José Manuel Pureza foi eleito coordenador do Bloco de Esquerda na Convenção Nacional do final do mês de novembro, conseguindo, por larga maioria entre moções, a validação para definir o futuro do partido. No entanto, há uma preocupação que é extensa ao partido: a filiação e a participação na própria Convenção Nacional. Pelo que o DN pôde saber, os cadernos eleitorais tinham uma fasquia a rondar os 10.000 filiados, não tendo sido feita uma grande atualização em relação à Convenção anterior. Contudo, esses números ficaram, depois, muito aquém na participação para a eleição de delegados. Pelo que foi possível saber, 1053 pessoas participaram na nomeação de delegados, fazendo-se a devida representatividade pelo território. Portanto, apenas 10% dos filiados participaram no processo primário, nomeando 609 delegados. Como tal, existiram locais onde apenas um voto determinou a nomeação de um delegado respetivo, indicação da pouca participação generalizada. E mesmo dentro dos 609 delegados, apenas 475 participaram nas votações, com muitos deslocados e sem possibilidade de representar o voto que lhes tinha sido atribuído. Assim, a nomeação da lista para a Mesa Nacional (que não é feita de forma direta) foi feita por menos de 5% dos filiados totais do Bloco de Esquerda e José Manuel Pureza, em concreto, não chegou aos 4% do de votos fazendo contas à totalidade de filiados, já que a Moção A, da anterior e atual Direção, acumulou 384 votos para alcançar 65 mandatos na Mesa Nacional. Os números não são imputáveis a Pureza ou a qualquer outro candidato que pudesse surgir para ser nomeado coordenador, mas representam, sim, um sinal de alarme que cresce no partido, procurando retomar o trabalho com as bases, prometendo democracia interna e maior representatividade nas reuniões principais. Trazer de volta ativos é parte da meta da Direção, porque o ativismo faz também parte da estratégia local e, identificou-se, tem vindo a decrescer no partido. É nesse sentido que a nomeação de Isabel Pires, para o cargo de secretária de organização, ponte no trabalho autárquico, se insere.“Deve merecer a nossa preocupação a questão da votação para os delegados. A participação esteve inferior a outros momentos. Precisamos de perceber qual o grau de atualização dos cadernos eleitorais e a Comissão Política reforça também como a Isabel Pires é do agrado da Moção A e será importante na aproximação às bases. Sabemos que Pureza se pauta pela construção de pontes”, reconheceu ao DN José Soeiro, figura importante do Bloco, que chegou a ser apontado por militantes como possível candidato a coordenador, o que não se consumou. “O pressuposto é que o Bloco vive uma crise profunda e que para resolver essa crise é preciso ir mais longe. Está na hora de se refundar, abrir-se à sociedade e democratizar o funcionamento. Não se pode resumir a alterar caras na direção”, alerta Carlos Carujo, subscritor da Moção H. José Carita, da Moção C, salienta a preocupação. “Os números assustam se tivermos por bitola o número de ainda inscritos que não pagam a quota e que é diretamente proporcional à abstenção nas eleições para a Convenção. A subida da quota para 25 euros nunca foi bem aceite. A isso somamos a desmobilização ou desmoralização, ao ponto de delegados eleitos não terem quotas em dia”, revela, precisando: “Além disso, muitos delegados eleitos não compareceram devido ao esmagamento da [moção] A e indiferença dos demais. A recuperação é prioritária.”Pureza tem identificada a necessidade de recuperar ativos e de fazer aparecer novas figuras nas declarações da própria Mesa Nacional. Sem haver relação direta, ou seja sem transferência direta para o Livre ao que foi possível apurar pelo DN, o Bloco tenta manter os filiados. Em sentido contrário, o partido de Rui Tavares pode terminar 2025 com 4200, mais 1500 do que tinha em janeiro. O PS e o PSD, como o DN noticiou, terão entre 90 e 100 mil filiados, apesar de também não estarem removidos dos números aqueles que não têm quotas em dia."Greve fez país deixar de falar de burcas"José Manuel Pureza associa-se à greve geral e fará visitas à Escola Secundária Marquesa de Alorna, à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e à RTP antes de rumar à manifestação no Rossio às 15h00. O coordenador do Bloco de Esquerda valoriza a ação de protesto. "Estamos perante uma situação de uma greve geral muito importante e que tem já uma vitória muito grande, que é o país deixar de falar de burcas, de manobras de diversão e passou a falar daquilo que é essencial, que são os direitos das pessoas, do trabalho. Ouvimos da parte da UGT essa ideia de que há unidade entre as centrais sindicais, porque ela significa uma vontade muito grande de parar esta agressão ao mundo do trabalho, mas também significa que essa vontade é para durar", considera Pureza, em declarações exclusivas à Lusa.Reitera que não tem "confiança neste governo", pedindo a "pressão da rua". "É importante que se mantenha uma grande mobilização para que o Governo não faça o que nos habituou, de fazer passar as coisas em virtude da arquitetura parlamentar. Acredito que em grande medida o país vai parar para sinalizar ao Governo e às direitas que o que estão a fazer é uma agressão ao mundo do trabalho e aos direitos das pessoas. Só se cederão reivindicações se a pressão se mantiver. Ou seja, não tenho nenhuma confiança neste Governo, a extrema-direita tem-se mantido silenciosa sobre este pacote laboral porque na verdade concorda com o fundo da questão e portanto, se não for a pressão da rua, se não for a pressão dos locais de trabalho, se não for a pressão da opinião pública, podemos ter uma vitória do Governo", declarou, preocupado o novo coordenador do Bloco de Esquerda..Catarina Martins: “Pureza é importante nos diálogos que a esquerda tem de fazer”.José Manuel Pureza: "É preciso outro caminho e esse outro caminho começa com a greve geral de 11 de dezembro"