Patrícia Almeida (Chega): “Temos o melhor parlamentar de sempre, que é genial e um visionário”

Estava à espera de perceber tão cedo, na noite eleitoral, que ia ser deputada?Não estava à espera de que fosse tão cedo. Tenho acompanhado todas as noites eleitorais nas quais o Chega já concorreu e esta foi diferente de todas as outras. Obviamente que, quando saíram as primeiras projeções, tivemos logo ideia de que tudo seria diferente, mas não tinha a perceção de que iria ser tão rápido. Agora, se me pergunta se tive a perceção às oito da noite de que iria ser eleita, tive. As projeções mostravam aquilo que já tínhamos sentido na rua.Qual foi o principal motivo para o Chega conseguir um crescimento a níveis que, até hoje, só tinham sido conseguidos pelo PSD e PS?Ao contrário do que tem sido passado para fora, nomeadamente pela comunicação social e pelos mais diversos comentadores, o Chega não é um partido de soundbites, ou seja, temos apresentado trabalho concreto e vamos ao encontro daquilo que as pessoas necessitam para as suas vidas. E as pessoas sentem que estamos ao lado delas, que trabalhamos para elas e que temos uma dedicação enorme. Até na rua, muitas vezes, éramos abordados no sentido de “vocês disseram aquilo que eu queria que dissessem”, e não raras eram as vezes em que o plenário estava a decorrer, as pessoas ligavam para os nossos gabinetes a dizer: “Está-se a passar isto assim ou isto assado.” E conseguíamos fazê-lo chegar ao plenário na hora. As pessoas sentem isso como uma proximidade.Portanto, trabalho em tempo real.Sim, acho que era isso que faltava. O trabalho de rua feito, até então, era muito pontual e ficava na memória, mas nunca era posto em prática. O que as pessoas sentem com o Chega é que, de facto, pomos em prática aquilo que nos dizem e as suas reclamações. Isso fez-nos criar uma proximidade muito grande, e, às vezes, afetividade com as pessoas. Nesta campanha, especificamente, que foi muito diferente das outras, houve uma grande recetividade e uma grande afetividade. O que é que um grupo parlamentar reforçado, com 60 deputados, pode fazer para contrariar a ideia, defendida pelos vossos adversários políticos, que o Chega continua a ser um partido de um só homem? Isso é sempre dito - e internamente tentamos refutar, mas não passa para fora. Do meu ponto de vista, temos o melhor parlamentar de sempre. Ou seja, temos alguém completamente genial nas suas intervenções, na sua capacidade de raciocínio, e que é um visionário, que, em seis anos, conseguiu criar um partido de raiz. Estou cá desde 2019 e tive oportunidade de acompanhar este crescimento e alguém com capacidade de ver mais à frente. O André está sempre a ver o que vai acontecer mais à frente e as decisões que toma são também com essa visão. Se calhar, por isso, existe tanto a ideia de que é um partido de um homem único. No entanto, quer quando estava sozinho e tinha o seu gabinete, quer com os 12 deputados, quer com os 50, sempre foi alguém que ouviu muito os seus pares e trabalhávamos muito em conjunto. Ou seja, as opiniões e as decisões eram conjuntas. O André resguardou-se muito, e começaram a aparecer novos deputados a ir à televisão, a participar em debates, a dar as suas opiniões, mas pelos vistos não foi suficiente. Ou seja, continua a retórica de que é um partido de um homem só, quando não o é. Não é, de todo, um partido de um homem só. Agora, que temos um homem que é genial, isso é verdade..Rui Cardoso: “Se não quiserem fazer o que o país exige, nas próximas eleições o Chega vencerá” .Tendo em conta o lugar da lista de Lisboa em que foi colocada (9.º), só não seria eleita num cenário de perda de votos. Encarou-o como um voto de confiança? Sem dúvida que foi um voto de confiança do presidente, pois foi ele que decidiu o meu lugar na lista de Lisboa. Foi um enorme voto de confiança, e estava confiante de que teríamos um bom resultado. Como já lhe disse, a rua deu-nos muito essa perceção. Desde 2019, nas primeiras eleições para o Parlamento Europeu, ainda enquanto Coligação Basta, até agora, a diferença é abismal. Mesmo no ano passado não tínhamos tido a recetividade, e volto a reforçar, afetividade de agora. Portanto, a confiança foi crescente à medida que os dias passaram.Com a sua experiência de assessora política, mas também de deputada municipal na Assembleia Municipal de Loures, que mais-valias conta trazer para a bancada parlamentar? Não sei como funciona nos outros grupos parlamentares, mas no do Chega os assessores estão muito envolvidos no trabalho do dia a dia, no trabalho nas comissões e nas preparações do plenário. Portanto, tudo o que vou viver agora não será uma novidade. Já tenho uma experiência consolidada. Na Assembleia Municipal de Loures, que considero uma Assembleia Municipal diferente, pelo que conheço das outras, onde temos um trabalho muito aguerrido e muito intenso, com comissões a funcionarem, com plenários praticamente todas as semanas, ou de 15 em 15 dias, a minha experiência ao nível autárquico é também muito grande. Aliás, na Assembleia da República estava a assessorar a 13.ª Comissão, que é a Comissão Parlamentar de Poder Local e, sem dúvida, a área onde me sinto mais à vontade. Acho que serei uma mais-valia nessa área, se for intenção da liderança parlamentar que esteja afeta à 13.ª Comissão. Mas, obviamente, estou disponível e acredito que trarei experiência a qualquer outra.Que tipo de iniciativas legislativas espera apresentar para defender os interesses daqueles que a elegeram? Dediquei-me muito ao Poder Local nestes três anos, e mesmo no trabalho que desenvolvo a nível partidário estou muito ligada a essa área. Gostava de trazer iniciativas legislativas que se focassem nessa área. Nomeadamente, uma das coisas que acho prioritário alterar é a Lei das Finanças Locais. Gostaria de estar envolvida nesse processo.Encontra motivos para acreditar que esta legislatura será menos conturbada e mais duradoura do que a anterior?Espero que seja. Todos queremos estabilidade, mas principalmente os portugueses querem estabilidade, e obrigação dos políticos corresponderem aos desejos de quem vota em nós. Nós somos os representantes do povo. Se houver essa intenção por parte do PSD e do PS, acredito que sim. Da nossa parte, o presidente André Ventura manifestou essa intenção de haver consensos para que haja estabilidade política. Mas não depende só de nós.A revisão constitucional será um indicador fidedigno de qual é o rumo da maioria da AD? Se pretende um entendimento com o PS ou se quer ouvir os partidos à sua direita? Confesso que ainda não percebi bem o posicionamento da AD, quer na revisão constitucional, quer em relação aos consensos, com a esquerda ou com a direita. Aliás, já tive dificuldade na anterior legislatura em perceber exatamente o que a AD queria. Foram perentórios no “não é não” ao Chega, que lhes correu definitivamente mal. Não percebi qual será o posicionamento em relação à revisão constitucional e a outras matérias. Acho que ainda estão a tentar perceber também o que vão fazer..Início da legislatura “calmo”, com o Chega em “estado de graça” e PS em “renovação”.Uma nova liderança do PS, mais acomodativa em relação à AD, dá liberdade ao Chega para defender políticas muito diferentes?Não vejo isso dessa maneira. Em relação ao PS, se avançar José Luís Carneiro, tendo em conta o que tem sido o seu posicionamento, se calhar, em algumas matérias, haverá entendimento. E gostava de reforçar que não tem a ver com o facto de ser do PS, do PSD ou do Bloco de Esquerda. Tem a ver com as matérias, e com fazerem sentido para aquilo que é a ideologia e o posicionamento do Chega. Se são do PS ou do PSD, para nós sempre foi indiferente. Não só aqui na Assembleia da República, mas também na Assembleia Municipal de Loures - nunca tivemos quaisquer pruridos em votar favoravelmente propostas quer fossem da CDU, do Bloco de Esquerda, do PS ou do PSD. Ou seja, votamos pelas propostas, e não pelos partidos, e não tenho qualquer indicação de que não continuaremos a fazer da mesma maneira.Depreendo que considere que não existe reciprocidade da parte dos outros partidos em relação às propostas de Chega. Não, e temos essa noção aqui na Assembleia da República. Voltando ao Poder Local, no caso de Loures, concretamente, não existe em relação ao PS e ao PSD. Penso que a CDU e o Bloco de Esquerda nunca votaram a favor das propostas que o Chega apresentou - ou se abstiveram ou votaram contra -, e o mesmo se passou aqui na Assembleia da República. No último Orçamento do Estado foi visível que a CDU se absteve sempre nas nossas propostas, algumas delas semelhantes às que tinham apresentado. São questões ideológicas e de estratégia política deles, mas que não é a nossa.Espera que seja uma legislatura em que o grupo parlamentar do Chega esteja mais livre de casos e polémicas?Espero, e fizemos de tudo para que isso acontecesse. Quando digo que fizemos de tudo, eu era mandatária pelo Círculo Eleitoral de Lisboa, e os nossos candidatos deram-nos garantias de que não estariam envolvidos em quaisquer problemas que pudessem causar também problemas ao grupo parlamentar e ao partido. Mas não conseguimos ter garantia total sobre a vida das pessoas. Todos os casos que envolveram o Chega, na última legislatura, foram surpresas absolutas para nós. Nunca conseguimos ter essa garantia, mas tentámos ao máximo garantir que não acontecerá, ou, pelo menos, evitar que pessoas que publicamente soubéssemos que teriam alguma coisa que pudesse melindrar o grupo parlamentar ou o próprio partido não fossem incluídas nas listas em Lisboa. Mas não me recordo que tal tenha acontecido.Como conta fazer o balanço do mandato que agora inicia? Pelo trabalho que vai realizar ou, acima de tudo, pelo resultado eleitoral do Chega nas próximas legislaturas?Espero que seja pelo trabalho que vou realizar. Tenho muita vontade de pôr em prática muita coisa que tínhamos iniciado nas anteriores legislaturas, mas infelizmente, devido aos números que compunham o Parlamento, víamos as nossas propostas automaticamente rejeitadas. Espero que esta legislatura seja diferente e que o nosso trabalho seja avaliado por aquilo que vamos pôr em prática e que vamos fazer diferente, pois temos essa vontade. Nas próximas legislativas, sem modéstias, penso que estaremos à altura de ser o partido mais votado e, em vez de sermos o principal partido da oposição, passaremos a ser Governo.

Patrícia Almeida (Chega): “Temos o melhor parlamentar de sempre, que é genial e um visionário”

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