Sérgio Sousa Pinto: “O PS não pode deixar que o PSD sinta que está nas mãos do Chega”
Que soluções existem para o PS, depois dos resultados de 18 de maio?
Exige-se uma mudança de orientação. De tal forma dramática, tendo em conta o estado em que está o partido, que obriga a uma mudança de protagonistas. Sem essa mudança de protagonistas, o partido não convence ninguém. O PS não pode ficar-se por uma pequena correção de trajetória. Terá de fazer um regresso ao centro-esquerda, aos jovens, à classe média e às classes com maior formação.
Foi esse afastamento do centro que ditou os resultados eleitorais?
O PS escolheu um caminho que o trouxe a esta situação. E agora tem de reverter esse caminho e encontrar-se com a sua história.
Que caminho foi esse?
No plano da conjuntura, devia ter reconhecido a realidade e perceber que não podia ir a eleições nesta altura. Abstido na moção? O PS não podia provocar eleições numa altura em que a discussão andava em torno do prazo de uma comissão de inquérito, ainda por cima um prazo negociável. Fora da conjuntura, o papel do PS na história consiste em dirigir-se a todo o país. A todos os grupos sociais, a todos os grupos etários todos na expectativa de verem as suas vidas melhoradas. Em vez de se ter colocado numa situação de risco real de ‘bloquização’. Basta olhar para as freguesias urbanas do país, nomeadamente as freguesias da classe média de Lisboa. Lumiar, Parque das Nações, Telheiras, freguesias que já foram do PS e que o partido perdeu, nestas eleições, para a AD, demonstração da dificuldade do PS, partido que sempre foi da classe média, em comunicar com a classe média.
"O papel do PS na história consiste em dirigir-se a todo o país. A todos os grupos sociais, a todos os grupos etários todos na expectativa de verem as suas vidas melhoradas. Em vez de se ter colocado numa situação de risco real de ‘bloquização’."
Que nomes poderão avançar para a sucessão?
Antes de mais, temos de saber quem tem vontade e disponibilidade para servir o partido.
José Luís Carneiro teria o seu apoio?
Teria o meu apoio. Mas nesta fase, é também necessário saber-se se é possível congregar o conjunto do partido, gerar uma situação de unidade.
Fernando Medina criaria melhores condições de unidade?
É outra pessoa por quem tenho consideração. Quer um quer outro podem reunir condições.
Está disponível para regressar à vida política ativa?
Não é tempo para se falar disso.
"Quer um [José Luís Carneiro] quer outro [Fernando Medina] podem reunir condições para a liderança do PS."
Com a atual composição parlamentar, determinada sobretudo pela quebra do PS e pelo crescimento do Chega, que rumo deverá ter o partido a curto prazo?
Neste momento, a preocupação do PS é evitar que o PSD sinta que está nas mãos do Chega. E procurar colaborar, de boa-fé, com o PSD, num diálogo construtivo, atendendo, naturalmente, a que são dois partidos com propostas diferentes. O PS tem de deixar o PSD governar porque não pode deixar que o Chega chegue ao governo.
Há quem considere que ter o Chega no governo seria uma vacina para os portugueses.
Nada disso. A extrema-direita tem de ser afastada da governação a todo o custo. Estamos a falar de pessoas que querem destruir o regime. É indispensável que o regime se defenda. O regime tem de revelar-se capaz de encontrar soluções que impeçam um partido de extrema-direita, com um discurso populista e demagógico, chegue à governação. Seria uma tragédia para a democracia, para o país e para as pessoas.
Que cenários traça para as eleições autárquicas?
O PS é o partido autárquico mais forte. Mas, neste momento, tem dificuldade nos grandes centros urbanos, o que merece preocupação. Além disso, sabemos que as autárquicas irão ocorrer em plena dinâmica de vitória da AD. Todos os autarcas socialistas prefeririam chegar às eleições em melhor situação.
"A extrema-direita tem de ser afastada da governação a todo o custo. Estamos a falar de pessoas que querem destruir o regime. É indispensável que o regime se defenda."
Falava de resultados possíveis.
Logo se vê. Este ciclo político foi herdado do anterior. Os resultados serão determinados pela força que o PS ganhou nos últimos anos, mas que pelos vistos não ganhou: perdeu.
A crise no partido atira a escolha de um candidato presidencial para quando?
Não é altura de se pensar nisso.