Daqui a menos de duas semanas, o Bloco de Esquerda reunirá a Convenção Nacional, na qual se elegerão, entre as cinco moções apresentadas, os nomes para a Mesa Nacional e, posteriormente, para a nova coordenação do partido. A Moção A indica José Manuel Pureza como sugestão para coordenador. Marisa Matias, proponente dessa moção, detalha o processo pacífico, considerando o histórico bloquista um nome agregador. “É a melhor opção que temos, não tem apenas uma enorme capacidade de intervenção política, é alguém que tem capacidade de construir alternativas para dentro e fora. É um bom rosto para a transição, foi consensual”, principia a duas vezes candidata presidencial, reconhecendo que, tal como o DN apontou, com José Soeiro como nome falado para o futuro cargo, existiram outras possibilidades. “Falámos muito abertamente de várias alternativas, existiram alternativas, mas houve uma coordenação de fatores: entre a disponibilidade do próprio e o entendimento da Moção A.”Um homem mais experiente, dos tempos da fundação do partido, que se assume como católico. O DN perguntou até que ponto o Bloco procura responder à sociedade que tem preferido votar noutros partidos. Marisa Matias contextualiza. “Nos tempos em que vivemos, com as dificuldades que o Bloco enfrenta, conta alguém com capacidade de diálogo com vários setores. Não há tabu com a idade, Pureza atravessará e debaterá com várias gerações”, detalha, assumindo que o partido “não quer ficar muito tempo nesta situação” e que deseja “recuperar pessoas que estiveram com o Bloco e que podem voltar”. De acordo com Marisa Matias, “não vai haver grande diferença em termos de linha política”, procurar-se-á, sim, “uma nova forma de fazer as coisas, de comunicar e de termos mais democracia interna”. “Estamos alinhados para impedir a proposta da lei laboral e combater as políticas de ódio e individualismo instaladas”, refere.Por isso mesmo, afirma acreditar na capacidade de Pureza para “fazer pontes” e “alargar debates para fora do partido”, uma resposta que indicia o que a moção A entende ser desejável manter: as parcerias à esquerda em várias matérias. “Nunca temos disputas com o Livre”, responde, aquando questionada da necessidade de angariar votos no partido de Rui Tavares e Isabel Mendes Lopes.Marisa Matias diz não pertencer a “qualquer tendência” - no caso entre Esquerda Alternativa e Rede Anticapitalista. Afirma que Pureza, que conhece há 30 anos, “foi a pessoa que me fez a entrevista e escolheu para um emprego em 1997, ainda antes de haver Bloco de Esquerda, também não faz parte de qualquer movimento”, garantindo que “todos foram ouvidos” e que essas mesmas tendências “não são um problema quando há democracia interna.”A dirigente nacional endereça palavras de apreço a Mariana Mortágua. “Teve sempre apoio da Direção. Não a entendo como única responsável. Assumo quota parte. Reconhecemos enorme qualidade na Mariana e a capacidade de coordenadora nunca foi posta em causa. Acho que foi uma decisão generosa a de sair, ninguém colocou essa solução. No entanto, acontecendo, sabemos que era necessário uma mudança mais profunda”, vinca, considerando que o caso da Flotilha Humanitária não prejudicou eleitoralmente: “Sempre apoiámos a questão da Flotilha. Na altura da ida não abria qualquer tipo de interferência com os trabalhos parlamentares. Não foi tão célere a substituição parlamentar porque houve um calendário que se estendeu muito, mas tivemos sempre representantes por todo o país. Nada ficou por fazer.”Por fim, o tema que reúne as principais críticas das quatro moções opositoras: a falta de debate e novas caras no partido. Marisa Matias promete democracia e dá exemplos. “O Bloco nunca teve problema de quadros políticos, tem imensos de várias gerações, mas é um problema, até com a questão parlamentar, ficarmos mais fechados num rosto. Temos obrigação de fazer esse esforço, temos pessoas com imensa qualidade e capacidade de intervenção. Queremos mais pessoas da sociedade, militantes locais e, na proposta que apresentamos à Mesa Nacional, substituímos 40% dos nomes da Direção anterior”, diz, valorizando o “debate rico” e “os contributos que venham de todas as moções.” .Bloco de Esquerda: José Manuel Pureza tem quase consenso na Moção A.José Manuel Pureza confirmado como candidato à liderança do Bloco de Esquerda.Bloco de Esquerda. Marisa Matias confirma que Fabian Figueiredo assume lugar parlamentar."Não a entendo como única responsável. Assumo quota parte. A capacidade de coordenadora nunca foi posta em causa. Sair foi uma decisão generosa, ninguém colocou essa solução"Marisa Matias sobre Mariana Mortágua