Dada a composição do Parlamento, com dois partidos de oposição que, aliados, podem aprovar medidas, o Governo poderia enfrentar aumentos ao orçamento para 2026 e o salário mínimo nacional era uma das alíneas de impacto direto. No entanto, tal como nas pensões, em que o Partido Socialista inviabilizou a proposta do Chega - também o Chega fez o inverso ao PS -, agora as abstenções socialistas impediram que propostas mais ambiciosas fizessem com que o rendimento mínimo fosse alterado. Assim, na quarta-feira ficou fechado o tema em Conselho de Ministros, confirmando-se a subida de 870 para 920 euros, num anúncio feito pelo ministro da Presidência, António Leitão Amaro, que referiu o “acordo tripartido celebrado com os representantes das empresas e dos trabalhadores”, pedindo à UGT que o aumento seja ponte negocial para flexibilizar algumas das exigências da central sindical quanto ao pacote laboral.O Partido Socialista definiu que a meta da estabilidade política é necessária para o país e considerou que a folga orçamental que o Governo diz ser curta é praticamente inexistente, dado acreditar que o executivo coloca em alta métricas de receita que podem não se confirmar. Como tal, existiram conversas entre os grupos parlamentares no sentido da sensibilização de que um aumento maior do salário mínimo, imediato ou faseado, pudesse comprometer as contas. Sabe o DN que o entendimento acontece enquanto José Luís Carneiro continua à espera de respostas as sugestões do PS na Saúde, Habitação e Justiça e quando Governo e PS se situam separados na alteração à lei laboral, que os socialistas recusam fazer aprovar no Parlamento, mas também na Lei da Nacionalidade, que teve alíneas inconstitucionais que o PS, repetidamente, assinalou.As negociações destes dossiês foram feitas com o Chega, ainda assim. E em matéria financeira, o PS considerou irresponsável avançar para um ‘golpe’ ao Governo, preferindo estudar alternativas de receita e canalização de despesa e também a verificação se os fundos do PRR são aplicados da melhor forma. José Luís Carneiro vai manter-se vigilante quanto à promessa do Governo de chegar aos 1100 de salário mínimo até 2029. Pedro Nuno Santos, em campanha eleitoral, prometera a meta dos 1110 euros até 2029, logo existe uma aproximação entre os dois partidos neste tema. “Até tendo em conta as condições de crescimento económico e emprego em máximos”, refere o deputado Miguel Cabrita, assinalando ao DN que a métrica dos 1100 euros do Governo “só pode ser revista acima.” Ainda assim, não deixa de existir crítica: “Enquanto o primeiro ministro faz afirmações absurdas, a prometer subidas mágicas do salário mínimo, o que o governo efetivamente propõe é bem diferente: os contratos a prazo recebem menos 25% a 27% que os contratos permanentes.”No Parlamento, o PS absteve-se nos projetos de resolução de PCP, Bloco de Esquerda, PAN e Livre, todos com votos favoráveis do Chega. O PSD teve o partido de André Ventura a validar o projeto de resolução para a evolução da retribuição mínima e valorização do salário médio, ainda que sem valores concretos para essa mesma fasquia de rendimento.As propostas no Parlamento para o salário mínimoPCP era o mais ambiciosoA proposta do PCP, de aumento de 130 euros em 2026, ou seja chegar aos 1050 euros, era a mais ambiciosa. Estabelecia exatamente os mesmos parâmetros defendidos pela CGTP.Bloco sugeria 1020 eurosO Bloco avançou com a ideia de chegar aos 1020, logo mais 100 euros do que foi o alcançado para 2026. Mariana Mortágua, deputada, considerou ser de justiça para “diminuir as desigualdades sociais.”Livre projeta métrica mais convidativa em 2029O Livre sugeriu o aumento de 95 euros, logo mais 45 do que o Governo consolidou. Ainda assim, reconhecendo as contas apertadas de acordo com o Orçamento do Estado, apontava a um faseamento. Pediu a Montenegro que, mais do que os 1100 apontados em 2029, se pudesse chegar aos 1250 euros nessa data.PAN quantifica aumento do salário médioNo PAN, “o aumento generalizado do custo de vida e a crescente desigualdade salarial” justifica uma subida. Inês de Sousa Real defendeu 25 euros de suplemento anual de melhoria, o que colocaria em 945 euros o valor em 2026, a chegar a 1130 em 2029. Mas o partido enfatizou e quantificou a taxa de crescimento de 5% do salário médio, alínea que recolhe sensibilidade do Governo para garantir o equilíbrio de escalões.Chega pedia 1000 euros até 2026 e 1150 até 2029 Felicidade Vital, deputada do Chega, detalhou ao DN que no “programa eleitoral o Chega defendeu o aumento do salário mínimo para 1000 euros até 2026 e para 1 150 € até 2029. Esta possibilidade aproxima-se, a longo prazo, das propostas do Governo, ainda que 50 euros acima. Mas a curto prazo seria um valor incomportável de acordo com o executivo, ideia acompanhada neste caso pelo PS..PCP leva ao Parlamento discussão para aumentar salário mínimo. Bloco, Livre e PAN acompanham com propostas menos ambiciosas.Governo aprova subida do salário mínimo para 920 euros em 2026.Frente Comum exige aumento dos salários em 15% no mínimo de 150 euros