Mariana Mortágua pediu a substituição parlamentar por 30 dias, o período mínimo no caso. A coordenadora do Bloco de Esquerda está na Flotilha Humanitária para Gaza desde o final de agosto, quando ainda não existiam trabalhos parlamentares, mas a líder não esperava que existisse um atraso tão grande até à chegada ao destino. Como tal, o partido ficou sem representação política em várias votações em plenário e, sem saber o que possa decorrer do restante trajeto, com o risco associado, houve várias reuniões da Mesa Nacional e foi prioritário ter representação parlamentar. Mariana Mortágua comunica a decisão, tendo em vista garantir que poderá estar na votação para o Orçamento de Estado para 2026, embora perca vários momentos de discussão no Parlamento. Esta quarta-feira, na Assembleia, o Bloco terá a número 3 por Lisboa, Andreia Galvão, a confrontar Luís Montenegro. “Faço-o [o pedido de substituição] mantendo uma presença política forte como deputada eleita, de quem representa muitos portugueses. Mas também quero ter a certeza de que em todas as instâncias da vida política portuguesa o Bloco está representado. E o Bloco estará muito bem representado pela Andreia Galvão”, disse em vídeo Mortágua.Para a convenção marcada para final de novembro, estão cinco moções apresentadas. A primeira reúne várias figuras da atual Mesa Nacional, as mais emblemáticas personalidades do partido. As outras quatro moções tecem críticas à Direção do partido, as quais pedem uma melhor definição política, mas sem questionar, propriamente, a figura de Mortágua. A atualidade levou o DN a questionar as moções em questão, que, em uníssono, não consideram que a presença de Mortágua na Flotilha fosse uma má decisão. “Se tivesse suspendido o mandato não tinha proteção diplomática. Foi com a força de ser deputada da nação. Faz todo o sentido que indo se mantenha deputada. O partido podia ter sido consultado, devia ter sido, mas a Direção não desapareceu”, defendeu Ana Sofia Ligeiro, da moção B, geógrafa e antiga cabeça de lista do Bloco por Santarém, considerando que o pedido de substituição “é ceder à pressão de que o Bloco precisa de palco parlamentar”, criticando o “distanciamento entre a cúpula do partido e a sua base”, o “cheiro pelo poder” e que a “pouca militância ativa” se reflete pela Direção ser eleita por “20% dos militantes” disponíveis. “Temos uma proposta organizativa, não de substituição”, declara Ana Sofia Ligeiro, que não concorda com a liderança unipessoal à frente do partido.O mesmo pensa a moção S. “Mariana Mortágua é coordenadora da Comissão Política do Bloco, propomos eliminar o lugar de coordenadora. Não se irá assinalar um nome para o cargo de coordenador. Agora, questionamos um partido que está paralisado, em que falta democracia”, diz Nuno Pinheiro, historiador e investigador, radicado em Almada, que lamenta que as “coligações com o Livre tenham privilegiado as divisões de lugares e não os princípios políticos”, abordando ainda o pedido de substituição de Mortágua: “É consensual o apoio à causa palestiniana, não vejo problema pela presença na Flotilha. Tem havido é paralisia no Bloco. Isso deve fazer-nos pensar. Neste caso, passou a ser desejável a substituição a ficar como estava.”A moção H, por Carlos Carujo, diz “folgar em saber” que mais pessoas se associam à ideia de se terem de “retirar responsabilidades coletivas”, advogando que o “papel de porta-voz não pode ser centrado numa só pessoa.” Agora editor de multimédia, antigo candidato à Câmara de Sintra e Caldas da Rainha, Carujo defende um “partido mais enraizado socialmente”, que “aprofunde mecanismos de participação”, propondo “rotatividade nos cargos e limitação de mandatos na Direção”, recusando “colocar a política no campo das caras”, ou seja, desvalorizando que a “profunda mudança” precise sempre de uma nova coordenadora. “Esta moção é sobre o futuro do Bloco, não é unipessoal, não se decide a coordenação do partido na Convenção.” Quanto a Gaza, defende Mortágua: “É uma decisão correta de participar nessa missão, estamos a ver um genocídio, qualquer partido de esquerda tem de ser solidário e um deputado não serve apenas para estar no Parlamento. Não se podia prever à partida quanto tempo demoraria esta viagem, houve avarias, ataques à flotilha e era preciso encontrar uma solução.”A moção C, com contributos desde Aveiro, Alter do Chão, Paredes e Lisboa, não corrobora uma mudança tão grande na organização e defende Mortágua, apesar de críticas a outros elementos: “Perdemos, acho que , 300 mil votos. Não me parece que vá mudar muito, mas devia mudar em termos de coordenação. Partido está bem entregue, Mortágua é indiscutível para nós, terá mandato para seguir outro rumo, mas somos contra o pouco diálogo com a base”, advoga José Carita Monteiro, cabeça de lista do Bloco por Portalegre nas últimas Legislativas, que revela que, em relação a Gaza, “no início a moção achou bem, não via inconveniente”, mas que, “com estas sucessivas pressões de alguns partidos e elementos do Bloco”, se começou a questionar uma certa “precipitação”. “Até porque existem eleições autárquicas, fez o que devia fazer”, considera, adiantando que “o Bloco está sem voz no Parlamento” e sem “apoio institucional nas Autárquicas.”Não estão previstas junções entre moções porque todas identificam pontos de contacto com a moção A e oposição também às restantes. Dessa votação derivará a Comissão de Direitos e a Mesa Nacional, a última responsável depois pela definição da Comissão Política..Mariana Mortágua anuncia substituição parlamentar durante 30 dias.Israel avisa flotilha de que não deixará nenhum navio entrar numa "zona de combate"