posse ao próximo governo" exige que haja "uma maioria de apoio, ou que tenha um bloco de apoio coerente e estável no Parlamento".

"Significa também que recusa de todo seguir o procedimento de Cavaco Silva em 2015, quando deu posse ao segundo governo de Pedro Passos Coelho, já sabendo que isto seria chumbado", lembrou o porta-voz do Livre, insistindo que, "ao fazermos a conversa do costume que só serve para esta história do voto útil do PS e do PSD, andarem nesta caça aos gambozinos de ver quem é que tem um votinho a mais, estamos, basicamente, a iludir aquela que é a grande questão: Onde é que há uma lógica, onde é que há uma coerência de voto, e que seja dita claramente às pessoas."

Rui Tavares, argumentando que um dos governos possíveis poderia ser entre a AD e a IL, acusou o partido liderado por Rui Rocha de admitir ter uma conversa com Luís Montenegro sobre a Spinumviva.

"No nosso caso, se um primeiro-ministro de um governo apoiado pelo Livre ou de que o Livre faça parte tenha uma empresa como a Spinumviva e a queira manter, a conversa para formar governo nem sequer começa", garantiu.

"Temos uma clareza que a IL não tem. A IL quer uma conversa sobre a Spinumviva e a chave do armário onde está a motosserra e, a partir daí, como vimos há bocadinho, está pronta para fazer tudo", acusou.

Trincheiras entre PCP e Chega

O frente a frente entre André Ventura e Paulo Raimundo também aqueceu os ânimos, ao ponto de o líder do Chega ter dito: "Escusa de falar alto, que não tenho medo de si."

O tema que estava a ser discutido girava em torno de eventuais possibilidades de governação e da possibilidade do Presidente da República dar posse a um governo minoritário.

"Eu não quero discutir matemática. Eu quero discutir os conteúdos da vida das pessoas. Aquilo que faz a diferença na vida das pessoas, que é isso que importa", defendera Paulo Raimundo na sua intervenção, rejeitando falar de possibilidades, tendo em conta que, argumentou, "a matemática é uma ciência exata. E portanto, não há dúvidas sobre matemática."

Por seu turno, André Ventura lembrou que, no debate que teve com Paulo Raimundo, questionou o líder do PCP sobre o motivo que levara a bancada comunista a não aprovar propostas do Chega "nas polícias, nos enfermeiros, nos médicos, nos auxiliares, nos trabalhos por turnos", justificando que "algumas delas eram quase iguais às do PCP".

"Perguntei ao Paulo Raimundo se não é importante a forma, se é o conteúdo, porque é que vota contra propostas que apresenta no Orçamento do Estado", explicou o líder do Chega.

"Nós não alimentamos troca-tintas, nem propostas que de manhã são umas, à tarde são outras", interrompeu Paulo Raimundo, acrescentando: "Nós não alimentamos a vossa demagogia, nem alimentamos a hipocrisia."

Com os dois líderes partidários a falar em simultâneo, André Ventura sublinhava o desconforto de Paulo Raimundo, enquanto o secretário-geral do PCP recuperava uma expressão que usara durante o duelo televisivo com o líder do Chega: "Estamos 'nheca-nheca' outra vez."

A troca de argumentos derivou para as sedes do PCP, para os impostos da Festa do Avante, e as freses simultâneas só cessaram quando a palavra foi imposta ao líder da IL, Rui Rocha, que acabou por acusar André Ventura de ser "comunista".

O líder liberal, com ironia, para fundamentar a sua tese, referiu o "lamento de André Ventura por não ter o apoio do PCP para as suas políticas".

E, tal como Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos e André Ventura, Rui Rocha também afastou qualquer cenário em que a IL perde peso parlamentar.

Também a coordenadora do BE, questionada pelos jornalistas sobre se deixaria a liderança do partido na eventualidade de não conseguir continuar com a bancada ou perder peso no Parlamento, mostrou-se confiante de que vai melhorar os resultados obtidos há um ano.

"Nós precisamos de, neste momento, mobilizar votos", explicou Mariana Mortágua, insistindo na ideia de que este objetivo "significa dar uma mensagem de esperança, apresentar propostas, discutir propostas".

Ainda assim, argumentando que "não faz sentido perguntar a um líder partidário se acha que vai ter um melhor resultado", a líder bloquista optou por destacar o cenário em que melhora os resultados.

"Não, não acho. Não acho que vou ter um pior resultado. Acho que vou ter um melhor resultado, vou trabalhar para isso. Estamos a apresentar propostas, estamos a mobilizar esse voto, estamos a marcar o debate com uma proposta sobre tetos às rendas, que pode baixar o preço da habitação, estamos a fazer uma luta pelos direitos das mulheres que estão em risco com as medidas que a extrema-direita vai avançando, e portanto, sim, achamos que vamos ter mais votos", concluiu.

Paulo Raimundo optou por assumir consequências coletivas para o partido, tanto para as derrotas como para as vitórias.

"Assim como é coletivo todo o trabalho que estamos a desenvolver no país, há muitos meses esta parte, nós afirmámos isso, eu já afirmei isso várias vezes, sem nenhuma dificuldade", lembrou, recuperando os resultados eleitorais de 2024.

"205 mil votos, quatro deputados eleitos. Ora, isso manifestou-se profundamente insuficiente, por um lado, para resistir à política desgraçada que está a gastar o nosso país para problemas de grande dimensão e para acentuar os nossos défices todos, mas também insuficiente para avançar naquilo que é importante, que é nas soluções da vida das pessoas", rematou.

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