Na ascensão de Mariana Leitão ressurgiu o eurodeputado João
A Iniciativa Liberal tem uma nova presidente, Mariana Leitão. Esse era o final anunciado. E o princípio do novo caminho dos liberais com a política de 42 anos, líder parlamentar, gestora e atleta federada de bridge, arrancou ao som de "In The End" dos Linkin Park, com o refrão "I put my trust in you" como clara mensagem política.
Só que antes da eleição esperada, face a ser a única lista à corrida pela liderança, foi outra a música tocada. Um verdadeiro "Steal the show", um roubo do palco, dos holofotes e da atenção mediática que pudesse existir. João Cotrim Figueiredo, a meio da tarde, ouviu os apoiantes pedirem que avançasse para Belém e deixou uma porta quase escancarada para as próximas Presidenciais minutos depois, galvanizado com um possível regresso a Portugal, apesar de ser eurodeputado.
"Em janeiro vêm as presidenciais, nenhum candidato mobiliza a sociedade, custa ver que a nossa democracia não produza candidatos mobilizadores para a juventude. Não pode ser do sistema, tem de ser um farol, virado para o futuro", declarou no púlpito o eurodeputado. Uma hora depois, conversava com os jornalistas, querendo ser a alternativa, afirmando até que é o seu mediatismo e trabalho ao longo dos anos que garante sucesso ao partido. "A decisão não está tomada. O que decidi é que estou disponível. Agora serão os passos, os contactos que se tornam possíveis e permitem a decisão. Não queria fazer certos contactos sem mostrar a disponibilidade primeiro. Com franqueza, gostava que existissem alternativas [dentro do partido] para assegurar o mesmo tipo de resultados eleitorais, mas neste momento não existem", considerou.
O DN pôde testemunhar o entusiasmo generalizado dos liberais por terem Cotrim na corrida a Belém, mas também a surpresa de todos, desde os novos vice-presidentes a Rodrigo Saraiva, vice-presidente da Assembleia da República. Cotrim diz ter falado com Leitão e que o interesse na candidatura terá "um apoio natural". Não deixou, porém, de surpreender tudo e todos.
O discurso de vitória
No discurso de vitória, Mariana de Leitão agradeceu a Rui Rocha, pediu o fim de "disputas internas" e definiu como meta clara emagrecer o Estado. "Os nossos adversários não estão aqui. Estão no regime instalado. Estão na máquina que eterniza a estagnação. Portugal não vai mudar com remendos. Não vai crescer com mais programas públicos, subsídios temporários ou promessas de boas intenções. Tudo começa com a reforma do Estado. Um Estado que custa demasiado, faz demasiado e faz demasiadas vezes mal. Um Estado que ocupa espaço onde devia apenas servir - que sobrecarrega os contribuintes. Um Estado que vive para si próprio, em vez de estar ao serviço das pessoas. Precisamos de um Estado mais pequeno, mais leve, mais ágil", começou por dizer, cumprindo, exatamente, o que Cotrim lhe dissera no palco horas antes, como um progenitor aconselha a uma jovem imberbe: "Mariana, a prioridade do mandato é a reforma do Estado."
Leitão virou agulhas para o PSD, no qual criticou o "eleitoralismo de Montenegro", com aproximações a políticas de António Costa. "Ainda esta semana, o país teve mais um sinal de que a tão prometida mudança afinal não passou de marketing político. No debate do Estado da Nação, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, reforçou, mais uma vez, que a AD, por si, não será capaz de trazer quaisquer reformas ou mudança para o país. O momento das propostas arrojadas é agora, e até agora, nada se viu. O chamado alívio fiscal vale 4 euros por mês. E depois, não hesita a gastar 400 milhões de euros em despesa extraordinária para efeitos eleitoralistas. A privatização da TAP foi feita à medida do PS de Pedro Nuno Santos, sem que se soubesse ainda a posição do PS. O primeiro-ministro apresentou um conjunto de medidas que parecem retiradas diretamente do caderno de encargos do PS. Subsídios, promessas vagas de investimento público - tudo menos reformas estruturais. Tudo menos coragem política. Isto trata-se de uma cópia do modelo que já era seguido por António Costa. E chegou a hora de Luís Montenegro decidir se quer ser António Costa. São péssimos sinais de um Governo que apenas há um ano dizia que era para mudar", reiterou.
Terminou pouco antes das 21h00 a X Convenção Liberal. Os trabalhos principiaram por volta das 9h00 e a sessão durou 12 horas, com 63 participações de militantes à mesa, sem altercações a registas, apenas discórdias democráticas naturais. Entre as 18 moções passaram 17, mesmo que a mesa tivesse de alertar alguns militantes para a duração de discursos e extensão das críticas. O discurso da nova presidente aconteceu às 20h40, depois de uma aprovação de 73% dos militantes, com 672 boletins de voto recebidos. Rui Rocha ganhou, ainda em 2025, por maquia semelhante frente a Rui Malheiro. Agora, sem rivais, 27% dos militantes preferiram votar em branco. A oposição promete tréguas internas... até às próximas eleições.
A Iniciativa Liberal endereçou a todos os partidos o convite para se fazerem representar na X Convenção Liberal. PS, Bloco de Esquerda e PCP não marcaram presença na ação em Alcobaça. Está claro que a definição ideológica e mais "radical" como Leitão reconheceu afasta a esquerda da IL. Carlos Abreu Amorim, ministro dos Assuntos Parlamentares e habitual presença na negociação de propostas da AD com os liberais, foi um dos políticos na plateia.
João Antunes dos Santos e Célia Freire, deputados do PSD; Rui Paulo Sousa, secretário-geral e deputado do Chega; Filipe Honório e Isabel Faria, membros do Livre, e Telmo Correia, vice-presidente do CDS-PP, representaram as demais forças políticas.