"Primeiro atacou e agora concorda." Governo diz que Pedro Nuno Santos reconhece erros do PS na política de imigração
António Leitão Amaro, ministro da Presidência, considerou que as declarações de Pedro Nuno Santos sobre imigração, em entrevista ao jornal Expresso, como "uma das maiores mudanças de opinião de um líder da oposição de que há memória em Portugal".
Em causa está a admissão do secretário-geral do Partido Socialista de que "o Estado e o país não se prepararam para a entrada intensa de trabalhadores estrangeiros", naquilo que foi uma crítica aberta ao governo de António Costa, pois assumiu que “o PS não fez tudo bem no que respeita à imigração” e em relação à política de manifestação de interesse considerou ter "efeitos negativos", nomeadamente porque disse ter "um efeito de chamada".
Leitão Amaro aproveitou para sublinhar que o Governo de Luís Montenegro "mudou a política de imigração e, pelos vistos, há cada vez mais pessoas a perceber que era preciso mudar porque a governação do PS deixou decisões e práticas erradas, gerou dificuldades relevantes e, por isso, esta mudança profunda de políticas deste Governo são o caminho correto", acrescentando que espera agora que no futuro "esta mudança se materialize em maior respeito" pela nova política de imigração.
O ministro foi mesmo mais longe nas críticas a Pedro Nuno Santos. "Ainda há semanas o líder do PS atacava o primeiro-ministro por ter mudado a política de imigração em Portugal para regulada e humanista. Agora dá-lhe razão. O líder do PS reconheceu que o seu partido estava errado e que governou de forma muito errada na questão da imigração", sublinhou, considerando agora que o secretário-geral dos socialistas "reconheceu que a nova política do Governo está correta, concordou e aceitou-a por acabar com a porta escancarada da manifestação de interesse, com mais regulação e fiscalização da imigração, mas também com uma integração que tem de funcionar e que tem de ser humanista, feita de direitos e também de deveres", explicando que quem chega a Portugal tem "desde logo, respeitar os valores constitucionais portugueses" e fazer "um esforço de integração na língua, na vida em comunidade, no trabalho e cultura portuguesa".
Questionado sobre as medidas diferentes do Governo que Pedro Nuno Santos disse que ia apresentar, Leitão Amaro disse que "ninguém sabe qual é verdadeiramente o caminho que o Partido Socialista quer" seguir, mas admitiu que "venham a existir discordâncias", mas disse haver algo que é claro: "o primeiro-ministro traçou um rumo e o Partido Socialista depois de atacar, pelos vistos, agora percebeu que o governo está correto."
José Luís Carneiro fala em "pressupostos errados" de Pedro Nuno Santos
As críticas a Pedro Nuno Santos não se ficam pelo Governo, pois no interior do Partido Socialista já surgiu a primeira voz discordante. José Luís Carneiro, antigo ministro da Administração Interna, considerou já esta sexta-feira em declarações à Rádio Renascença, que aquilo que o secretário-geral disse ao Expresso "só pode assentar em pressupostos errados" que tem origem em "informação que conduz a conclusões erradas", sendo que a prova disso mesmo "está nos argumentos que foram consecutivamente apresentados no grupo parlamentar e pelo próprio secretário-geral”, referindo-se à intervenção do líder socialista no debate quinzenal, de dia 15 de janeiro.
Carneiro assume a defesa dos anos de governo de António Costa, dos quais fez parte, nomeadamente em relação à crítica aberta de Pedro Nuno Santos à política de manifestação de interesse, que disse ter "efeitos negativos", nomeadamente porque, sublinhou, "tinha um efeito de chamada". O ex-ministro da Administração Interna rebate essa ideia garantindo que "o efeito de chamada de imigrantes, como mostram todos estudos realizados sobre esta matéria, está no crescimento da economia”.
O antigo ministrou deixou ainda um alerta a Pedro Nuno Santos: "Todas as medidas de repressão da imigração fazem crescer as redes criminais ligadas à imigração."