Mark Rutte deixou esta quarta-feira, 3 de dezembro, clara a resposta da NATO aos comentários ameaçadores feitos no dia anterior por Vladimir Putin de que a Rússia não quer, mas está “pronta para a guerra” com a Europa. “A NATO é uma aliança defensiva. Continuaremos a ser uma aliança defensiva. Mas não se deixem enganar: estamos prontos e dispostos a fazer o que for preciso para proteger os nossos mil milhões de habitantes e garantir a segurança do nosso território”, afirmou o secretário-geral da Aliança após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO.O líder da diplomacia da Polónia, à saída do encontro desta quarta-feira em Bruxelas, também comentou a retórica de Putin, afirmando que “a Rússia está numa posição significativamente mais frágil do que imagina”. “Talvez Putin esteja a ser enganado [para pensar que não é esse o caso], mas, de certa forma, o facto de nos ameaçar é útil, porque concentra aqui a atenção na questão do apoio à Ucrânia”, declarou Radoslaw Sikorski.Em Londres, o porta-voz do primeiro-ministro britânico também abordou o tema, referindo que Keir Starmer na sua intervenção desta quarta-feira no Parlamento “apontou corretamente que se tratava de mais uma retórica do presidente Putin sobre a Europa querer entrar em guerra. É tão perigoso quanto errado”. “As nações europeias estão unidas no apoio ao direito da Ucrânia à autodefesa, de acordo com o direito internacional, e a NATO está pronta para responder a quaisquer ameaças com união e força”, prosseguiu a mesma fonte, citada pelo Guardian. Questionado sobre se o Reino Unido estava preparado para a guerra, o porta-voz de Downing Street afirmou que “as nossas forças armadas estão sempre prontas para defender este país”, sublinhando que “esta é mais uma balela do Kremlin de um presidente que não leva a paz a sério”.Os comentários do presidente russo foram feitos na terça-feira, horas antes do seu encontro com o enviado especial dos Estados Unidos Steve Witkoff e Jared Kushner, genro de Donald Trump, que viajaram até Moscovo para discutir o processo de paz na Ucrânia. Uma reunião à porta fechada que durou várias horas, mas sem grandes resultados.Segundo o Kremlin, esta foi classificada como “produtiva”, mas “não foi alcançado qualquer acordo” sobre os territórios ocupados na Ucrânia. “Ainda não foi escolhida nenhuma solução de compromisso [sobre os territórios], mas algumas propostas americanas podem ser discutidas”, adiantou o conselheiro diplomático russo, Yuri Ushakov.O presidente ucraniano adiantou entretanto que Rustem Umerov, secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, e Andrii Hnatov, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, iriam a Bruxelas informar as autoridades europeias sobre as negociações entre EUA e Rússia de Moscovo e “discutir a componente europeia da arquitetura de segurança necessária”. Sem fornecer mais detalhes, Volodymyr Zelensky adiantou ainda que, após esta visita a Bruxelas, os dois responsáveis ucranianos darão início aos preparativos para novas reuniões com os enviados de Trump nos EUA.A Ucrânia e a ameaça russa foi o tema principal do encontro desta quarta-feira dos líderes da diplomacia dos países da NATO, com Mark Rutte a sublinhar que a Aliança enfrenta “perigos reais e duradouros”, pois além da “guerra brutal” contra Kiev, a “Rússia demonstra também um comportamento cada vez mais imprudente em relação à NATO, como a violação do nosso espaço aéreo, a realização de ataques cibernéticos e o envio de navios espiões para mapear a infraestrutura submarina dos Aliados”. “Estes incidentes realçam a necessidade de vigilância constante. Devemos continuar a responder com força, união e determinação”, reforçou o neerlandês.Neste sentido, os ministros discutiram ontem o plano em curso para um caminho viável de investimento anual de 5% do PIB em defesa. “Isto irá garantir que podemos desenvolver e adquirir as capacidades essenciais para a nossa defesa coletiva, incluindo sistemas de defesa aérea avançados”, notou Rutte. Este valor inclui o apoio a Kiev, tendo Mark Rutte anunciado ontem que mais de dois terços dos Aliados já se comprometeram a participar na compra de armas americanas através da Lista de Requisitos Prioritários da Ucrânia (PURL), com compromissos que totalizam 4 mil milhões de dólares (cerca de 3,4 mil milhões de euros). E revelou que Austrália e Nova Zelândia indicaram que também contribuiriam para as compras, sendo os primeiros países parceiros da NATO a fazê-lo. “Todos queremos que o derramamento de sangue termine, mas enquanto as negociações prosseguem, não podemos vacilar no nosso compromisso com a Ucrânia”, declarou Rutte, elogiando ainda Donald Trump, “a única pessoa no mundo inteiro capaz de quebrar o impasse em relação à guerra na Ucrânia”.Sobre o desenrolar das negociações de paz, o secretário-geral da Aliança disse que estas terão “uma abordagem gradual”, mas não quis tecer comentários que dificultem as conversações, adiantando apenas que mantém contacto regular com os EUA, com quem partilha o objetivo de proteger a soberania da Ucrânia.Rutte foi ainda questionado sobre a utilização de ativos russos congelados para apoiar financeiramente Kiev, referindo que o tema foi abordado “indiretamente” na reunião de ontem.Noutro ponto de Bruxelas, a Comissão Europeia avançou com novidades sobre esta questão, propondo duas soluções para responder às necessidades de financiamento da Ucrânia para 2026-2027: a contração de empréstimos pela UE (que dependeriam da margem de manobra do seu orçamento) e um empréstimo associado a reparações com base em ativos russos congelados, que conta com a oposição da Bélgica. Proposta que será discutida pelos líderes dos 27 no Conselho Europeu de dia 18. “Estamos a propor cobrir dois terços das necessidades de financiamento da Ucrânia para os próximos dois anos. Isto corresponde a 90 mil milhões de euros. O restante ficaria a cargo dos parceiros internacionais”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Bruxelas explicou ainda que poderá avançar com o plano dos ativos russos se 15 dos 27 países membros, representando pelo menos 65% da população da UE, votassem a favor, enquanto que os empréstimos utilizando o orçamento da UE exigem unanimidade, um obstáculo difícil de ultrapassar devido aos vetos da Hungria sobre a Ucrânia..Putin ameaça guerra contra a Europa antes de reunião sobre a paz na Ucrânia.Zelensky estabelece linhas vermelhas em semana de novas negociações de paz