Debate a meio-gás entre Jorge Pinto e Gouveia e Melo teve "utopias", revisão constitucional e José Sócrates
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Debate a meio-gás entre Jorge Pinto e Gouveia e Melo teve "utopias", revisão constitucional e José Sócrates

O antigo primeiro-ministro foi o tema que mais polémica causou num debate calmo. De resto, a discussão ficou marcada pelas divergências entre ambos - que ainda assim concordaram em alguns temas.
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A irritação estava reservada para o fim, quando José Alberto Carvalho, moderador do debate, questionou Henrique Gouveia e Melo sobre o apoio hoje declarado por José Sócrates, antigo primeiro-ministro. A "pergunta provocatória e deslocada" levou o almirante a exaltar-se e a tentar demarcar-se do principal arguido da Operação Marquês, que "vota em quem entender".

De resto, foi um debate calmo, onde, aqui e ali, se viram ambos os candidatos a concordar, como o caso de uma eventual revisão constitucional feita apenas à direita. Quer Jorge Pinto, quer Gouveia e Melo concordam que tal não seria "desejável", com a atual Constituição da República a "agradar" a ambos.

No entanto, o primeiro ponto de discórdia foi a lei laboral, sobre a qual Gouveia e Melo não se pronunciou diretamente, afirmando não querer "interferir" nas negociações entre sindicatos e Governo. Perante isto, Jorge Pinto foi mais direto e não quis deixar dúvidas de que "se a lei laboral" lhe chegasse, "mereceria o veto político".

Além da lei laboral, também o chamado Rendimento Básico Incondicional (RBI) foi outro dos temas sem consenso entre Henrique Gouveia e Melo e Jorge Pinto. Enquanto o candidato apoiado pelo Livre afirmou claramente que se deve testar, pois só assim "se saberá se funciona", o almirante preferiu ser mais cauteloso, dizendo ter "cuidado com as utopias, talvez por ser mais velho". Jorge Pinto, no entanto, recordou que "em 1974, o SNS parecia uma utopia, tal como a educação de uma população com uma elevada taxa de analfabetismo".

Pelo meio, houve ainda tempo para discutir as "ameaças" à democracia, com Jorge Pinto a considerar que têm cariz "internacional", uma vez que "a extrema-direita influencia os algoritmos" e o conteúdo que se vê. Gouveia e Melo, por seu lado, fez mira ao "radicalismo" aos quais os partidos tradicionais cederam. "Há que fazer uma auto-reflexão", disse o candidato.

O próximo debate presidencial acontece amanhã, pelas 21h00, tem transmissão na RTP, e vai colocar frente a frente António José Seguro e João Cotrim Figueiredo.

Recorde aqui os principais momentos do debate entre Jorge Pinto e Gouveia e Melo:

"De Portugal não se ouviu uma palavra" sobre a proposta de plano da paz para a Ucrânia

Após a irritação de Gouveia e Melo, José Alberto Carvalho esclarece que "se o apoio de Sócrates tivesse sido dado a Jorge Pinto", o candidato seria questionado sobre o assunto.

O candidato presidencial diz que "de modo algum" iria desejar o apoio do antigo primeiro-ministro e recorda que quando militou no PS, se opôs internamente à recandidatura de José Sócrates a secretário-geral do partido.

O debate termina a mencionar, de forma breve, o plano de paz para a Ucrânia, "uma negociação onde a Europa não foi tida nem achada", segundo Jorge Pinto. O deputado do Livre critica ainda a postura do Estado português, dizendo que "não se ouviu uma palavra" seja de Luís Montenegro, primeiro-ministro, ou de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República.

Sócrates é trazido a debate e gera incómodo em Gouveia e Melo 

Após ser mencionada a Operação Marquês e os novos desenvolvimnentos do processo (nomeadamente, a escolha do novo advogado de defesa de José Sócrates), Gouveia e Melo é confrontado com o apoio dado pelo antigo primeiro-ministro e principal arguido deste processo.

O almirante diz não ter "nada a ver" com o voto de José Sócrates, que escolherá "quem entender" para Presidente da República. Incomodado pela pergunta, afirma ainda que considera a questão "provocatória e deslocada do debate". "Dá a sensação de que tenho algum tipo de relação com José Sócrates", remata visivelmente irritado.

Gouveia e Melo não considera "desejável" rever constituição apenas à direita

Fala-se depois na revisão constitucional, processo que podia ser desencadeado agora, uma vez que existe uma maioria parlamentar de dois terços.

Jorge Pinto recorda as palavras de André Ventura, que disse querer terminar com a República. "Percebo que os portugueses estão desiludidos", assume, antes de questionar Gouveia e Melo sobre uma eventual revisão "drástica" feita pela direita parlamentar.

Na resposta, o almirante considera não ser "desejável" rever a Lei Fundamental neste cenário e diz estar "muito contente" com a atual versão do documento.

Jorge Pinto: ameaças à democracia são "internacionais"

Questionado sobre qual considera ser "a maior ameaça" à democracia portuguesa, Henrique Gouveia e Melo refere que existem dois tipos: internas e externas. O almirante apoia ao "ódio" que divide a "sociedade". Refere também que os partidos tradicionais cederam ao radicalismo. "Acho que deve ser feita uma auto-reflexão. (...) Há um extremismo que vem de fora para dentro", considera.

Jorge Pinto concorda, dizendo que as ameaças à democracia são "internacionais", e que "a extrema-direita domina os algoritmos" e que leva "crianças a chegar a casa a cantar canções xenófobas que nunca ouviram em casa". "As ameaças são internacionais", diz.

"Tenho algum cuidado com utopias", diz Gouveia e Melo sobre um eventual Rendimento Básico Incondicional

O moderador, José Alberto Carvalho, aborda agora a tese de doutoramento de Jorge Pinto, publicada em livro, onde é abordada a questão do Rendimento Básico Incondicional (RBI).

O candidato diz ser a favor de se testar esta política pública por ser "um homem dos dados, da ciência". Só aplicando o RBI "se saberá se funciona", argumenta, acrescentando que "desafios novos" exigem "respostas novas".

Henrique Gouveia e Melo tem de novo a palavra, de forma indireta, responde a Jorge Pinto, dizendo ter "algum cuidado com utopias". "Talvez por ser mais velho", sugere, antes de afirmar que "a última utopia foi o marxismo-leninismo e levou milhões para a fome". O candidato apoiado pelo Livre responde que "em 1974, o SNS era uma utopia, tal como a educação de uma população analfabeta". Por issso, "há utopias pelas quais vale a pena lutar".

Jorge Pinto: "Se esta lei laboral chegasse a mim, teria o meu veto político"

Fala agora o candidato apoiado pelo Livre, Jorge Pinto, que começa por recordar os 10 anos da tomada de posse do chamado "Governo da geringonça", que tomou posse faz hoje 10 anos.

Segundo o também deputado pelo partido, esta lei laboral levanta dúvidas do ponto de vista constitucional. Promete dar uma resposta "mais clara" do que Gouveia e Melo e diz de forma perentória: "Se esta lei laboral chegasse a mim, teria o meu veto político."

Abora ainda a desigualdade salarial entre homens e mulheres.

Gouveia e Melo toma novamente a palavra e refere que é necessário "tornar a economia de maior valor acrescentado, para pagar melhores salários". Esta economia deve ter também "coesão social", algo "impossível" de alcançar com a disparidade salarial.

Gouveia e Melo não quer ser "força de bloqueio" e explica silêncio sobre greve geral

O debate começa com o tema da greve geral, horas depois de ser conhecida a posição da UGT em manter a greve geral. Questionado sobre isto, Henrique Gouveia e Melo critica que se "estejam a discutir temas de eleições legislativas".

Explica que o seu papel nas Presidenciais é o de "dar segurança ao país, pela experiência" que tem e garante que não quer ser "força de bloqueio", nem uma "marioneta". Diz que não se tem pronunciado sobre o assunto porque fazê-lo podia "interferir" nas negociações.

Confrontado com o facto de ser o próximo Presidente da República a ter de promulgar ou vetar as mudanças na lei laboral, o almirante diz que "o veto político é excecional".

O candidato é da opinião de que se necessita "flexibilizar a lei do trabalho sem atacar o núcleo mais importante dos direitos de trabalhadores" e diz ser contra o aumento de vínculos a prazo.

Debate arranca com Gouveia e Melo. Jorge Pinto fecha

Boa noite.

O DN vai acompanhar em direto mais um dos debates das presidenciais do próximo ano.

O sorteio ditou que Gouveia e Melo será o primeiro a falar.

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