Luís Montenegro e Marcelo Rebelo de Sousa estiveram na inauguração da exposição “Francisco Sá Carneiro e a Construção da Democracia Portuguesa”.
Luís Montenegro e Marcelo Rebelo de Sousa estiveram na inauguração da exposição “Francisco Sá Carneiro e a Construção da Democracia Portuguesa”.FOTO: JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Montenegro afirma liderança do Governo e do PSD como "Sá Carneirista"

Na inauguração da exposição “Francisco Sá Carneiro e a Construção da Democracia Portuguesa”, o primeiro-ministro assumiu que se inspira “muito" nos valores do antigo líder do partido.
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O primeiro-ministro e líder do PSD, Luís Montenegro, afirmou esta quinta-feira, 30 de outubro, que o Governo e a sua liderança são “Sá Carneiristas”, indicando que segue os valores do fundador do PPD, entre os quais o da livre iniciativa.

“Sim, este atual governo, o 25.º Governo Constitucional, é um governo 'Sá Caneirista', sim, a liderança do PSD é uma liderança 'Sá Caneirista' e é 'Sá Caneirista' naquilo que é o âmago, o fundamento, o centro, o coração da nossa alma política”, salientou.

Luís Montenegro discursava na cerimónia de inauguração da exposição “Francisco Sá Carneiro e a Construção da Democracia Portuguesa”, organizada pelo Arquivo Ephemera, que pode ser visitada até 31 de janeiro de 2026, em Lisboa.

O primeiro-ministro referiu que se inspira “muito nos valores fundadores da intervenção política de Sá Carneiro” no seu legado e nos seus valores.

Luís Montenegro admitiu que esta consideração poder ser considerada “provocatória, polémica”, mas mostrou-se "disponível para discutir" a sua posição relativamente a Sá Carneiro "com quer que seja"

“Eu não tenho nenhum problema em dizer que o Governo atual é um Governo 'Sá Carneirista, Sá Carneirista em toda a sua expressão, em todo o seu instinto e em toda a sua forma de compreensão da sociedade portuguesa, de intervenção na sociedade portuguesa, de transformação da sociedade portuguesa, para cumprir o seu fim último, que é a melhoria das condições de vida e do bem-estar de cada pessoa”, explicou.

O líder social-democrata assinalou que as circunstâncias históricas, políticas, a realidade nacional e também internacional, bem como o contexto europeu são “radicalmente diferentes”, mas o atual Governo conta com “o mesmo espírito, com a mesma inspiração”. 

“A inspiração de quem conta com todas as forças da sociedade para criar, gerar mais riqueza, de quem acha que na livre iniciativa das pessoas e das suas instituições nasce a raiz da intervenção social e económica que é geradora de riqueza, de economia, de pujança económica que possibilita ao decisor político prosseguir as políticas sociais que não deixam ninguém para trás e que valorizam a condição individual de cada ser humano, de cada mulher e de cada homem, que atendem àquele que é o desígnio maior de um político, que é dar a cada ser humano uma oportunidade de ele ser aquilo que quer”, sustentou.

“O político que nós vemos em Sá Carneiro e em quem nos inspiramos para hoje traduzir na nossa ação em termos de pensamento é aquele político que não quer obrigar ninguém a ser o que não quer, que não quer impor nada a ninguém, mas quer dar os instrumentos a todos para ser aquilo que querem. E depois cada um é aquilo que quer mediante a utilização que faz dos instrumentos que tem à sua disposição”, defendeu.

Montenegro considerou que essa “é a raiz do pensamento de Sá Carneiro” e a “raiz do pensamento social-democrata à moda portuguesa”, entre o “socialismo e um conservadorismo mais estanque, ali entre o centro-esquerda e o centro-direita, que como Marcelo Rebelo de Sousa tantas vezes invocou e ainda muito antes de ser Presidente da República, como o espaço de intervenção do espetro do PPD-PSD”.

Marcelo diz que Sá Carneiro gostava de “missões impossíveis” e Montenegro também

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que Francisco Sá Carneiro gostava de “missões impossíveis” e comparou-o a Luís Montenegro nesse aspeto.

Discursando na cerimónia, o chefe de Estado referiu que “os grandes teóricos da análise política portuguesa” diziam na altura que o PPD não ia “sobreviver, porque não tinha espaço político para sobreviver”.

Marcelo Rebelo de Sousa, que também esteve presente na fundação do partido, disse que “o PPD era considerado um partido impossível”, mas “quem estava no terreno sabia que era um partido possível, porque era muito diferente”.

O Presidente da República salientou que Francisco Sá Carneiro “gostava das missões impossíveis” e “conquistou a pulso” o espaço do PSD.

“Acho que o primeiro-ministro também gosta”, assinalou.

O Presidente da República aproveitou também para comentar a intervenção anterior, do primeiro-ministro, que considerou que o atual Governo é “Sá Carneirista”.

“O senhor primeiro-ministro aproveitou para naturalmente falar do Governo, da atualidade, da atualidade da mensagem de Sá Carneiro, de como é sucessor qualificado de Sá Carneiro, o que realmente é verdade”, afirmou o chefe de Estado.

Marcelo disse também concordar com Luís Montenegro que, “depois de uma longa governação de outro hemisfério, havia que recriar o partido, e para recriar o partido, a memória de Sá Carneiro é um bom começo”.

O Presidente da República lembrou Francisco Sá Carneiro como um “homem de uma coragem ilimitada”, uma “figura meteórica”, que tinha a capacidade de antecipar acontecimento, e agradeceu-lhe “o ter existido e ter sido como foi”.

“Ele foi uma realidade, uma realidade única e irrepetível. Mais ninguém viveu em tão pouco tempo, tanto na criação da democracia portuguesa. E, por extensão, agradecer, como Presidente da República Portuguesa, ao partido que ele criou, que, tal como o outro partido da matriz originária de partidos, o PS, foram essenciais na criação da democracia”, sublinhou.

O chefe de Estado afirmou também que Sá Carneiro foi “anti-Salazarista” até “ao fim da vida”.

No final, o Presidente da República não quis falar aos jornalistas, e disse apenas que a nova versão da Lei da Nacionalidade ainda não chegou ao Palácio de Belém e está prevista uma reunião “no parlamento, no dia 06 de novembro”, na qual deverá ser fixada a redação final.

Organizada pelo Arquivo Ephemera, a exposição “Francisco Sá Carneiro e a Construção da Democracia Portuguesa (1934-1980)”, pode ser visitada até 31 de janeiro de 2026, em Lisboa.

Também discursando na inauguração da exposição, o curador e responsável pela Arquivo Ephemera, José Pacheco Pereira, realçou o papel o antigo primeiro-ministro na construção da democracia.

“Conhecer a sua obra é vital para os dias de hoje, quando a democracia sofre uma erosão considerável. Se for conhecida a sua obra para além de um retrato pendurado em sedes, ou estátuas nas ruas, Francisco Sá Carneiro serve hoje como exemplo e ensinamento pelo seu combate sempre pela liberdade e democracia”, defendeu.

Pacheco Pereira advogou ainda que “esta exposição é rigorosa no plano histórico, assenta em múltiplos documentos, muitos assinados e manuscritos por Sá Carneiro”.

“Do ponto de vista histórico, não há outro Sá Carneiro diferente do que aqui está”, afirmou.

 Após uma cerimónia com discursos do primeiro-ministro, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do responsável pelo Arquivo Ephemera, José Pacheco Pereira, e do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Paulo Alexandre Sousa, seguiu-se uma visita à exposição.

Estiveram presentes também o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, os presidentes da câmara de Lisboa, Carlos Moedas, do Porto, Rui Moreira, o cardeal Américo Aguiar, o candidato presidencial e antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes ou a secretária de Sá Carneiro, Conceição Monteiro.

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