Quando na terça-feira, 8 de julho, o telefone tocou, Eduardo Barroso estava longe de imaginar o que lhe viria pelo voz de Marques Mendes: um convite para ser mandatário por Lisboa da candidatura presidencial do social-democrata. Marques Mendes sabia já que podia contar com o apoio do médico, personalidade ligada intrinsecamente à família Soares. Mas quis mais. “Como cidadão independente já tinha decidido dar-lhe o meu apoio, não via que precisasse de uma intervenção tão pública. O convite deixou-me surpreendido”, confessa Eduardo Barroso. Pediu um dia para pensar. Quis falar com cinco ou seis amigos, os muito próximos, não para pedir-lhes consentimento, apenas para que não soubessem por terceiros, conta ao DN. Confessa que nenhum deles ficou entusiasmado com a notícia. Mas nem uma vírgula foi colocada. “Todos eles sabem o quanto ando preocupado com o que se passa em Portugal e no mundo, e com este crescimento da extrema-direita, assim como todos eles sabem que gosto de vestir camisolas e de lutar por elas”. Um desses amigos foi, naturalmente, João Soares. Primos direitos, consideram-se irmãos. Declaram-se livres. “O Eduardo está com quem entender. Não me perturba nada saber que é o mandatário de uma candidatura que não é a minha”, diz João Soares ao DN. Ele não hesitou: “Estou com António José Seguro ainda antes do anúncio da candidatura”, diz. Um apoio “firme, convicto e entusiasmado”, porque, refere, “não vejo ninguém no partido mais bem colocado para representar e dar corpo a uma candidatura de esquerda”. Apesar de se afirmar independente, Eduardo Barroso, por laços familiares, mas também razões ideológicas, sempre foi próximo do PS. “Nunca votei no PSD”, avisa. Acontece que na corrida presidencial manda, sobretudo, o perfil dos candidatos. O que o leva a Marques Mendes? “Sou um fundamentalista da competência e da especialização”, diz o médico. “E, por isso, é necessário ter perfil e currículo que se adapte ao cargo de presidente da República. Se bastasse a notoriedade, qualquer figura conhecida estava habilitada. Ora, não está”. Encontra em Marques Mendes o perfil adequado: “Tem cultura política e económica, visão geoestratégica, é um homem de consensos”, enumera. Mais: “Basta dizer que durante os anos em que segui os seus comentários televisivos, raramente estive em desacordo.” De António José Seguro diz: “Com todo o respeito pelo currículo, há dez anos que está em silêncio. Pensei até que tivesse desaparecido voluntariamente para se dedicar a outros assuntos. Há dez anos que não sabia dele. Não sei o que pensa sobre nada. É uma pessoa simpática, mas sem perfil para o cargo e nesta fase não podemos arriscar”. Não quer na presidência “um homem que perante uma derrota desaparece”. De Marques Mendes, contrapõe, “ninguém terá dúvidas em afirmar tratar-se de um democrata genuíno e com experiência política”. Recorrendo à experiência enquanto cirurgião, insiste na ideia de que são necessárias “competência e especialização. Não lhe parece que Sampaio da Nóvoa – “um académico e democrata” – caso este avance, ou Gouveia e Melo tenham o perfil “que se exige.” Ainda sem mandatário por Lisboa, António José Seguro diz não ter pressa. “O nome surgirá quando fizer sentido”, diz ao DN o candidato presidencial.