António José Seguro e Catarina Martins estiveram frente a frente na SIC.
António José Seguro e Catarina Martins estiveram frente a frente na SIC.

Presidenciais. Catarina e Seguro debateram quem é mais à esquerda. E passaram 16 minutos a falar do passado

Confronto televisivo entre Catarina Martins e António José Seguro transformou‑se numa disputa sobre identidade política e memória recente, com muitas acusações mútuas.
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Num debate em que se esperava confronto sobre políticas e prioridades, foram as escolhas do passado que dominaram a primeira parte da discussão, este sábado (6) à noite, na SIC. Tendo ambos passado mais de um quarto de hora a discutir o período da troika, Catarina Martins acusou Seguro de ter negociado acordos que, na sua leitura, aproximaram o antigo líder do PS de opções de direita; António José Seguro respondeu com veemência, negando alianças e defendendo que as suas decisões decorreram de “convicção” e do “interesse nacional”.

A troca de acusações centrou‑se em episódios entre 2012 e 2015: abstenções em orçamentos, negociações com outros partidos e medidas adotadas no contexto do período de assistência financeira. Catarina Martins sustentou que algumas decisões de Seguro prejudicaram direitos sociais e afastaram o PS de uma postura claramente à esquerda. António José Seguro contrapôs que, num momento de crise, a prioridade foi evitar o colapso institucional e garantir coesão: “Entre a partidarite e o interesse nacional eu optei pelo interesse nacional”, afirmou.

Seguro foi mais longe ao criticar a estratégia política defendida por Catarina, acusando‑a de simpatizar com soluções ao estilo do grego Syriza e advertindo para os riscos desse caminho: “O que isso deu foi mais sofrimentos, menos pensões, menos salários e mais sofrimento ao povo grego”, disse, usando a experiência grega como exemplo dos perigos de rupturas radicais.

Escutas, Ministério Público e... plano para as PME

Por fim, foi possível entrar nos casos da atualidade. As escutas do processo Influencer serviu de pretexto para críticas ao funcionamento das instituições, com Catarina Martins a afirmar que a divulgação das escutas fragiliza a figura do Procurador‑Geral da República. Seguro exigiu explicações ao MP e prometeu, caso seja eleito, convocar o PGR a Belém: “O Ministério Público tem de vir explicar o que se passa”, declarou a antiga líder do BE, sublinhando a necessidade de respostas claras sobre o caso e a importância de uma justiça célere e transparente.

Foi nesta altura que surgiram propostas concretas. António José Seguro apresentou um plano nacional para fusões e aquisições de pequenas e médias empresas, defendendo que a consolidação empresarial pode criar estruturas mais robustas, aumentar a competitividade e fixar jovens no país através da criação de postos de trabalho qualificados.

Catarina Martins propôs uma estratégia pública de investimento em inovação e a produção descentralizada de energia solar como exemplo de política industrial capaz de gerar emprego e valor local. No entanto, as propostas tiveram menos tempo de antena do que o confronto sobre a memória política.

Mesmo assim, a insistência em reabrir feridas do passado condicionou a agenda e reduziu o espaço para discutir medidas detalhadas sobre economia, saúde e educação. Ambos os candidatos tentaram, por vezes com sucesso limitado, deslocar a atenção para propostas programáticas, mas a narrativa sobre quem melhor representa a esquerda acabou por dominar a sessão.

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